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Dedinho, pau-doce, tripa de galinha: os vários nomes da uva-japonesa

NHAC!

Dedinho, pau-doce, tripa de galinha: os vários nomes da uva-japonesaFoto:

Por Neide Rigo, do blog Come-se

A falta de um nome intrínseco, que não seja emprestado de espécies de mais fama, é meio caminho andado para o descaso. Dedinho, pau-doce, tripa-de-galinha, macaquinho e japanese raisin tree são alguns dos nomes que só identificam esta delícia se acompanhados de desenho. Não se compara a banana, maçã ou manga, que dispensam explicações e já povoam o imaginário popular. E de nome científico, este sim específico, todo mundo parece ter medo. Só isto justifica o desdém com que os cachos desta fruta são esmagados sob nossos pés quando chega o final do outono.

Está certo que estes pedúnculos intumescidos da Hovenia dulcis não estão entre os frutos mais fáceis de entender, colher e comer. Sua anatomia tampouco é óbvia à luz do nosso conhecimento botânico básico sobre a morfologia dos frutos. Para piorar, é planta maldita porque é exótica e, quando solta por aí, pode colocar em risco nossa flora nativa e causar desequilíbrio na fauna que se alimenta dos frutos e espalha as sementes.

FOTOS: Neide Rigo/Estadão

RECEITA: + Pão de uva-japonesa

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Fora isto, é puro deleite, afinal as árvores já estão por aí, usadas fartamente na arborização urbana. São encontradas nos parques, nas calçadas, nas praças e nos quintais das grandes cidades e seus frutos fazem a alegria dos pássaros e da gente.

Originária de regiões montanhosas da China, o cultivo logo se espalhou para o Japão, Coreia e Índia. No Brasil, a planta é bem adaptada especialmente entre Sul e Sudeste. No entanto, segue por aqui indomável – houvesse seleção de variedades maiores, com maior proporção entre polpa e sementes, talvez seu consumo fosse mais valorizado. Infelizmente são raros os cultivos comerciais (Seu Makoto, no Ceagesp, vende: tel. 11 3643-8776) e o beneficiamento, nem se fala.

Os frutos verdadeiros são cápsulas esféricas e secas que abrigam as sementes, pequenas, lisas, avermelhadas e tão duras quanto um dente quebrado – portanto, não há chance de ignorá-las. A parte comestível é o pedúnculo espessado com película marrom avermelhado e interior crocante, suculento, doce, de cor alaranjada. O formato é quase lúdico, uma caricatura de ideograma japonês com segmentos não homogêneos na espessura trazendo à lembrança morenas falanges, bichinhos espevitados ou pedaços de pau. O sabor tem algo de maçã e uvas de colheita tardia. São estas características que explicam a maioria dos nomes.

Pão de uva-japonesa. Veja a receita aqui

Além do uso alimentício, a fruta é apreciada mundo afora como medicamento para curar ressacas e atenuar o desejo por bebidas alcoólicas. Se consumida antes de beber, pode até diminuir a sensação de embriaguez. Há vários estudos explicando o mecanismo de ação e o extrato da fruta é vendido em outros países como fitoterápico com estas finalidades. Porém, nosso assunto aqui é o fruto como alimento.

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Na cidade é fácil identificar um pé de Hovenia dulcis. As árvores produtivas são geralmente muito altas, embora já frutifiquem com quatro ou cinco anos. Mas quando chega o final do outono, começam a perder as folhas dando destaque para os cachos de frutos que começam a amadurecer. Não é tarefa fácil a colheita nas alturas, mas também não é recomendável pois são muito tânicos e adstringentes se não estão muito maduros. Já quando caem no chão, aí sim estão perfeitos. Quem tem por perto uma árvore dessa pode deixar embaixo dela um pano e recolher os cachos todos os dias, à medida que vão caindo. É que se caem sobre terreno úmido começam a fermentar e o sabor fica comprometido. Mas, se deixadas em local seco, logo começam a desidratar e aí sim duram como uvas passas e podem ser usadas como tal.

O teor de açúcar, na forma de glucose, frutose e sacarose é tão grande que, se espremer um segmento entre os dedos, vai sentir na pele a densidade do melado, mais que o caldo da cana. O suco extraído em centrífuga pode se transformar em calda se levado ao fogo, pode ser fermentado para fazer refresco ou a própria fruta seca pode ser triturada e usada no lugar do açúcar em massas de bolo, por exemplo.

Para usar, descarte as bolinhas secas (os verdadeiros frutos) com sementes, não comestíveis, usando uma pequena tesoura e lave bem os pedúnculos comestíveis – deixe de molho de solução clorada ou desinfetante de verduras e enxágue em água corrente. Se conseguir resistir e não comer todos ao natural, use-os como se fossem uvas passas ou pedaços de maçãs: com pedaços de frango assado, nas saladas de folhas ou salpicão – com frango desfiado, maionese, batata, cenoura, salsão –, em caris, tortas, bolos e pães, por exemplo.

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 4/6/2015

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