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Após a maré vermelha, vêm ostras e mexilhões gordos e saborosos

Devido à proliferação de algas tóxicas no litoral sul do País, embargo à extração de moluscos em Santa Catarina durou mais de cinco semanas; agora estão maiores, do tempo que passaram engordando enquanto durava o embargo

Ostras servidas no restaurante Rosso, do chef Alysson Müller, em Florianópolis. Foto: Ricardo D'Angelo|DivulgaçãoFoto: Ricardo D'Angelo|Divulgação

Depois da tempestade, a bonança. Os efeitos da maré vermelha que avançou pelo litoral sul do País vão arrefecendo e, aos poucos, mexilhões e gordas ostras catarinenses voltam aos cardápios de restaurantes. E, o melhor, cada vez mais gordos.

Desde o fim de maio, e ao longo de todo o mês de junho, foi embargada a extração de moluscos das águas de Santa Catarina. O Estado responde por 95% da produção de ostra, mexilhão e vieira no Brasil, 24 mil toneladas por ano, mas se viu afetado por uma proliferação muito intensa de algas tóxicas.

O fenômeno é conhecido como maré vermelha: as algas se alastram pelo mar – e ostras, mexilhões e vieiras, filtradores, acabam absorvendo toxinas que a alga da vez, do gênero Dinophysis, libera. As toxinas podem provocar intoxicação alimentar e diarreia em humanos. Por isso, extração e consumo dos moluscos foram proibidos pelas autoridades sanitárias.

Ostras servidas no restaurante Rosso, do chef Alysson Müller, em Florianópolis Foto: Ricardo D'Angelo|Divulgação

A maré vermelha não é inédita, mas a sua prolongada persistência é. “Normalmente, esses embargos duram duas semanas”, conta Gilberto Manzoni, do Centro Experimental de Maricultura da Univali, de Itajaí. 

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Desta vez, o embargo durou mais de cinco semanas. Mas a maioria da produção de ostra catarinense já está restabelecida, e boa parte da de mexilhão (mais sensível) também. “Passamos junho sem retirar ostra. Por precaução, já que a região do nosso cultivo não foi afetada”, diz a chef Bella Masano, do restaurante Amadeus, que produz suas próprias ostras, já de volta ao cardápio. Também o Ici Bistrô recolocou no cardápio seu moules et frites, tradicional prato de mexilhões e batatas fritas e voltou a servir ostras frescas de Florianópolis.

A Casa da Ostra, no Mercado Municipal de São Paulo, recomeçou a receber ostras catarinenses nesta semana. “E elas vieram ainda mais gordas, mais saborosas”, conta Jéssica, atendente da casa. 

O fato de os moluscos estarem mais gordos está, de certa forma, associado à ocorrência da maré vermelha. Isso porque a água mais nutritiva que alimenta as algas engorda também ostras e mexilhões – além de peixes: “Este ano foi incrível! Pegamos muita tainha, muita sororoca gorda, boa”, diz o chef Cauê Tessuto, que tinha A Peixaria e agora abastece outras casas com pescado. 

Mexilhões na pedra preparadas pelo chef Fábio Vieira no Micaela Foto: Wellington Nemeth|Divulgação

“Este ano vieram massas de águas frias do Sul com mais nutrientes. Aí foi como erva daninha num gramado bonito. Tivemos a floração da alga”, diz Mathias Schramm, professor do Laboratório de Resíduos e Contaminantes em Recursos Pesqueiros do Instituto Federal de Santa Catarina. Ele diz ser impossível prever eventos como esse, que poderiam estar relacionados às mudanças climáticas.

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O que importa à mesa é que, liberados os embargos, determinados após exames laboratoriais constantes feitos pela Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca catarinense, as autoridades sanitárias dizem que é seguro comer os moluscos – o negócio é se certificar sobre a origem. É que ostras e mexilhões “se limpam” das toxinas. E, nesta temporada, acabaram se beneficiando das águas frias mais nutritivas e do maior tempo que passaram engordando. 

Olho vivo. Na semana passada, a Cetesb detectou a presença da alga tóxica no litoral paulista. Em Caraguatatuba, foi interditada preventivamente a extração e o consumo de mexilhão. Não há em São Paulo um sistema eficaz de monitoramento da criação de moluscos como em Santa Catarina. As ostras de Cananeia, a princípio, não foram afetadas.

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