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Bebida

A arte de ter um diário cervejeiro

Em seis anos de atividade, posso me gabar de já ter avaliado cervejas junto com o Charlie Brown, a turma do desenho (nada infantil) South Park e até com um mosqueteiro corintiano. Calma lá: não se trata de uma sucessão de delirium tremens, mas apenas dos companheiros de papel dos meus blocos de anotação sobre fermentadas, rotina fundamental para degustações “a sério”.

A arte de ter um diário cervejeiroFoto:

Por que é importante tomar notas das cervejas? O primeiro motivo é descrito pelo austríaco Conrad Seidl, autodenominado “papa” da bebida, em seu livro Catecismo da Cerveja. Ele conta que, após ser servido em um bar inglês e sacar o bloquinho do bolso, o garçom imediatamente retirou sua pint dizendo: “Desculpe, isso deveria estar melhor”, e repetiu o serviço. O cuidado demonstrado pelo degustador é capaz, sim, de influenciar o meio em que ele está.

Dilema. Ter um moleskine ou comprar mais cervejas? FOTO: Felipe Rau/Estadão

Em segundo lugar, porque a melhor parte de aprender sobre cervejas está justamente nas “aulas práticas”. Vale se informar sobre o estilo a ser provado com antecedência, para saber que elementos dominarão aroma e sabor. Ou até fazer o contrário, tentando instintivamente identificar notas de malte, lúpulo e levedura e, depois, comparar com o padrão do estilo.

Há diferentes métodos de avaliação, desde os profissionais, como a ficha do Beer Judge Certification Program (BJCP), que dá notas e pesos a aparência, aroma, sabor, sensação de boca e nota geral, a métodos mais simples, que podem ser até o “gostei” ou “não gostei” e por quê.

Eu tenho um método intermediário, dividido em aroma, sabor, cor, espuma e uma nota que vai de um a cinco. Depois de ter avaliado mais de mil cervejas, não uso mais fichas, e sim cadernos em branco – alguns antigos, com as estampas citadas anteriormente, para evitar o desperdício. Às vezes, porém, há tantas fermentadas a serem avaliadas e tantos comentários de produtores a serem anexados que o caderno é insuficiente, e folhas avulsas e até canhotos de notas fiscais são de valiosa ajuda para não interromper os trabalhos.

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Adepto dessa “informalidade”, me chamou a atenção o Diário da Cerveja da Moleskine. Apesar do preço consideravelmente elevado (R$ 99,90, ou o equivalente a algumas boas cervejas), ele tem uma divisão interessante. A primeira seção é a de avaliação – onde os pontos altos são a possibilidade de marcar o copo adequado e uma curiosa “teia” de atributos (como “amargo”, “maltado” e “tostado”) a ser preenchida.

Na sequência, há espaço para o catálogo da “adega” do cervejeiro, receitas harmonizadas com cerveja, lista de endereços de bares com espaço para listar as cervejas disponíveis e suas favoritas e até uma área para anotação de receitas de produções caseiras, com rol de ingredientes, tempo de fervura e outros itens.

Independente da plataforma, porém, uma terceira razão para manter um diário cervejeiro é a “memória fermentada”. Seja para comparar a bebida do dia com outras do mesmo estilo ou, mesmo, para rir das próprias avaliações de iniciante. Faço, porém, uma advertência: resenhe com moderação. Afinal, cerveja também envolve diversão.

>> Veja todos os textos publicados na edição de 8/11/12 do Paladar

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