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Variações sobre o variado

Publicado no Paladar de 16/8/2012 Eu não pratico escrita automática. O que publico é refletido, digerido (desculpem o trocadilho). Mas também não ignoro a livre associação nem as primeiras impressões, elas fazem parte da experiência de ir a um restaurante. E estou dizendo isso porque, ao fazer o balanço de minhas visitas ao Beato, duas coisas me ocorrem mais de imediato. O serviço, que é atencioso e cordial; e, por uma questão de conforto, talvez até mesmo de ergonomia, as cadeiras, o que torna inevitável um conselho: prefira as normais, digamos. Não as de espaldar muito baixo, nem as de espaldar quase gigante. Elas até têm um papel na composição do ambiente, mas são desconfortáveis. A comida, no entanto, não aparece nas lembranças mais instantâneas. Embora a cozinha trabalhe direito, sem grandes solavancos. Embora o chef Thiago Miguel, ex-Kaá, respeite pontos de cocção e apresente bem suas receitas. Talvez falte um certo traço de personalidade, um caráter mais marcante. Longe de mim querer pegar o Beato para Cristo (que me perdoem os mais católicos). Mas talvez seja o problema de se destacar atuando numa linha tão em voga na cidade, seguida por tantas novas casas: menu declaradamente variado, levemente italianado, meio contemporâneo, ares moderninhos... O restaurante abriu há quatro meses, numa região cada vez mais efervescente, a Rua dos Pinheiros (e adjacências). Seu cardápio é mais ou menos sucinto; seus preços ficam naquele patamar paulistano de R$ 25 em média para as entradas, R$ 50 para os pratos. E claro que há coisas bem feitas. Gostei do prime rib de porco (R$ 45), servido com risoto de alecrim, o melhor item provado. E, em menor escala, do entrecôte com fritas (R$ 49) e da entrada quinua ao curry (R$ 21). E não consegui perceber direito o sabor (como se os pratos falassem tão baixo a ponto de serem inaudíveis) do bacalhau mantecato (R$ 25) e do peixe do dia com papillote de legumes (R$ 25). Mas vale pensar sobre outras duas sugestões. O tartare de cordeiro (R$ 26), que é bem cortado, vem com fritas decentes, mas, de tão condimentado, perde a característica ovina. E o linguini carbonara (sic, R$ 41), que não tem nada a ver com a famosa receita do Lácio - o que é avisado no cardápio e pelos garçons. A massa vem à mesa envolvida por um molho ralo, curiosamente adocicado, junto com deslocadas polpetinhas. Ambos os pratos me lembram uma frase de um veterano crítico musical, que reconto aqui do meu jeito: o improviso só vale a pena se for muito bom; pois, no geral, ele tende a ser inferior ao tema original. Por outro lado, fiquei satisfeito com as sobremesas: musse de mascarpone, torta de figo (R$ 18 cada) e cocotte belle helene (R$ 20). Neste último caso, um doce servido com bolo de chocolate, inspirado nas peras belle helene - portanto, outra variação de um clássico. Mas, dessa vez, mais bem-sucedida. Por que este restaurante? Porque é uma novidade. Vale? Achei caro para um almoço de semana. No jantar, dependendo das escolhas, pode funcionar melhor. Beato R. dos Pinheiros, 174, 2538-8107, Pinheiros.

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