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Gravatá e outras deliciosas frutas oxítonas difíceis

Embora o gravatá seja mais usado como planta ornamental ou remédio, ele já foi apreciado como fruta por aqui

Parece sina das nossas frutas de nome indígena oxítonas em a, como jatobá, jaracatiá, ingá, guaraná, jerivá, butiá, inajá e até araçá, a de serem desconhecidas ou difíceis de comer. Casca dura, mais semente que polpa, fiapenta, sem doçura, grudenta, farinácea, ácida e cáustica são algumas das coisas que se diz delas. Mas muitas apenas requerem algum preparo, só isso.

 

Doce perfume. O gravatá pode ser usado com carnes e em gelatinas, sorvetes, refrescos ou até comido ao natural. FOTO: Neide Rigo/Estadão

Muita gente acredita que fruta para merecer o nome tem que ser gostosa à primeira mordida. Por isso as frutas exóticas de clima temperado fazem sucesso – maçãs, peras, pêssegos, uvas e ameixas. São suculentas e podem ser comidas do pé. Em nossa defesa, temos jabuticabas e umbus. E nossas frutas tropicais rendem mais que simples geleias.

O grande problema das frutas brasileiras é que muitas caem no esquecimento antes de terem a chance do melhoramento no cultivo. O gravatá é um desses casos. Fruto de uma bromélia nativa da América tropical, como o abacaxi, ainda cresce selvagem e há várias espécies aparentadas do mesmo gênero – caraguatá, croatá, curauá, coroatá, caruatá, caravatá, etc… Variam no tamanho, doçura, brandura, acidez e coloração da casca. A mais facilmente encontrada, Bromelia antiacantha, tem frutos similares a nêsperas.

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RECEITA:+ Costelinha com gravatá 

Embora o gravatá seja atualmente mais usado como planta ornamental, cerca viva, remédio para tosse ou contra parasitas intestinais, ele já foi apreciado como fruta por aqui na época do descobrimento. Gabriel Soares de Souza falava dele em seu Tratado Descritivo do Brasil, em 1587: “Ao longo do mar se criam umas folhas largas, que dão um fruto a que chamam carauatá…, tem bom cheiro, a casca grossa e tesa, a qual se lança fora para se comer o miolo, que é mui doce; mas empola-se a boca a quem come muita fruta d’esta”.

A falta de cultivo – e com isso de seleção de espécies mais palatáveis – faz com que o fruto seja tão raro quanto imprevisível. Quando bem maduro, é doce, perfumado e ácido e pode ser comido ao natural. Não sem ter que descartar da boca depois de mastigado uma dura fibra quase como as de toletes de cana. E, mesmo maduro, pode pinicar um pouco a língua e provocar aftas. Por essas e por outras, não é, o tipo de fruto para se comer direto do pé.

Não é fácil encontrar, a não ser em algumas feiras ou mercados populares nas bancas de ervas medicinais – seu destino mais comum é para xaropes (procure também pelas sementes na loja virtual matosdecomer.blogspot.com.br). Em Foz do Iguaçu é comum encontrar mulheres paraguaias vendendo-a nas ruas (a safra é agora).

Eu queria apenas um pouco para explorar os frutos na cozinha e pedi para o Carlos Gomes, nosso caseiro, em Piracaia. Ele sumiu no mato e depois de alguns minutos voltou com uns sete cachos. Usei uns, congelei outros. Fiz de tudo, bati no liquidificador, tentei triturar no processador, passei pela centrífuga e soquei no pilão.

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O melhor método para se obter seu suco isolado das fibras, que sai espumoso, é passar a fruta já descascada pelo liquidificador com um pouco de água – para conseguir bater uns 15 frutos, use uma xícara de água. Coe. Pronto e fervido pode-se usar como tempero para frango, peixe e carne de porco, fazer geleias, combinar com a banana para doce cremoso ou com outras frutas para fazer sorvetes, caldas, gelatinas e refrescos. E vamos aprendendo a domesticar na cozinha essa preciosa fruta ainda tão belicosa.

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 4/9/2014

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