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E os clientes do futuro?

Passei recentemente em uma loja de vinhos, uma das grandes da cidade, só para xeretar. O movimento estava mediano, com algumas pessoas bisbilhotando, como eu, outras comprando. Reparei em dois jovens que entraram, olhando vários rótulos, percorrendo gôndolas, meio perdidos. Um deles vestia bermudão. Em nenhum momento algum vendedor se aproximou da dupla para saber se podia ajudá-los. Claro, de todos que estavam ali, eles eram os que menos pareciam ter poder de consumo. Por que perder tempo, então? Os dois foram embora, sem nenhum funcionário ter notado sua presença. Mas será que, até mesmo pela idade, eles não poderiam estar entre os clientes do futuro? Se fossem ouvidos, informados, persuadidos, será que não sairiam com uma garrafinha, a mais barata da loja e, quando fossem mais velhos, integrantes do mercado de trabalho, será que não se transformariam em apreciadores? Mais do que educação, eu diria que faltou visão estratégica. Faltou zelar pelo futuro do vinho. Estou sendo dramático? Outro caso, igualmente verídico, ocorrido menos recentemente. Eu estava num hotel-fazenda com a família, descansando. E, logo depois do almoço, no varandão onde as pessoas tomam café, estava lá um garçom, arrumando as coisas e batendo um papinho com os hóspedes - e ele não tinha a menor idéia de que eu era jornalista da área de comida. O rapaz era do tipo falastrão e começou a contar que foi parar lá para fazer um bico. Ele, na verdade, trabalhava num restaurante em São Paulo - um tradicional, bem conhecido. E, narrando o cotidiano da casa, disse assim, rindo bastante: "Lá, quando o cliente pede vinho de cem reais, a gente fala 'Ih, esse aí é duro'". Eu ri também e fiz algumas observações. Disse que cem reais era bastante dinheiro, sim senhor. E argumentei: "Esse cara do vinho de cem reais, um dia, pode subir na vida, ficar rico. Se ele foi bem atendido, ele vai voltar ao seu restaurante e comprar um vinho de mil reais. Mas se ele foi desprezado, ele não vai voltar nunca mais. Já pensou nisso?" O garçom respondeu que não tinha pensado. "Só estou contando como o pessoal faz, né?" O pessoal, em resumo, poderia pensar na ampliação do mercado de vinho e gastronomia, que depende de dinheiro, mas se alimenta principalmente de cultura. Não precisa recorrer a teorias muito sofisticadas. Basta pensar na lógica dos vendedores de carro nos EUA. O bom profissional sabe que um consumidor, em seu tempo de vida, pode trocar de carro dez, vinte vezes. Mas, para isso, é importante conquistá-lo, desde o momento em que adquire o primeiro automóvel, o mais barato, o mais simples. Se esse cliente for bem atendido, compreendido, respeitado, é muito provável que ele seja fiel por muitos e muitos anos. E, que, com o passar do tempo, sofistique suas escolhas. Portanto, mais atenção, então, com o menino de bermudão e com o cara do vinho de cem reais.

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