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Bebida

O remédio que virou drinque

Durante um forte verão peruano no século 17, a condessa de Chinchón estava morrendo. Tinha febre alta e fora desenganada. Um jesuíta prometeu tratá-la com quina quina ou “casca amarga”, um remédio local. A condessa, mulher de um emissário espanhol, se salvou. Quando botânicos foram batizar a árvore, eficaz contra a tal febre, chamaram-na de cinchona em homenagem à condessa. Com essa anedota, o livro The Book of Gin, de Richard Barnett, conta a história da casca da árvore usada no combate à malária. A planta, natural das encostas mais baixas dos Andes, possui alcaloides que agem contra a doença. O mais famoso destes componentes é o quinino.


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A quina chegou à Europa pelas mãos dos jesuítas e aos poucos começou a ser consumida. Foi ministrada a Charles II, da Inglaterra, e a Luís XIV, da França. No começo do século 18, médicos de toda a Europa e até da China já usavam a casca da quina, que adquiriu também importância estratégica: em navios carregados com esse produto, a tripulação tinha mais chances de sobreviver do que em outros.

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Solúvel. Por volta de 1840, soldados e colonos britânicos na Índia consumiam por volta de 700 toneladas de quina por ano. Na mesma época, dois farmacêuticos franceses descobriram uma forma de quinino (alcaloide da quina) solúvel em água. Chamado de sulfato de quinino, rapidamente virou ingrediente comum em tônicos encontrados em colônias britânicas. Entre esses tônicos, o mais bem-sucedido era, de longe, a Água Tônica Indiana.

Poucos anos antes, Jacob Schweppe havia deixado seu trabalho de relojoeiro em Genebra para investir na produção de uma água carbonatada inicialmente vendida como remédio. Segundo Barnett, a Schweppes não foi a primeira marca a adicionar quinino a essa bebida com bolhas. Mas foi responsável por popularizar o produto, vendendo-o a colônias britânicas onde era comum começar o dia com uma dose de quinino.

Ao quinino foram adicionados um pouco de açúcar, para balancear o amargor, e um pouco de ácido cítrico, em forma de suco de limão, que ajudava o quinino a se diluir. Estava feita então a água tônica de quinino – que logo seria somada ao gim para produzir um dos mais famosos coquetéis britânicos, o gim-tônica.

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Concentrado pronto

FOTO: Divulgação 

Nos EUA, é possível comprar o concentrado de tônica pronto. Ele é fabricado por Tom Richter e vendido comercialmentetomrstonic.com). Richter começou a prepará-lo há sete anos, quando era bartender e procurava um sabor de quina mais pronunciado em suas receitas. A bebida fez sucesso entre os clientes, que o convenceram a engarrafar e vender o produto – que hoje pode ser encontrado até em Hong Kong e na Argentina. Richter comercializa o xarope concentrado sob o slogan “a vida é muito curta para beber tônica ruim”. A frase ilustra a ideia de que um bom gim deve ser acompanhado por uma tônica de qualidade. Para fazer seu xarope, Richter diz ter provado mais de 25 amostras de quina de diversas origens. “É possível até reconhecer diferentes terroirs”, diz. A diferença nos melhores produtos, explica Richter, são os aromas herbais e o amargor característico.

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 7/1/2015

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