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Colheita na mata a uma hora do caos da cidade

Em uma hora de carro, saindo do bairro do Limão, chega-se a Mogi das Cruzes. Poucos minutos mais, pela Estrada do Beija-Flor, e chega-se ao que parece outro mundo. Descortinam-se os mares de morros da Serra do Mar e da Serra do Itapeti. É ali que Alexandre Sousa Franco cuida de 350 pés de cambuci. “Tinha uma árvore velha aqui perto. Aí resolvi fazer muda”, diz ele, que começou a colher os frutos do que plantou há nove anos. Hoje, vive da venda do cambuci.

Colheita na mata a uma hora do caos da cidadeFoto:

Bem perto de sua casa, em meio à Mata Atlântica, Alexandre mantém pomares com árvores que passam dos três metros. O técnico agropecuário do Instituto Auá Hamilton Trajano, que ajuda produtores em diversos municípios paulistas, conta que o cultivo de cambuci funciona como uma transição para a mata. “O cambuci, aqui, está disputando com pasto e eucalipto. O que estamos mostrando é que ele pode ser mais rentável – sendo sustentável”, diz. O cambucizeiro é nativo da Mata Atlântica e pode dar 200 quilos de fruta por safra.

O produtor Alexandre Sousa Franco cuida sozinho de 350 pés de cambuci. FOTOS: Tiago Queiroz/Estadão

Na propriedade de Alexandre, a safra está no finzinho, estendida: geralmente, o cambuci dá de fevereiro a junho. Ele avista um graúdo disco voador verde, na ponta de um ramo, e colhe o fruto carnudo e aromático. “O certo mesmo é pegar do chão, logo que cai – e de manhã, antes que esquente. Senão preteja demais, muito rápido.” Quando o cambuci está no ponto ele ainda é verde, mas fica levemente amarelado e com a carne mais macia.

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A fruta é polpuda e delicada. Hamilton conta que chega-se a perder 70% da safra, quando os frutos ficam machucados – eles se machucam facilmente. O cultivo em si não exige maiores cuidados, além de roçagem e adubação da terra. Alexandre maneja sozinho sua produção.

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Toda a plantação de cambuci em São Paulo é de agricultura familiar. “O cambucizeiro pode chegar a 100 anos dando muita fruta. Ele pode ser uma alternativa real para as famílias, como as oliveiras são na Europa. Por que não?”, diz Hamilton.

Alguns produtores atuam também como beneficiadores. Alexandre já produziu licor e cachaça, mas hoje se concentra na venda do fruto e de mudas. Ainda guarda, contudo, um belo pote com aguardente de cambuci, que ele tira, orgulhoso, de uma pequena sala.

Transparência No arranjo produtivo estabelecido pelo Instituto Auá, os beneficiadores (que lavam, congelam e embalam) pagam até R$ 3 por quilo junto aos produtores. O Empório Mata Atlântica, braço do Instituto Auá que faz a distribuição, compra por R$ 5 o quilo e vende a R$ 10 para a indústria e supermercados, a R$ 12 para estabelecimentos gastronômicos e de R$ 15 a R$ 18 para o consumidor final. “Por ser um negócio social, todo o lucro é revertido na cadeia produtiva”, diz o gestor do Instituto Auá, Gabriel Menezes.

Neste ano, foram colhidas 20 toneladas de cambuci. Nem tudo foi vendido, mas a fruta é bem conservada congelada. Para o ano que vem, espera-se colher e processar de 50 a 60 toneladas de cambuci.

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 23/7/2015

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