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Vega tem 3º enólogo em 20 anos

Por Guilherme Velloso

Vega tem 3º enólogo em 20 anosFoto:

A visita ao Brasil, semana passada, de Pablo Alvares, presidente do conselho e um dos proprietários da Vega Sicilia, foi precedida de um anúncio que surpreendeu o mundo do vinho. No final de agosto, Alvarez anunciou a saída de Javier Ausàs, diretor-técnico (enólogo-chefe) da lendária vinícola espanhola e das outras quatro que hoje integram o portfolio da holding Tempos Vega Sicilia: Alión, vizinha da Vega em Ribera del Duero; Pintia, em Toro; Macán, um projeto conjunto com o grupo Benjamin de Rothschild na Rioja; e Oremus, em Tokaj, na Hungria. Afinal, é mais fácil uma grande empresa trocar seu principal executivo do que uma vinícola tradicional mudar seu enólogo-chefe e não é raro esses profissionais se aposentarem no cargo.

Para muitos, a saída de Ausàs, que ocupava a posição desde 1998, estaria ligada a um fato ocorrido há mais de um ano. Em abril de 2014, uma carta enviada pelo mesmo Alvarez aos principais clientes da empresa informava a decisão de substituir aproximadamente 100 mil garrafas da safra 2009 do Pintia. Junto veio o anúncio que o grupo não lançaria ao mercado a safra 2010 do Alión, vinho que nasceu em 1992 para ser uma espécie de versão moderna do Vega. A razão apresentada para as duas decisões foi a mesma: os vinhos apresentavam excesso de sedimentos. causado por um “erro no processo de clarificação”. Embora afetasse apenas o aspecto visual e não sua qualidade, o grupo considerou que o problema não era compatível com o prestígio e imagem da marca. Estima-se que a decisão tenha representado prejuízo superior a sete milhões de euros.

FOTOS: Divulgação

Alvarez nega que a saída de Ausàs tenha relação com os problemas do ano passado.. “Oficialmente não foi isso”, disse ele ao Paladar, acrescentando que “houve um acordo para terminar a relação”. E fez questão de alfinetar o antecessor de Ausàs no cargo, Mariano Garcia, que trabalhou por trinta anos na Vega Sicilia, até 1998, quase a metade dos quais como seu principal enólogo. “Mariano foi demitido, porque não foi leal” (até hoje, não se sabe ao certo as razões porque ainda existem processos em curso, mas estariam relacionadas aos projetos pessoais de Garcia, que criou as Bodegas Mauro, em 1980, e Aalto, em 1999). “Com Javier, foi diferente”, resumiu Alvarez. “Ele cumpriu um ciclo”. Gonzalo Iturriaga de Juan, 37 anos, assumiu o cargo.

Fofocas enológicas à parte, Alvarez apresentou vinhos dos cinco projetos em degustações e jantares especiais no Brasil. Para começar o Mandolás 2011, vinho branco seco feito com a Furmint, principal uva que produz os famosos Tokaji doces,que pode ser considerado boa opção a muitos Chardonnay. E para fechar um estupendo Tokaji Aszú 5 Puttonyos 2005, uma aula de equilíbrio entre doçura e acidez que dispensa maiores comentários.

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A maior expectativa, no entanto, era em relação ao Macán, projeto iniciado há 13 anos que só deu frutos em 2009, a primeira safra comercializada.

Para concretizá-lo, foram compradas mais de 150 parcelas totalizando 85 hectares de antigos (mais de 30 anos) vinhedos de Tempranillo na Rioja. A maior parcela, como informa Alvarez, com 10 hectares, mas algumas com menos de um hectare. Segundo ele, o ambicioso objetivo do projeto é fazer vinhos a meio caminho entre tradição e modernidade, ou seja, “nem o tradicional, com muita presença de madeira, nem os muito modernos, excessivamente internacionais (leia-se demasiadamente frutados), que poderiam ser feitos em outros lugares”.

Os dois vinhos apresentados, os únicos produzidos atualmente, mostram que o projeto segue na direção almejada. São vinhos com muita expressão de fruta, até por serem ainda jovens (2010), mas elegantes e sem excesso de madeira. Como tem o mesmo DNA, a diferença entre eles é maior no preço do que na garrafa. O Macán Clásico está mais pronto para beber; o Macán, que, por enquanto, é uma seleção de barricas e não de vinhedos, é um pouco mais encorpado do que o Clásico e certamente tem a ganhar com mais dois ou três anos de garrafa. Macán, Pintia e Alión, como Alvarez fez questão de ressaltar, são diferentes expressões da mesma uva, a Tempranillo. E essa diferença fica mais evidente na comparação entre os dois últimos. O Pintia 2008 é um vinho potente, encorpado e alcoólico (15%), com taninos ligeiramente rústicos. Já o Alión 2011, mais jovem, é potente, mas redondo e macio em boca, com menor presença de álcool (14,5%).

Vega Sicilia “Unico” Gran Reserva 2004 e Valbueña “5º” 2009, os dois vinhos com o nome da vinícola (há um terceiro, o Reserva Especial, que é um blend de safras) não são propriamente o primeiro vinho e o segundo vinho ainda que ambos tenham como base a Tempranillo (80 a 85%, dependendo da safra). No Vega, o corte é basicamente complementado com Cabernet Sauvignon; no Valbueña, com Merlot. A proposta também é diferente, como ficou claro na degustação. O Valbuenã é um vinho elegante, de corpo médio, com ótima acidez e frescor, pronto para beber. Embora também já possa ser bebido com muito prazer, o Vega foi feito para durar Ele oferece uma palheta aromática muito rica que tende a tornar-se ainda mais complexa com a evolução em garrafa. Na boca, é potente, mas muito elegante, com mais corpo e estrutura do que seu irmão mais moço.

Considerando-se que 2004 foi considerada uma safra praticamente perfeita para o vinho, espera-se que o “Unico” continue a evoluir pelos próximos vinte anos. Difícil será esperar tanto tempo, depois de desembolsar quase mil dólares por uma única garrafa…

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Os vinhos e seus preços:

Tokaji Furmint Mandolás 2011 (US$ 49,90) Macán Clásico 2010 (US$ 109,50) Macán 2010 (US$ 199,50) Pintia 2008 (US$ 123,65) Alión 2011 (US$ 165,41) Valbuenã “5º” 2009 (US$ 376,34) Vega Sicilia “Unico” 2004 (US$ 957,00) Tokaji Aszú 5 Puttonyos 2005 (US$ 155,90) * * garrafa de 500 ml. Todos os vinhos são importados pela Mistral. A cotação em dólares é convertida em reais ao câmbio do dia

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