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Os 'infalíveis' avós do Viagra

Por J. A. Dias Lopes

Os 'infalíveis' avós do ViagraFoto:

Com tantas drágeas azuladas usadas atualmente contra a disfunção sexual, o prestígio dos chamados afrodisíacos naturais está em queda. Até porque a capacidade estimuladora da libido atribuída pelo povo a certos alimentos, ervas, condimentos, etc., nunca foi comprovada pela ciência.

Giacomo Casanova (1725–1798), o maior sedutor de todos os tempos, preferia apostar no clima de encantamento que eles ajudam a criar. “Um jantar a dois, com champanhe do começo ao fim e chocolate quente no final, vale mais do que um galanteio”, afirmava. É verdade que Casanova julgava atiçar o apetite sexual comendo 12 ostras no café da manhã e outras 12 no almoço.

Na sua época, os afrodisíacos naturais desfrutavam de prestígio incomensurável. Catarina II, a Grande (1729–1796), imperatriz da Rússia, teria conseguido engravidar do conde Serguei Vasilievich Saltykov, o primeiro da sua coleção de amantes, oferecendo-lhe caviar, esturjão ao champanhe e vinho doce da Crimeia. Ela confirmou o fruto desse romance em suas memórias: o futuro czar Paulo I. Catarina II estava casada, mas alegava que o marido, além de indiferente ao sexo, era estéril.

O nascimento de Henrique IV, da França (1553–1610), primeiro rei de França pertencente à família dos Bourbons, também foi atribuído à comida afrodisíaca: um paté de foie (patê de fígado) que seu pai, Antônio de Bourbon, duque de Vendôme, ofereceu a Joana III de Albret. O próprio Henrique IV, que se revelaria um dos reis mais promíscuos da história da França, atribuía a libido exacerbada ao paté de foie e a outros alimentos que ingeria. Teve seis filhos com sua mulher, a florentina Maria de Medici, e pelo menos dez fora do casamento, um dos quais com uma monja da abadia de Longchamps.

Maria Luísa da Áustria (1791–1847), filha de Francisco I e irmã de Maria Leopoldina, mulher do imperador brasileiro Pedro I, enfrentava outro problema. Ao casar com o imperador francês Napoleão Bonaparte, revelou inapetência sexual. Curou-se ao saborear poularde truffée (franga trufada) à la périgueux e deu à luz o futuro Napoleão II. Igualmente na França, a bela e disponível Madame Du Barry (1743–1793), ministrava aos seus parceiros de alcova, antes e depois de se tornar amante do rei Luís XV, uma beberagem feita com gema de ovo e gengibre. “Era infalível”, garantiu um biógrafo.

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O ovo, em cuja gala as civilizações antigas acreditavam se esconder o mistério da vida, sempre teve fama de estimulante sexual. “Eu quero ovo de codorna pra comer / O meu problema ele tem que resolver”, cantou Luiz Gonzaga no baião Ovo de Codorna, de 1972. Idêntica reputação desfrutou o gengibre, que supunham aumentar o fluxo de sangue genital.

Foram ainda considerados afrodisíacos o açafrão, alecrim, alho, amendoim, anis, canela, cravo, catuaba, chocolate, ginseng, hortelã, mamão, mel (os noivos antigos se preparavam para o casamento tomando mel, daí a lua de mel), manjericão, mostarda, noz-moscada, orégano, pinhão, pimenta, salsaparrilha e tomate, por isso mesmo chamado na Itália de maçã do amor e depois, talvez por pudor, de maçã de ouro (pomodoro).

Poucos afrodisíacos naturais exerceram tanto fascínio popular quando a raiz da mandrágora, uma planta da família da batata e do tomate. Entretanto, para “funcionar”, devia ser colhida em noite de lua cheia e puxada da terra por uma corda presa a um cão preto. Nicolau Maquiavel (1469–1527) referendou seu poder na peça A Mandrágora. Por conta de uma aposta, o jovem Calímaco corteja uma mulher casada que não consegue ter filhos com o marido. Fingindo ser médico, receita-lhe um tratamento à base de mandrágora. Maquiavel escreveu a história inspirado na política, ou seja, na arte de convencer, manipular e conquistar um objetivo. Os afrodisíacos naturais funcionam? Claro que não. Mas não custa lembrar o ditado de Miguel de Cervantes, no Dom Quixote: “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”.

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