La Paillote. Sessenta anos fiel aos camarões à provençal. FOTO: Sérgio Castro/Estadão
O serviço de manobrista continua sendo cortesia, uma raridade. O maître João de Deus, por sua vez, segue recebendo os comensais com a tradicional afabilidade. No entanto, observar o restaurante ali, encravado na R. Melo Alves, torna-se ainda mais curioso se repararmos que, quase em frente, está o Le Jazz, seu quase antípoda: agitado, sempre cheio, mais barato e bem mais à vontade na condição de bistrô. Quem frequenta o La Paillote? Aparentemente, os mesmos casais e famílias que se dirigiam ao Ipiranga. E que cumprem a incontornável sequência de couvert, crevettes à la provençale e marjolaine. Na última visita, eu tentei variar. Só que fui desaconselhado a escolher o filet au poivre vert. ?Prefira o linguado com champignons e alcaparras?, recomendou o maître, como quem divide um segredo. E, no fim, acabei pedindo também os camarões, em sua dose executiva (R$ 75), com quatro unidades e uma farta porção de arroz, finalizados à mesa, com a reverência de sempre. Continuo achando seu ponto de cozimento além do gastronomicamente elegante. E considero superestimado o papel da manteiga na construção de sabor do prato. Mas, sejamos justos: existe senso de padrão. O La Paillote, enfim, é rígido. Tanto no zelo pela regularidade da marjolaine (R$ 20), com suas generosas camadas de avelã, amêndoas e chocolate. Como na inflexibilidade de, por exemplo, não servir vinho em taça ? algo que, eu reparei, era solicitado em mesas diferentes. Talvez a casa viva aquele momento em que o passado deixa de ser um trunfo para se tornar um peso. Porém, vale pensar que toda essa história, no fundo, começou com uma concessão à clientela: nos anos 1950, o prato à provençal era feito com rãs; a pedidos, vieram então os camarões?
Por que este restaurante?
Porque é um clássico da cidade.
Vale?
É difícil comer abaixo dos R$ 100 ? a menos que se peça o menu de almoço (R$ 75). Vale como viagem histórica.