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Não me venha com novidades

O restaurante passou por uma significativa reforma e reabriu recentemente. Era natural, portanto, que a pergunta fosse feita ao profissional que me atendia: "E no cardápio, alguma mudança? Tem novidades?". Mas o garçom respondeu, com o maior orgulho: "Não, não, sem novidades. Está tudo igualzinho". E certamente era isso que a maioria da clientela do Senzala (o restaurante, não o bar, na Praça Panamericana) esperava. Que ninguém mexesse nos pratos. Que ninguém tocasse no badejo à belle meunière, no filé à diana, no meio-galeto com creme de milho, no estrogonofe e em coisas assim. Boa parte dos visitantes é tratada pelo nome. Alguns, até abraçam e beijam maîtres e garçons, como acontece em Buenos Aires (já repararam?). Uns outros tantos pedem simplesmente 'aquele', ou 'o especial' (desculpem, eu fico mesmo de olho nas mesas ao redor). Novidade, então, para quê? Já comentei, num texto sobre o Compagnia Marinara, não muito longe dali, que o isolamento geográfico dos restaurantes do Alto de Pinheiros talvez contribua para que esses lugares permaneçam mais ou menos como nos tempos de sua inauguração. Afinal, quase não há concorrência por perto. Os frequentadores, por sua vez, são da vizinhança (avô, pai, filho). Parece não haver a tensão da reciclagem, da superação pelo novo. Como experiência gastronômica, a visita é mais pitoresca do que satisfatória. Trata-se de uma cozinha forte, e as sutilezas são poucas - há muito creme, óleo etc. Já como passeio, como programa urbano, digamos que se trata de uma rápida viagem pelo tempo. E o curioso é pensar o seguinte. No comecinho dos anos 70, quando a casa surgiu, abrir um restaurante por ali (a região da Marginal Pinheiros estava começando a se desenvolver) deve ter sido um ato ousado, uma aposta corajosa. Será então que o Senzala, quase 40 anos atrás, foi algo assim... como uma casa de vanguarda?

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