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Bebida

Uvas de lá, vinhos de cá

Algumas uvas são muito associadas a lugares. Formam duplas como Malbec-Mendoza e Albariño-Galícia. Resolvemos provar Malbec do Chile, Albariño do Uruguai, Alicante Bouschet brasileiro. E foi surpreendente

Uvas de lá, vinhos de cáFoto:

Por Guilherme Velloso e Marcel Miwa

Se você gosta de vinhos e conhece um pouco sobre a bebida, é provável que possa associar, com facilidade, algumas uvas aos lugares que as tornaram famosas. Malbec? Os melhores são da região argentina de Mendoza, é claro. Albariño? São produzidos na Galícia, Espanha. Syrah? Norte do Rhône.

Na hora de escolher, na prateleira de uma loja ou na carta de um restaurante, a região pode ajudar a decidir. O curioso é que em muitos casos as uvas se dão bem – e fazem fama – em lugares bem distantes de sua terra de origem. É o caso da Malbec. Muito apreciada em Bordeaux no século 19, ela provavelmente se originou em Cahors, no sudoeste da França e se espalhou pelo oeste da França até o Loire. Côt seria seu verdadeiro nome, mas ela também é conhecida como Auxerrois.

No entanto, a Malbec só ganhou fama mundial quando foi plantada bem longe de casa, em Mendoza, em fins do século 19. E é lá que produz vinhos apreciados pela boa presença de fruta e pelos taninos sedosos, que viraram padrão de referência para a uva francesa.

Mas será que o Malbec francês nunca vale a pena? E o chileno? Resolvemos investigar da melhor maneira possível: provando. E montamos um painel de degustação batizado de “O que é que eu estou fazendo aqui?”. Quer dizer, vinhos feitos com uvas produzidas fora do lugar onde elas reinam.

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Selecionamos dois brancos e quatro tintos e fomos prová-los no Bardega, em São Paulo. O bar é conhecido pela ampla oferta de vinhos em copo, conservados em máquinas Enomatic. E aproveitamos para convidar o sommelier Aldo Assada, do Bardega, para participar da nossa degustação.

A ideia era medir, antes de mais nada, a tipicidade do vinho. Ou seja, o quanto aquela uva plantada fora de lugar mantém a personalidade geralmente associada a ela. E o quanto ela reflete o terroir, as características específicas do território onde foram cultivadas.

O segundo objetivo da degustação – este de utilidade bem prática – foi avaliar se vale a pena comprar esses vinhos. Ou se é mais negócio investir nos “originais”. Vale apostar num Malbec chileno ou melhor garantir o mendocino?

Sem querer estragar a surpresa – não deixe de ler as notas de degustação para conhecer melhor cada um desses vinhos – vamos logo avisando que os resultados surpreenderam. No fundo, achávamos que poucos desses vinhos “fora de lugar” valeriam a compra.

Mas, a prova apresentou algumas surpresas interessantes. Primeiro, ficou evidente que todos os vinhos – os dois brancos e os quatro tintos avaliados – valem a pena. Não há dúvidas. Cada um com seu estilo e traços particulares, mesmo que não mantenham exatamente as características de seus pares “originais”, justifica abrir a garrafa.

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A segunda conclusão, convida, mais uma vez, a fazer de tudo para evitar o preconceito. Quando o assunto é vinho, a tese que vale é a seguinte: o importante é o que está no copo e vai para a boca. Não no rótulo.

ST-BRIS DOMAINE DES TEMPS PERDUS 2013 – Ótimo Origem: Borgonha, França Preço: R$ 88, na De la Croix (delacroixvinhos.com.br) Sauvignon Blanc na Borgonha? Parece provocação, mas o resultado é empolgante. O clima frio e o solo calcário dão ao vinho uma expressão que parece mais Loire que Novo Mundo. Limão, aspargo e pedra de isqueiro são os principais aromas. Na boca a elegância permanece, com frescor e estrutura delicada.

BOUZA ALBARIÑO 2014 – Ótimo Origem: Canelones, Uruguai Preço: R$ 121, na Decanter (www.decanter.com.br) Pioneiros no cultivo da Albariño no Uruguai, a família Bouza – que veio da Galícia – conseguiu o melhor resultado desta prova: um belo vinho que traz a tipicidade da casta em seu lugar de origem. Às cegas, ele passaria fácil por um branco da Galícia. Os aromas de pêssego, flores brancas, iogurte e ervas são acompanhados de ótimo frescor, leve untuosidade e boa estrutura.

VIU MANENT GRAN RESERVA MALBEC 2012 – Bom Origem: Colchagua, Chile Preço: R$ 80, na Hannover (www.hannovervinhos.com.br) A Viu Manent tem vinhedos centenários de Malbec. Os malbecs chilenos têm expressão menos concentrada. Neste vinho, os típicos aromas de ameixa e violeta aparecem em mediana intensidade, junto de aromas de cereja e terra. O álcool está bem integrado e a madeira aparece de forma sutil no final.

CORTES DE CIMA SYRAH 2012 – Bom Origem: Alentejo, Portugal Preço: R$ 130,70 na Adega Alentejana (www.alentejana.com.br) A Cortes de Cima produz um vinho com Syrah desde antes de a casta ser permitida no Alentejo e sempre defendeu o cultivo das melhores variedades para o terroir alentejano, sendo nativas ou não. O vinho casa o perfil internacional da Syrah (fruta vermelha madura) com o tempero local – notas de especiarias e ervas secas.

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O. FOURNIER URBAN UCO TEMPRANILLO 2012 – Ok Origem: Mendoza, Argentina Preço: R$ 64 na Vinci (www.vinci.com.br) O. Fournier é natural da Espanha e começou seu projeto vinícola em 2000. Dois de seus maiores empreendimentos estão em Mendoza, na Argentina, e em Ribera del Duero, na Espanha. E nas duas tem Tempranillo. Nesta versão mais simples de seus rótulos produzidos na Argentina, os aromas são de frutas negras muito maduras (amora e cereja) e algo de bauniha.

PIZZATO ALICANTE BOUSCHET RESERVA 2008 – Ok Origem: Vale dos Vinhedos, Brasil Preço: R$ 56 no Emporium São Paulo (www.emporiumsaopaulo.com.br) Nesta versão gaúcha, a casta alentejana tem nariz inicialmente dominado pelos aromas da barrica de carvalho: baunilha, chocolate e café. Depois aparece fruta negra madura, chá preto e ervas. Na boca, taninos potentes, alcool bem integrado e bom frescor. Para quem gosta de Tannat.

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 16/4/2015

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