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O saquê bem além do sushi

A bebida fermentada de arroz também combina com queijo, salada, frutos do mar, carne de porco, comida brasileira…

Se tem uma bebida que eu gostaria muito que as pessoas consumissem mais, essa bebida é o saquê. Ai como é gostoso! Eu e tantos lamentamos por não ter opções de saquê em tudo quanto é lugar, como se fosse um vinho branco ou uma cerveja de trigo.

Há várias razões que impedem o fermentado de arroz de ser muito mais presente na nossa vida. Para começar, é coisa de japonês -- e japonês é um povo um pouco complicado. (Meus olhos puxados me permitem falar com conhecimento de causa.) As importadoras são japas, os sommeliers são japas, os restaurantes que vendem são japas, os nomes são japas… Japonês adora japonês! Mas por que isso, minha gente? Não é só escocês que bebe e vende uísque e nem só restaurante brasileiro tem cachaça na prateleira, não é mesmo? Vamos ampliar os horizontes e sair do nosso mundinho!

  Foto: Jose Patricio|Estadão

As caipirinhas de saquê ajudaram bastante a dar uma difundida na bebida, levaram o saquê para mais lugares, mas não podemos nos animar tanto porque, além dos rótulos nelas utilizados serem bem básicos e não revelarem todo o potencial que esse universo tem, o açúcar e as frutas mascaram muito o seu sabor.

Saquê poderia estar na mesa dos restaurantes, pois é bom pra harmonizar, mesmo com pratos originários de lugares bem longe do Japão. Saquê com queijo, com salada, com frutos do mar, com carne de porco, comida brasileira… Ai que bom será o dia em que difundirem isso. Aliás, no Japão não se consome saquê com sushi, sabia? É arroz com arroz. Muito arroz. Uma boa notícia é saber que o restaurante DOM já trabalha com saquês excelentes em sua carta. Viva ao João Pichetti, sommelier da casa!

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A sutileza da bebida é outro ponto. Saquê é delicado, redondo, explora corpo, aromas, se está mais para o doce ou se é mais para o seco… Os seus limites são menos gritantes, sua gama de sabores não perde para a de um espumante ou vinho do Porto, por exemplo. Claro que há variações e estilos, que são muitos, inclusive, mas a maioria vai parecer sutil para o grande público, que não está acostumado às minúcias da degustação e pode achar tudo muito parecido. É como beber café coado ou café espresso. O coado pode ser muito melhor, complexo, rico. O espresso é uma porrada. Mas, para a maioria, o coado parece aguado. Perceber nuances é muito mais prazeroso, mas é muito mais difícil porque requer mais treino e atenção.  E a linguagem, então? Nem se fala! Cada rótulo complicado...A língua japonesa é muito distante da gente. Os ideogramas, os escritos no rótulo… Ninguém consegue decorar o tipo de saquê que tomou naquele jantar. O nome então, muito menos. Tiramos uma foto do rótulo e olhe lá. Depois, só brincando de jogo dos sete erros em frente à prateleira.  Agora, chegamos ao ponto principal: o preço. É impossível beber muito bem, beber um saquê original japonês, por menos de R$40 uma garrafa de 300ml ou R$80 uma garrafa de 750ml, podendo chegar a R$400, R$700 tranquilamente. Infelizmente, não é igual cerveja que com R$10 já dá pra começar a ser feliz. A sorte é que há venda por dose (em restaurante japonês, é claro). Frete somado ao câmbio e aos impostos deixam elitizada demais a bebida por aqui, custando dez vezes mais do que custaria no Japão. A falta de competitividade também atrapalha. Tem rótulo que não tem nada de excepcional, chega custando uma fortuna mesmo sem valer tudo isso, mas acaba vendendo mesmo assim. A boa notícia é que, mesmo sendo bem pequeno, o mercado, felizmente, vai seguindo, se movimentando por aqui e as novidades continuam a chegar. Quem sabe não é uma chance de tomar coragem, juntar uns amigos pra rachar a garrafa e começar a se enveredar? Provei algumas das novidades com Ana Kanamura, sommelière de saquê, e separamos alguns dos destaques, de diferentes estilos. (Obs: Comprovando a raridade de acesso, essa foi a coluna mais difícil para encontrar sugestões de pontos de venda. Não queria sugerir restaurantes e acabo caindo em duas lojas virtuais principais, algumas lojas na Liberdade... O problema é ligar nas lojas, falar os nomes super facinhos e os atendentes mal conseguirem checar se tem ou não tem. Que dificuldade! Tem mesmo muito chão pela frente.)

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