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Bebida

Em NY, fãs esperam até 11 horas para garantir latinha de IPA

Fãs de cervejas fazem filas nas portas de cervejarias e chegam a esperar na madruga e no frio para garantir a sua latinha de uma nova IPA

Fãs aguardam na fila em frente a cervejaria Other Half no Brooklin para garantir a nova IPA da cervejaria. Foto: Krista Schlueter|The New York TimesFoto: Krista Schlueter|The New York Times

The New York Times

Pouco antes das 11 horas de uma noite de sexta-feira de janeiro, Justin Saurer estacionou numa maltratada rua do Brooklyn que era mais conhecida por seu McDonald’s e pela proximidade do poluído Canal Gowanus, até que a Other Half Brewing Company abriu suas portas no local, em 2014. 

Saurer esperava ansioso pela india pale ale (IPA) especial que a Other Half havia criado para comemorar seu terceiro aniversário – embora as latas só começassem a ser vendidas quando a cervejaria abrisse, às 10 da manhã seguinte. 

Fãs aguardam na fila em frente a cervejaria Other Half no Brooklin para garantir a nova IPA da cervejaria Foto: Krista Schlueter|The New York Times

“Quem chega primeiro não precisa se preocupar com estacionamento”, disse Saurer já no sábado de manhã. O bombeiro de 38 anos, pai de uma filha, veio dirigindo desde Amityville, Long Island, munido de um saco de dormir. “Tive um ótimo sono, sem crianças gritando.” 

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No amanhecer gelado, uma animada fila de centenas de fãs de cerveja serpenteava por vários quarteirões. Entre os “fileiros”, muitos deles bebendo de latas que traziam em coolers, estava Michael Roulhac e a mulher, Kim Roulhac. O casal deixou Richmond, na Virgínia, à 1 daquela madrugada e veio direto para o Brooklyn, em Nova York. “Somos guerreiros da estrada”, afirmou Michael, de 40 anos, que faz visitas regulares à Other Half. 

Cenas como essa ocorrem quase diariamente no país, com devotos (“uma espécie de fraternidade cervejeira”, segundo Saurer) se enfileirando fora das cervejarias à espera de novos lançamentos de IPAs – em especial, uma do estilo New England, opaca, não filtrada, venerada por seu toque cítrico e de frutas tropicais.“Há pessoas fanáticas por ela, a ponto de não beberem outra”, disse Sam Richardson, mestre cervejeiro e fundador da Other Half. “Todos esperam conseguir uma lata de IPA turva diretamente da cervejaria.”

A base de fãs dessas edições especiais de ale vem crescendo desde o início da década de 2010, animando o setor de cervejas artesanais. Mas as filas de espera para cada novo lançamento ficaram tão incômodas que muitos cervejeiros estão adotando medidas para contê-las ou administrá-las. 

A Modern Times Beer, de San Diego, e a Threes Brewing, do Brooklyn, vendem latinhas antecipadamente online e providenciam pontos de entrega de suas cervejas. A Maine Beer Company e a Hoof Hearted Brewing, de Marengo, Ohio, vendem ingressos antecipados para reduzir a multidão. 

A Monkish Brewing Company, de Torrence Califórnia, resistiu por quatro anos à “loucura pale ale”, especializando-se em cervejas inspiradas no estilo belga. Mas no ano passado cedeu à demanda popular e começou a produzir IPAs frutadas, como sua Sip the Juice. 

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Os cervejeiros aguentam o agito porque as filas rendem: vendas diretas eliminam o intermediário e aumentam o lucro, permitindo ao proprietário exercer todo controle. Foto: Krista Schlueter|The New York Times

O dono e cervejeiro da Monkish, Henry Nguyen, esperava que o lançamento fizesse fila, mas não esperava a multidão de mais de 300 entusiastas que se reuniu em seu estacionamento às 3 da madrugada. “Tinha gente acampando”, disse Nguyen. A cada novo lançamento, os fãs começaram a chegar cada vez mais cedo, na véspera, quando a cervejaria estava ainda aberta. “Eles armavam cadeiras, entravam, bebiam e voltavam ao estacionamento para passar a noite. Eram umas 15 horas de espera, às vezes para levar apenas seis latinhas.”

A House Brewing Company, de Monson, Massachusetts, posta tuítes diários sobre as cervejas disponíveis e a quantidade, mas às vezes mantém silêncio para conter um pouco a demanda. A maioria dos pequenos cervejeiros, no fim, prefere vender para um público maior que ver seus estoques engolidos por um punhado de compradores fanáticos.  “Você ralou para fazer uma cerveja, sentiu seu calor no rosto, curtiu a transformação do lúpulo, toda a cervejaria se empolgou – e não dá tempo de mostrar a ninguém”, disse Nate Lanier, fundador e cervejeiro chefe. “É meio decepcionante.”

Já a fila na Tired Hands Brewing Company, de Ardmore, Pensilvânia, caracteriza-se por não ter gente. As hordas deixam cadeiras marcando o lugar e vão beber lá dentro até a venda começar, um arranjo que começou espontaneamente.  “Não encorajamos nem desencorajamos a marcação de lugares”, disse o cervejeiro e dono, Jean Broillet IV, cervejeiro e dono. A cervejaria, porém, proíbe cadeiras antes do meio-dia e controla os entusiastas, que chegaram a 800 no frenesi do lançamento da IPA Milkshake. 

Os cervejeiros aguentam o agito porque as filas rendem: vendas diretas eliminam o intermediário e aumentam o lucro, permitindo ao proprietário exercer todo controle. “Foi a melhor coisa que aconteceu às cervejarias nos 30 anos da revolução das artesanais”, disse Sam Richardson.

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Fãs encaram madrugadas geladas nas filas que chegam a durar até 18 horas Foto: Krista Schlueter|The New York Times

Mas longas filas também podem virar dor de cabeça. Em novembro, a filial da Oskar Blues Brewery de Longmont, Colorado, vendeu diretamente latas da Ten FIDY Imperial Stout envelhecida em barris usados para bourbon. Como a cervejaria se esquecera de estabelecer um limite de latas por pessoa, o estoque desapareceu em pouco mais de duas horas. “Teve gente que gastou US$ 3.200 em cerveja”, disse Chad Melis, diretor de marketing da Oskar Blues. 

Em dezembro, a cervejaria estabeleceu o limite de 12 latas em lançamentos. “Estava fazendo -5° no Colorado, mas mesmo assim havia 400 pessoas lá fora”, disse Melis. “Fizemos uma reunião na véspera e concluímos: “Isso não está certo. Há sérios riscos de saúde”. Os clientes acabaram esperando lá dentro até que a venda começou. 

Uma solução frequentemente sugerida – fazer mais cerveja – é geralmente tida como impraticável. “É o máximo que conseguimos produzir”, disse Nguyen, da Monkish. “Nossa meta não é ser uma cervejaria grande.”

Quando se aproximava a hora do início da venda da Other Half, no Brooklyn, Kevin Weinisch bebericava uma cerveja encostado em seu carro. Weinisch, um engenheiro de tráfego de 36 anos, planejava dirigir mais tarde para casa em Patchogue, Estado de Nova York, para se reunir com os dois filhos. 

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Justin Saurer, o primeiro da fila, estava pronto para comprar suas latas e partir. “Depois de esperar aqui a noite toda, tudo que quero é ir para casa. Estou moído.”

/ TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

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