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Comida

A história das mesas medievais em prosas

Novo livro do historiador italiano Massimo Montanari ganha edição em português; no volume, ele resgata divertidos episódios, reais ou inventados, vividos à mesa por figuras como Dante Alighieri

À mesa. Ilustrações retratam hábitos alimentares da Europa medieval. Foto: Lauros Giraudon|DivulgaçãoFoto: Lauros Giraudon|Divulgação

A mesa narra o mundo. A premissa que Massimo Montanari anota, como quem não quer nada, no meio do brevíssimo prólogo ao seu novo livro, Histórias da Mesa, é chave para entender sua obra. 

Autor do seminal História da Alimentação, com Jean-Louis Flandrin, neste novo volume o historiador italiano se debruça sobre a mesa entre os séculos 8 e 17, entre a Idade Média e princípios do Renascimento. 

Montanari vai à Nápoles de 1309 sentar-se com Dante Alighieri à mesa de Roberto d’Anjou, filho do rei Carlos II. Observa o autor de A Divina Comédia num excêntrico movimento, esfregar carne, sopa e vinhos pelo corpo durante o banquete. Era a forra do poeta, que na primeira vez na casa do rei fora maltrapilho e recebera o pior lugar à mesa, a pior comida; no dia seguinte, bem vestido, foi colocado à cabeceira: “reconheço que essa grande honra que agora concedeste, concedeste-a às roupas; e assim quis que as roupas fruíssem os alimentos servidos”, teria disparado Dante.

À mesa. Ilustrações retratam hábitos alimentares da Europa medieval Foto: Lauros Giraudon|Divulgação

Já em 1388, em Bolonha, o autor ocupa a mesa dos monges de São Procolo: ele mostra como abades glutões avançam sobre um prato de lasanha quente feito por um... alemão. 

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Na Roma de 1536, Montanari vai à mesa do banquete oferecido a Carlos V, 150 pratos preparados por Bartolomeo Scappi, “o Michelangelo da cozinha italiana”. Vê passar massas, carnes, peixes – e, apurando o olhar de historiador, observa que a receita de linguado que serve ao imperador foi aprendida com os pescadores locais, num testemunho da relação dinâmica, desde o princípio, entre cultura popular e aristocrática na cozinha. 

E, assim, em 22 capítulos, o autor pinça 22 historietas em crônicas, documentos, livros de cozinha antigos para iluminar a mesa, o que se come nela, e também quem, como, quando e onde se come, para assim iluminar uma cultura, um momento histórico.

Um certo academicismo renitente permeia a linguagem dos textos: o estilo às vezes é rebuscado, com frases na ordem indireta e repletas de plural majestático. Ainda assim, a leitura de Histórias da Mesa flui: os capítulos são curtos, anedotas curiosas.

É uma obra que parte daquela premissa de que “a mesa narra o mundo” e recorre a certa investigação histórica ao interrogar os objetos – no caso, textos e relatos ficcionais ou não –, mas o faz de maneira mais relaxada para consumo geral. Dessa forma, o autor consegue extrair um olhar divertido sobre os estertores da Idade Média, período histórico que, nos bancos escolares, aprendemos erroneamente a associar a uma monótona aridez. 

  Foto: Reprodução

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Histórias da Mesa Autor: Massimo Montanari Editora: Estação Liberdade (232 págs., R$ 42)

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