Luiz Horta
Bimbalham os Sinos
Se o Douro fosse uma ópera, seria algo grandiloquente como Tannhäuser de Wagner, um cenário grandioso, uma vastidão dramática só de pedra e água.
Suba um pouco o tom (e a altitude da paisagem) e dá para ter uma ideia do que é a Romaneira, lá no cume, assistindo ao rio bem de cima, com brumas. Romaneira é a 5ª Sinfonia de Mahler, um desdobramento sem fim de montanhas, de climas, alegre, melancólica e monumental. Acho que, com a imponência dos Andes ao fundo de Mendoza, não há nada parecido no mundo dos vinhedos.
A propriedade é costela da Quinta do Noval. Quando estive lá pertencia ao mesmo grupo francês Axa Millésimes, sob o comando de Christian Seely. Depois, o próprio Seely (que esteve em São Paulo recentemente) comprou a Romaneira com um sócio brasileiro, cujo nome ainda permanece ambíguo. Já ouvi várias pessoas mencionadas; sem confirmação, prefiro não citar nenhuma.
E os vinhos não destoam. Mais jovens e menos famosos que Noval, são mais fáceis de abordar , sem a guarda que os do Noval pedem. Seu parentesco é claro: mesmo enólogo, o talentoso António Agrellos; mesmo tanoeiro (uma figura élfica, com décadas fabricando barricas, arte de domar o carvalho com paciência até que se torne um tronco oco reconstruído para receber o vinho); quase o mesmo terroir e mesmas castas, em corte de Touriga Nacional, 40%, Touriga Franca, 30%, e Tinta Roriz, 30%.
FOTOS: Reprodução
Sino da Romaneira 2008 – Muito Bom
O mais simples da família. Tem todas as características dos Douros de mesa: estrutura, tanicidade, boa acidez e uma doçura apenas imaginada, potência e delicadeza, com um preço inacreditável pelo prazer que proporciona (R$ 75 na Portus Cale, tel.: 3675-5199)
Porto Tawny – Muito Bom
Como o Natal já é um fato, que batam os sinos da Romaneira com um Porto Tawny (R$ 55) com o panetone e o pudim de claras com ovos moles.
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