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Comida

1ª ceia de Natal só teve salada, peixe seco e pão

A despeito da controvérsia sobre o dia e o ano em que Jesus veio ao mundo – tudo indica que não foi em 25 de dezembro, data instituída no século 4º pelo papa Júlio I para ofuscar uma festa pagã –, qual teria sido a refeição de Maria e José no Natal de Belém 2 mil anos atrás? Obviamente, a resposta envolve imaginação, pois no Novo Testamento não há referências. Escudados em comentários bíblicos, documentos sobre a história da alimentação e estudos arqueológicos, os pesquisadores Naomi Goodman, Robert Marcus e Susan Woolhandler reconstituíram a mesa no Oriente Médio de então no livro The Good Book Cookbook (Fleming H. Revell Co, Nova York, 1986). Segundo eles, na ceia do dia do nascimento de Jesus o que se poderia imaginar seria uma refeição simples, como uma salada de salsão com azeitona e passas; ou um peixe seco e frito, temperado com cominho. Claro, e também um pão, feito com farinha integral.

1ª ceia de Natal só teve salada, peixe seco e pãoFoto:

Na Palestina histórica – região situada entre a costa oriental do Mediterrâneo e as atuais fronteiras ocidentais do Iraque e Arábia Saudita – a população tinha uma cozinha saudável influenciada por vários povos. Comia-se agrião, aspargo, alcachofra, alho-poró, beterraba, brócolis, cebola, couve, erva-doce, espinafre, gengibre, pepino, repolho, salsão; os pratos eram temperados com sal, alho, cominho, alecrim, gergelim e aneto; comia-se trigo e cevada; as frutas frescas e secas, ou seja, ameixa, maçã, figo, tâmara e noz, serviam de base para molhos e sobremesas; apreciavam-se o leite e derivados, mel e azeitona; o peixe substituía a carne vermelha no dia a dia, reservada para ocasiões especiais.

FOTO: Felipe Rau/Estadão

São Lucas (2:7) explica que o fundador do cristianismo veio à luz em Belém, dentro de um estábulo “porque não havia lugar na estalagem”. Naquele momento, a família se encontrava em situação de pobreza. Em Nazaré, porém, onde Maria e José viveram antes e depois do nascimento do filho, o pai adotivo de Jesus ganhava a vida como carpinteiro, uma profissão que exigia capacidade de calcular, domínio de instrumentos, treinamento, e desfrutava de prestígio social.

São Mateus (2:11) diz que o Menino recebeu incenso, mirra e ouro, ou seja, uma razoável quantia de bens, presenteada pelos magos que foram visitá-lo em Belém, talvez dois ou três meses depois de nascer. Os presentes teriam custeado as despesas da fuga da família para o Egito, escapando do decreto de Herodes. O rei mandara assassinar todos os meninos com menos de 2 anos de idade encontrados em Belém e arredores por temer que o bebê de Maria e José viesse a ameaçar seu trono.

Assim, em seu primeiro aniversário, Jesus estava com os pais no Egito, país no qual a arte culinária tinha sido aperfeiçoada para os faraós. O solo do país produzia alimentos à vontade. Há evidências de que os egípcios descobriram as leveduras e aprenderam a aplicá-las na preparação do pão e da cerveja. Pinturas nas tumbas dos faraós documentariam isso. Por que não supor, então, que a sagrada família celebrou com especial gratidão, naquele Natal, o fato de Deus tê-los livrado da perseguição de Herodes, saboreando um pão temperado com especiarias exóticas ou recheado com figo em passa?

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RECEITA: + Peixe frito com cominho

>> Veja a íntegra da edição do Paladar de 19/12/2013

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