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Geopolítica de comer

Creio que foi em 2007. Entrevistando o francês Jean-Luc Naret, diretor do Guia Michelin, ele me disse, claramente, que a terceira estrela para a chef Anne-Sophie Pic era importante para estimular a presença das mulheres no mundo da gastronomia. A comida? Sim, também tinha seu valor, bien sur. O diretor, assim, estava falando quase de uma política de ação afirmativa, com todo respeito à cozinha da chef - herdeira, diga-se, de um restaurante tradicional, que já teve muitos altos e baixos quando conduzido pelo avô e pelo pai de Anne-Sophie. Por analogia, portanto, não é errado refletir também sobre outros critérios do Michelin . Parece que a publicação, aos poucos, quer pintalgar o mapa da França com três estrelas em lugares estratégicos - ou em lugares onde simplesmente não há três estrelas. No ano retrasado, a região de Marselha foi reforçada com a consagração do Petit Nice Passedat.  Já neste ano, segundo foi divulgado ontem, a honraria máxima foi parar em Fontjoncouse, vilarejo do Languedoc: o premiado foi o Auberge du Vieux Puits. Não conheço o restaurante e nem posso discutir os méritos do chef Gilles Goujon. Imagino que ele os tenha, e parabéns para o Vieux Puits. Mas será que, para além da ação afirmativa sutilmente descrita por Naret, podemos pensar também em escolhas geopolíticas por parte do Michelin?

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