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Um Becco na Consoleta

Publicado no Paladar 11/2/2010 É interessante notar como os restaurantes da Consoleta - um termo lançado há tempos pelo Guia do Estado para definir aquela pequena região entre as Avenidas Angélica e da Consolação, nas imediações do cemitério -, ainda que com suas diferenças, têm alma parecida. À maneira do que acontece na Recoleta portenha, exalam ao mesmo tempo um ar cosmopolita e um quê bairrista. Alimentam uma certa badalação mais relaxada, com muitos clientes que chegam a pé para comer, diferente da atmosfera dos Jardins, mais chamativa, mais motorizada. Se a comparação fosse com a música, seriam lugares camerísticos, não orquestrais, sem grandes salões, sem superproduções. Um microclima que parece envolver tanto um veterano da área, como o Ici Bistrô, quanto este recém-chegado Becco 388. O novo cidadão consoletano, por assim dizer, segue aquela linha urbano-moderna que, no fim das contas, é extremamente identificada com São Paulo (a Consoleta, curiosamente, não atrai restaurantes de comida brasileira; o que não é uma crítica, mas apenas um dado). Os jovens chefs André Barone e Daphne Glidden viveram e trabalharam por anos nos EUA, o que transparece no jeitão algo nova-iorquino desta pequena casa. No Becco 388, contudo, o casal não cozinha junto: ela cuida do salão. No cardápio não muito extenso, com laivos contemporâneos e italianos, existe uma espécie de suave reinterpretação de receitas clássicas, algumas até triviais. Há opções especialmente com carne bovina, algumas massas. Mas o tom geral é de leveza. André Barone, ao que parece, é um chef que prefere as apresentações verticalizadas - os pratos são volumosos, sempre apontando para o alto, ainda que não sejam fartos. E demonstra simpatia pelos empanados. De entrada, tanto o carpaccio (R$ 18), servido com salada de rúcula e ótimos onion rings, quanto o tartar de atum (R$ 28), feito com guacamole, mostraram delicadeza, mas com boa definição de sabores (ainda que faltasse a necessária acidez ao tartar). Entre os pratos provados, o que mais entusiasmou foi o risoto de costela (R$ 31), sem gorduras nem pesos desnecessários, mas valorizando o gosto da carne. Mas foram bons também o filé à milanesa com purê de batata-doce (R$ 32), que ficaria melhor com uma fritura um pouco mais seca; e a polenta mole com ovo, bacon e parmesão (R$ 26), que a meu ver foi mais atrapalhada do que valorizada pelo azeite trufado usado na finalização. O menos interessante dos itens principais acabou sendo justamente o mais vistoso - e mais verticalizado. Servido em camadas empilhadas (cebola, tomate, filé mignon), o stacked chega à mesa atravessado por uma faca, como se fosse um espeto, para que tudo seja desmontado aos poucos. Não funcionou bem: falta liga entre os sabores, sem contar que o tomate, em contato com o filé, esfria a carne. Em relação às sobremesas, a melhor pedida foi o merengue de rosas (R$ 20), doce na medida certa, com creme e pétalas açucaradas da flor (mais uma construção para o alto, dessa vez, creio de uns três andares). De resto, o serviço é cortês, ainda que precise canalizar para a eficiência a energia gasta com o excesso de atenção. Pois a Consoleta tem um refinamento próprio. Mas dispensa excesso de formalidade. Becco 388 R. Mato Grosso, 388, Higienópolis, 2361-0388 (40 lug.) 12h/15h30 e 18h/23h (6.ª e sáb. até 0h30; dom., 12h/17h; fecha 2.ª) Cartões: A, M e V

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