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Bebida

Nariz em Bordeaux, boca no Mediterrâneo

Com histórias de superação após a guerra civil e relevo que faz lembrar o do Chile, o vinho libanês tem despertado atenção do mundo todo. De olho no mercado brasileiro, produtores promovem degustação hoje em São Paulo

Nariz em Bordeaux, boca no MediterrâneoFoto:

Os produtores do Líbano estão de olho no Brasil e, para mostrar seus vinhos, organizaram uma grande prova, marcada para hoje na casa do cônsul do Líbano em São Paulo. O Paladar provou os vinhos em primeira mão e apresenta a seguir as notas de prova de cada um deles – faltou o vinho ícone do país, o Chateau Musar, importado pela Mistral.

O interesse pelos vinhos libaneses tem sido crescente. E não sem razão. O país ocupa território que foi um dos berços da vitivinicultura da humanidade, mas, por causa de guerras, entre outras complicações que prejudicaram a produção vinícola por muito tempo, ficou fora do mercado. Porém, desde os anos 1990 a produção vem crescendo e se aprimorando: no início da década de 1990, quando terminou a guerra civil, havia apenas quatro vinícolas no Líbano. Hoje, contam-se 45.

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O relevo do país lembra bastante o do Chile. A costa volta-se para o Mediterrâneo e, conforme se avança para o interior do país, existem duas cadeias de montanhas que modulam o clima. O comprido Vale do Beqaa ocupa o espaço entre as cordilheiras do Líbano e Anti-Líbano e é a principal zona de produção de vinhos do país. O clima árido, mas com fácil acesso a água para irrigação (de degelo das montanhas), altitudes entre 800 e 1.200 metros e solo argilo-calcário e aluvial se mostra adequado para as variedades bordalesas, com maior foco na Cabernet Sauvignon, e algumas castas mediterrâneas em que a Syrah é a principal. Em muitos dos vinhos há o complemento da Merlot, Petit Verdot, Cinsault, Grenache e Carignan. A influência da França nos vinhos libaneses é evidente, graças não apenas ao clima, mas ao período em que o país esteve sob influência do governo francês, entre as guerras mundiais.

Os vinhos libaneses mostram caráter único, mas sem assustar os mais conservadores. De forma objetiva, os tintos (que dominam a produção) têm nariz em Bordeaux e boca do Mediterrâneo, algo como o Languedoc. Traduzindo em sensações, os aromas são de frutas vermelhas ou negras bastante maduras, algo de baunilha e especiarias pelo trabalho “bordalês” com as barricas. Na boca, são potentes, com taninos marcantes (o lado “mediterrâneo”) e sem notas herbais. Na degustação provamos os vinhos de dez vinícolas libanesas. Na prova, seis amostras se destacaram, das quais apenas duas ainda não exportadas para o Brasil.

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FOTOS: Daniel Teixeira/Estadão

ATIBAIA 2010 Origem: Batroun Preço: R$ 285, na Zahil Foi o destaque da degustação. A descrição de nariz bordalês com boca mediterrânea o retrata com precisão. No nariz, fruta vermelha e negra cristalizada, pimenta e violeta. Na boca os taninos aparecem com potência e bom polimento. O vinho segue crescendo, mostrando camadas de aromas, com toques de terra, cravo e alcaçuz. O único vinho de Batroun, na costa do Líbano, é um corte de Cabernet Sauvignon (65%), Syrah (30%) e Petit Verdot (5%).

IXSIR GRANDE RESERVE 2009 Origem: Vale do Beqaa Preço: R$ 150, na Grand Cru No nariz, chega a passar a sensação de muito maduro, com geleia de frutas negras e balsâmico. Na boca, taninos finos e textura aveludada. No final, algo de toffee, cravo e baunilha, mas a fruta não perde força. Corte de Cabernet Sauvignon e Syrah, passa 12 meses em barricas francesas. Feito com consultoria do bordalês Hubert de Boüard, proprietário do Château Angélus, em St-Émilion.

CHÂTEAU KSARA 2005 Origem: Vale do Beqaa Preço: R$ 208,90, na Interfood A safra mais antiga do painel prova que tintos libaneses podem melhorar na garrafa. Os taninos amaciados deixam o vinho mais fácil de beber, com aroma de frutas negras doces, tabaco e amêndoa. O vinho é quente (álcool), mas sem agredir.

CHÂTEAU QANAFAR 2011 Origem: Vale do Beqaa Preço: Sem importador Tinto que tem começo, meio e fim coerentes, com taninos potentes e finos e bom frescor para compensar os 14% de álcool. Mescla de Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah passa 12 meses em barricas francesas. No nariz, o vinho tem personalidade internacional, isto é, não tão exótico. Os aromas são de frutas negras e vermelhas bem maduras e limpas, com algo de cedro, baunilha e terra.

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CHÂTEAU OUMSIYAT ‘LE PASSIONÉ’ 2009 Origem: Vale do Beqaa Preço: Sem importador A família Sleiman produz vinhos e arak desde 1950. Mescla de partes iguais de Syrah e Cabernet Sauvignon, tem aromas de frutas negras tostadas. A textura é polida, com taninos finos e intensos casa bem com a acidez é correta. Na boca, permanece o sabor de licor de cereja.

CHÂTEAU KSARA CUVÉE DE PRINTEMPS 2012 Origem: Vale do Beqaa Preço: R$ 71,90, Interfood Proposta mais jovial, descontraída e barata dos tintos libaneses. Frutado e leve, este vinho não passa por madeira e seus aromas são de frutas vermelhas frescas (morango e framboesa). Os taninos são discretos e no final aparece um toque herbal.

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 27/11/2014

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