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Comida

Em defesa da "lavoura" de apartamento

Até pouco tempo, eu achava que cultivar umas ervinhas era o máximo de ousadia que eu, moradora de apartamento, poderia ter. Esse paradigma foi sendo gradualmente quebrado. E, em grande parte, devo isso a Michael Pollan.

Em defesa da "lavoura" de apartamentoFoto:

Em seu ótimo Em Defesa da Comida, ele prega, entre outras coisas (como evitar alimentos que a sua vó não reconheceria como comida), três princípios: 1) cozinhar; 2) sentar-se à mesa para fazer as refeições com as pessoas queridas; 3) e cultivar algo em casa – nem que seja só um alecrim.

Alecrim, manjericão, tomilho e hortelã eu já “cultivava”. Só que, a esta altura, isso já não me bastava. Fui tomada por um instinto de agricultora. Queria semear e ver nascerem alimentos que mais cedo ou mais tarde eu colheria e entrariam na minha dieta. Mas como fazer isso quando se tem tão pouco espaço, quando não se tem canteiro nem quintal para fazer uma horta?

Foi então que todos os batentes das janelas de casa começaram a ser povoados, tomados por floreiras. A limitação é grande, obviamente. Até hoje, o que deu mais certo nas pequenas foram os brotos (cenoura, beterraba e salsão), que não precisam de tanta profundidade. Nas maiores, consegui bons resultados com o almeirão e a catalunha. E uma vez cheguei a deixar brotos de cenoura e de beterraba se desenvolverem para ver no que dava. Nasceram algo raquíticos, culpa da pouca quantidade de terra. E tem a questão do sol, que, apesar de essencial, também pode arruinar um delicado brotinho. Foi por isso que os brotos colocados nas janelas da sala, onde o sol bate direto e impiedoso, não foram adiante. E também duvido um pouco da qualidade das sementes que usei naquela vez.

A produção exige sim dedicação, demora e é diminuta. Mas nunca tive a intenção de que o cultivo suprisse a demanda de verduras em casa. Para uma urbanóide como eu, o mais legal de tudo é criar este vínculo com a terra, ainda que o cultivo seja confinado no espaço de um apartamento. Sempre que vou acompanhar o desenvolvimento das plantas, dá uma alegria ver como estão crescendo saudáveis. E o dia da colheita é a maior festa.

Podem até me chamar de boba, mas que as verduras de “cunho” próprio são muito mais gostosas, isto são! Elas carregam não só seu sabor natural, mas um gostinho de satisfação, de orgulho de quem as viu crescendo centímetro por centímetro. É o prazer do agricultor. E é a melhor maneira de valorizar o trabalho desses profissionais tão importantes e ainda tão desvalorizados no nosso País. Nunca mais reclamei por pagar um pouco a mais numa verdura bem cultivada, limpa, orgânica.

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Hoje semeei mais umas sementes de cenoura, de salsão, de beterraba, de abóbora e de abobrinha (aproveitando a dica da leitora Salete Rodrigues Pezzo, que comentou no post sobre flor de abobrinha ). E também algumas de almeirão e mostarda. Fiz uma coleta prematura de húmus da minha minhocasa, porque a compostagem ainda não terminou, só para catar umas minhoquinhas. Agora elas estão lá, trabalhando a terra que fará, eu espero, os brotos crescerem fortes e cheios de viço. Quando os primeiros estourarem, volto aqui para compartilhar com vocês.

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