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Tapas, assados, limão

Publicado no Paladar de 3/6/2010 Digamos que, por algum motivo misterioso, esta coluna não pudesse se expressar no formato usual, com todos os seus parágrafos, mas tivesse direito apenas a uma sentença curta, ao estilo do Twitter. E que me restassem no máximo 140 caracteres para explicar o que é o Lorena, 1989. Eu chegaria então a uma síntese assim: "Na nova casa do chef Leo Botto, predomina o gosto da brasa. Tapas, vegetais e carnes com o amargor do tostado e a acidez do limão." Mas por que tanta concisão? Porque me parece que o essencial deste restaurante é a sua mensagem gastronômica direta e descomplicada. O Lorena, 1989, à primeira vista, demonstra afinidades com o que já é feito por restaurantes como o Chou, o Arturito e o próprio La Frontera, onde Botto continua como sócio. Prefere assados e grelhados aos cozidos e fritos (claro que com exceções) e valoriza também os alimentos crus. Mas talvez manipule essa linguagem com mais leveza, propondo uma cozinha pouco intervencionista, tecnicamente bem executada, com inspirações espanholas e argentinas. A casa também está em sintonia com outro movimento em alta na cidade, o da valorização das tapas, e faz isso pelo prisma de culinária de produto, com ênfase nos orgânicos. Mas o que escolher, entre quase 20 itens dedicados ao tapear? O melhor talvez seja provar um pouco das sugestões "da terra", como os pimentões queimados (R$ 6) e os chips de jamón serrano (R$ 16); e das opções "do mar", como o polvo grelhado com cogumelos (R$ 19), o ceviche (R$ 16) e o espeto de polvo, limão siciliano, atum branco e lula (R$ 12). Porém, é preciso observar que as porções são pequenas, compartilháveis no máximo por duas pessoas, exceto talvez pelos vegetais crus (R$ 16, com aspargos, cenouras, vagens e outros legumes frescos e crocantes) em molho de bagna cauda. E eis então como seria minha segunda mensagem no Twitter: "As tapas são muito gostosas, em especial o espeto de polvo e os vegetais crus. Mas contenha a empolgação. A conta pode ficar alta." Os pratos principais, em contrapartida, não são muitos. E o que foi provado estava bom. O peixe do dia na chapa com limão taiti queimado (R$ 44), uma bela posta de dourado, veio à mesa tenra e úmida por dentro. O bife ancho, marinado em ervas e grelhado (R$ 42), estava muito bem churrasqueado, estritamente ao ponto. O nhoque rústico recheado de mussarela (R$ 34), apesar de lembrar o do La Frontera, é mais leve. A paleta de vitelo (R$ 44), assada por horas e servida com maltagliato, por sua vez, também é delicada. O menos entusiasmante foi a milanesa de vitelo (R$ 38): ainda que a capa estivesse crocante, a carne quase não tinha sabor. Entretanto, gostei em especial do tratamento dado às guarnições. As porções de batata-doce assada, batata rústica, batatas fritas e legumes chapeados conseguem ir além da função de coadjuvantes. O Lorena, 1989, contudo, talvez tenha duas identidades. À noite, a atmosfera é de balada, com música bem alta - os demais sócios são também donos do bar Secreto. Já de dia é mais tranquilo. E aí eu concluiria minhas inserções no Twitter: "No jantar, mal dá para conversar, é barulho demais. Se quer dar atenção à comida, vá no almoço. E as mesas lá fora? São para os fumantes." Lorena, 1989 Al. Lorena, 1.989, Jd. Paulista, 3081-2966. 8h/1h (dom., 8h/17h; fecha 2ª). Cc.: A e V. Cardápio: tapas e pratos (frutos do mar e carnes) feitos na brasa.

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