A vinícola Guaspari parece andar na tênue linha que separa a ousadia da loucura, a começar por sua locação: quem poderia imaginar uma vinícola butique no interior de São Paulo, na região cafeeira de Espírito Santo do Pinhal? E o negócio deu certo. Agora, os produtores inventaram de estagiar seus vinhos em barricas de madeira brasileira.
Quem revelou o plano foi o enólogo-chefe da casa, o americano Gustavo González, durante a apresentação da Vale da Pedra, nova linha da vinícola, dedicada a rótulos jovens. Ele disse que vai trazer tanoeiros da empresa francesa Taransaud para testar diferentes espécies e encontrar a madeira ideal para a barrica brasileira.
Ainda maturados da forma convencional, em carvalho e tanques de inox, há dois novos vinhos. O primeiro é um Syrah, que chega ao mercado com 25 mil garrafas ao preço de R$ 75. O segundo vinho é um branco, nesta primeira safra será um Sauvignon Blanc que ainda está nos tanques – a previsão é de que chegue às lojas em julho.
Em comparação aos outros vinhos da Guaspari, o Vale da Pedra Syrah 2015 é menos concentrado, passa menos tempo em barrica (de 6 a 8 meses). Ele é elaborado com uvas de vinhedos mais jovens, de quatro a cinco anos, colhidas cedo, com a casca ainda verde.
A ideia é controlar o teor alcoólico do Syrah, que fica a 14%. Por outro lado, o vinho ganha uma expressão “verde”.
Outras novidades vêm aí até o fim do ano, como um varietal de Petit Verdot. González está testando cepas e avalia um corte com as uvas clássicas de Bordeaux. Também estuda novas maneiras de armazenar seus vinhos, como ovos de cimento.
Há 13 anos no Brasil, o americano passou por casas como a californiana Robert Mondavi e um projeto próprio no Napa Valley, onde faz os vinhos Mira.
Fã de Jorge Ben, o enólogo é especialista em produzir vinhos em lugares improváveis: além do interior paulista, ele faz vinhos para a Hacienda La Lomita no Vale de Guadalupe, no México. “Não gosto de me sentir entediado”, conta.