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Para especialista, elegância pode ser a marca do vinho brasileiro

Em entrevista ao 'Paladar', Master of Wine Peter Richards afirma que as vinícolas brasileiras deveriam se concentrar naquilo que fazem melhor: vinhos elegantes

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Faz dez anos que o inglês Peter Richards experimenta e julga o vinho brasileiro. Master of wine, ele lidera as degustações que avaliam a produção de Brasil, Chile e Uruguai no prêmio concedido anualmente pela revista inglesa Decanter. 

Para ele, as vinícolas brasileiras deveriam centrar suas forças naquilo que sabem fazer melhor: vinhos elegantes, frescos e de corpo médio, com grande potencial gastronômico. Leia a entrevista concedida ao Paladar em visita a São Paulo, onde conduziu uma prova de vinhos premiados.

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Os vinhos brasileiros mudaram muito em dez anos? Quando leio minhas anotações de 2006 e as de hoje, basicamente há as mesmas questões. Os espumantes têm um enorme potencial, mas o Brasil ainda precisa se acertar. Se vai fazer no método charmat, o espumante tem de ser fresco, com pouco álcool e açúcar. A minha maior questão sempre foram os espumantes de método tradicional e isso não mudou. Se a ideia é fazer um espumante de método tradicional, é necessário conseguir os elementos certos: boa acidez, boa estrutura e características de estágio, como notas amanteigadas. Porém, nas degustações, não encontro a acidez que gostaria. Nos espumantes britânicos, que vieram do nada e agora são uma categoria sólida, a acidez é muito alta. Como são feitos pelo método tradicional e foram envelhecidos, isso funciona bem. 

E os vinhos tranquilos? O Brasil sempre produziu vinhos elegantes, sutis. O estilo refrescante, com boa acidez e baixos níveis de álcool, não é novidade no Brasil. E há coisas maravilhosas. Não espero grandes novidades do Brasil. O que espero é que o Brasil dê mais atenção ao que faz bem.

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Pode citar dois rótulos brasileiros marcantes no estilo mais moderno e no mais tradicional?  O Pizzato 99 DNA Merlot é um bom exemplo de vinhos modernos, com fruta bem madura, bastante madeira. Entre os tradicionais, eu destaco o Salton Intenso Cabernet Franc, que tem nota de terra, não é superfrutado e nem amadeirado.

E qual dos dois estilos é mais “brasileiro”? Meu recado aos produtores brasileiros é foquem no que fazem melhor e sejam orgulhosos de sua produção. Gosto do potencial para elegância, dos vinhos gastronômicos e frescos. E é nessa direção que o mercado global está indo. Acho que vamos ver menos dos estilos muito maduros, muito amadeirados. E nem acho que é o que o Brasil faz melhor. Nós temos esses vinhos potentes do Chile, do Uruguai, da Argentina, não precisamos de mais desse tipo. O que o Brasil faz melhor são esses vinhos de médio corpo, extremamente elegantes, quase europeus. Elas podem ser a alma e o coração do Brasil.

Mas é possível afirmar que é assim que o vinho brasileiro é conhecido no exterior? Não, é muito cedo ainda para afirmar isso. Mas há oportunidades para o Brasil. Nós tivemos a Copa do Mundo, nós teremos as Olimpíadas…

Na sua opinião, as pessoas vão procurar mais vinhos brasileiros por causa das Olimpíadas? Não necessariamente, mas é uma oportunidade em potencial para se fazer algum barulho. Veja o exemplo dos espumantes ingleses – foi uma revolução que aconteceu em parte por conta da qualidade, mas também porque os produtores souberam tirar proveito de eventos como as Olimpíadas ou de encontros de líderes de governo realizados no país. Os vinhos conseguiram publicidade grátis nesses momentos. Não são eventos ligados ao vinho, mas são oportunidades de levar sua mensagem para outros lugares. Mas, é claro, tem que ser baseado na qualidade dos vinhos.

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