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Comida

A fome de Neide

A fome de NeideFoto:

Quando a equipe do Paladar decidiu fazer uma capa sobre conservas, nossa editora, a Patrícia Ferraz, lembrou de uma matéria superbacana sobre o assunto publicada na revista americana Saveur.

Mandamos um e-mail para o editor da revista, o James Oseland, e no mesmo dia ele nos enviou o contato da escritora especialista em conserva. Respodemos gratos pela atenção e rapidez. E então Oseland escreveu de volta com uma pergunta: “Vocês conhecem bons ‘home cooks’ no Brasil?”.

A nutrionista Neide Rigo, primorosa cozinheira e autora do blog Come-sewww.come-se.blogspot.com), se encaixou no perfil. Às pressas, porque o prazo era apertado, propusemos à Neide um bate-papo em sua casa. Foi um encontro delicioso e inesperado, como são as boas surpresas gastronômicas.

A matéria está na centésima edição da Saveur, que já pode ser encontrada em livrarias do País. A versão em português, no entanto, você lê aqui:

Por Giovanna Tucci

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É um fim de tarde de domingo quando Neide abre o forno e, antes de acomodar ali três avantajados pães de licuri, faz um desenho em cima de cada um, rápida e habilidosa. “É raro eu comprar pão. Não há padarias aqui perto e, bom, eu adoro preparar”, diz. Em poucos minutos o cheiro já invade a sala, ou a cozinha, ou a horta. Difícil separar uma coisa da outra – tudo na pequenina e charmosa casa da nutricionista Neide Rigo parece fazer parte de um mesmo cômodo.

 

Hoje, as horas de Neide são gastas na cozinha. Vez ou outra em um consultório, quando exerce a profissão de nutricionista, mas principalmente lá mesmo, onde ela fazia naquele domingo o pão que horas depois seria servido bem quente, com a manteiga derretida, preparando os apetites para a costela de porco, a couve, a canjiquinha, a batata doce e o bolinho de milho. “Os mineiros deixam a canjiquinha num ponto parecido com o do risoto e servem com a costela como se fosse um ensopado. Eu prefiro assim, mais sequinho. Outra forma de comer a couve é rasgá-la, aferventá-la e depois passá-la no azeite com alho. Ou então em uma sopa”, ensina a cozinheira, que colheu as imponentes couves em sua própria horta.

 

O tempo foi usado para intensificar as pesquisas sobre alimentos típicos do país, integrar o movimento Slow Food e postar as invencionices num blog, o Come-se. “As pessoas me perguntavam o que era tal comida e se eu não sabia não me contentava com isso. Saía pesquisando”, diz. No rádio, música sertaneja de Mariano da Silva e Terrinha, que o marido de Neide, o médico Marcos Nogueira, colocou pra tocar.

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Abocanhar um bolinho de milho e encher o garfo de couve e canjiquinha ouvindo Saudade do Matão “dá uma saudade de uma coisa que não se sabe o que é, nem de onde vem”, como escreveu o brasileiro João Guimarães Rosa. Escritor que Neide escolheu para resumir quem ela é, no perfil de seu blog. “Eu quase que nada não sei, mas desconfio de muita coisa”, escreveu ele, parafraseou ela. Por favor, Neide, continue desconfiando.

Fotos: Marcelo Barabani

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