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No Pasquale, peça o de sempre

Texto publicado no Paladar de 8/4/2010 Quem tentou ir ao Pasquale no último mês reparou que havia um estranho bloco de concreto impedindo a entrada dos clientes. Questão de segurança ou excentricidade do proprietário? Na verdade, o estranho objeto, ainda que remetesse a algumas vertentes mais urbanas da arte contemporânea, foi uma contribuição da Prefeitura. O restaurante foi fechado por falta de alvará, e assim ficou por três semanas. Nos últimos dias, por conta de uma liminar, o bloco foi removido e a casa foi reaberta.  Ao que parece, a normalidade voltou à trattoria. Mas o cuoco Pasquale, sua família e os 50 funcionários, depois do recesso gentilmente proporcionado pelas autoridades municipais, ainda aguardam a liberação da documentação definitiva - o vai-vem sobre o alvará já se arrasta há quatro anos. O fato de a Prefeitura, já sobrecarregada pelos muitos problemas de São Paulo, dedicar tanto tempo (e todo um corpo de peritos e fiscais) a questões ligadas ao funcionamento da casa, deve ser motivo de orgulho para os proprietários.  As novidades, porém, se restringem à reabertura. De resto, nada mudou, seja no menu, na carta de vinhos ou no serviço. Pasquale Nigro, cozinheiro devotado às receitas caseiras da sua Puglia natal, sambista nas horas vagas, tem uma proposta de identidade bem definida desde que abriu as portas, há oito anos, ainda no antigo endereço da R. Cônego Eugênio Leite. Porém, muitas vezes seu trabalho é mal interpretado, tanto para cima, como para baixo.  O Pasquale não é gastronômico, e não tem tal pretensão. No âmbito das massas, a opção sempre foi pela pasta seca de grano duro, industrializada. Só mais recentemente o restaurante tem se aventurado a fazer seus ravióli. Mas os molhos, convenhamos, são decentes, apetitosos, e sem carregações. Se num prato como o fuora serie, com brócolis, pancetta e ricota picante, sente-se falta de mais sabor em especial na verdura (talvez uma falha na hora de salteá-la), louve-se o respeito com o ponto da massa: é sempre al dente. Já na versão do clássico sulista pasta e mollica, com anchova, alho, farofa de pão e catalônia, texturas, salgados e amargos aparecem em equilíbrio, mantendo a rusticidade própria da receita.  Por outro lado, o Pasquale também não é uma cantina, no sentido paulistano do termo. Seus pratos são sabiamente porcionados (inclusive com a opção de meia-dose) e passam longe dos excessos do estilo que fez escola na cidade no século passado. É preciso reconhecer também sua habilidade com os antepastos. Poucos endereços tratam com tanta dedicação conservas, embutidos e afins, quase tudo feito na própria casa. E não seria exagero afirmar que seus jilós, abobrinhas, berinjelas e sopressatas, entre outros, sejam as melhores opções do restaurante - que dispõe até de uma ótima goiabada artesanal para a sobremesa.  Portanto, servindo a casalinga em ambiente de bar, com pratos entre vinte e poucos e trinta reais, dispondo de uma carta de vinhos cuidadosa para uma trattoria sem luxos, eu diria que o Pasquale não engana ninguém. Faz seu trabalho, entrega o que promete. E, desde que reabriu as portas, já voltou a lotar, no almoço e no jantar. Será que é por isso, vendo tanto movimento, que a Prefeitura insiste, periodicamente, em dar umas férias para o restaurante?   Pasquale R. Amália de Noronha, 167, Pinheiros, 3081-0333. 12h/0h (fecha dom.) Cc.: todos Cardápio: cozinha italiana caseira, com bons antepastos e opções de massas (secas) e molhos variados

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