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Pedra-sabão sai da cozinha mineira e conquista chefs de São Paulo

O mineiro Oscar Paiva ganha restaurantes da cidade com pratos e cumbucas rústicas de diferentes formatos que faz sob encomenda; são baratas, resistentes e mantêm a temperatura por mais tempo do que a louça comum

Entre panelas. Oscar Paiva traz de Minas as peças, algumas com acabamento em cobre. Foto: Felipe Rau|EstadãoFoto: Felipe Rau|Estadão

Marca da cozinha mineira, e de uso antes restrito a ela, a pedra-sabão pulou a cerca e ganhou restaurantes de cozinha variada em São Paulo. A Casa do Porco, Micaela, Maksoud, Bar da Dona Onça, Rodeio e outras casas andam exibindo cumbucas, tábuas, potinhos, pratos fundos, rasos e o que mais puder ser inventado por chefs e replicado pelo mineiro Oscar Paiva.

Oscar não é um artista, como os ceramistas em alta na cidade, mas é um artesão bom de papo, que sorri à toa e conquistou uma legião de cozinheiros com um produto resistente, que mantém a temperatura por mais tempo e é mais barato que cerâmicas e porcelanas. Há seis anos, cansado de só vender para endereços mineiros, deixou umas peças no Clos de Tapas, quando a chef ainda era Ligia Karazawa (hoje no Brace).

Entre panelas. Oscar Paiva traz de Minas as peças, algumas com acabamento em cobre. Foto: Felipe Rau|Estadão

O material se encaixava na proposta do Clos de trabalhar com madeiras e pedras – e Oscar tinha disposição de adaptar formatos. O primeiro teste foi com o prato Saturno, de fundo redondo e borda reta e larga. “Com ele, a gente assumiu também um lado brasileiro, de valorizar uma coisa que estava confinada na cozinha mineira”, diz Ligia, que o apresentou a Jefferson Rueda, então no Attimo (do mesmo dono do Clos).

Jefferson comprou peças para o Attimo e, quando decidiu abrir A Casa do Porco, resolveu fazer quase todo o enxoval de pedra-sabão – hoje, ela é 90% da louça. “Fiz ele produzir até copos. São peças pesadas, sim, e por isso fazemos pratos pequenos. Não dá para o garçom carregar quatro pratos de 32 cm na bandeja”, conta Jefferson.

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Na Casa do Porco, a pedra-sabão é usada para servir o sushi de porco. Foto: Nilton Fukuda|Estadão

O excesso de peso, dizem os chefs, é compensado principalmente pela resistência das peças – assim, o volume de reposição é menor do que com louça branca. No Jiquitaia, esse apelo conquistou Marcelo Corrêa Bastos, que serve muitos pratos ensopados (moqueca, quiabada) em cumbucas e panelinhas.

“Eu tinha muito problema com panela de barro, elas quebram muito”, diz Marcelo, que encomendou pratinhos também para o Bar do Jiquitaia, no andar de cima do restaurante. “E, aqui, pelas características das casas, não consigo usar porcelana, o orçamento não aguenta.” Os preços baixos da pedra-sabão de Oscar chamam a atenção – em média, pratos a R$ 15.

Mas eles não fazem feio dividindo a cena com peças mais artísticas. No Myk, as cerâmicas do StudioNeves são tão elogiadas quanto os pratos negros que vêm do interior de Minas, garante a chef Mariana Fonseca. “É bem artesanal, nunca são todos iguais. E o mineirinho é tão bom de papo que, quando você percebe, ele já te vendeu até a mãe”, brinca ela.

A produção de Oscar Paiva também conquistou Marcelo Corrêa Bastos, chef do Jiquitaia. Foto: Lucas Terribili|Divulgação

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Filho de tropeiro, quando criança Oscar Paiva, 48 anos, acompanhava o pai e alguns dos 13 irmãos em viagens pelas roças de Minas a vender panelas de pedra-sabão e ferro, cobertores, querosene. “Meu pai tinha 40 burros, a gente ficava dois meses fora.” Aos 23 anos, decidiu morar em São Paulo e, sem ter completado o ensino fundamental, começou a trabalharcomo faxineiro. Depois foi porteiro e outras coisas. “Fiz até curso de etiqueta, para ser mordomo. Coisa chique, viu?”, fala, entre risos constantes, sempre na companhia do seu chapéu.

Até que um dia se lembrou das panelas de pedra-sabão que o pai vendia e decidiu fazer disso um negócio. Em Itaverava (MG), na zona da mata mineira, montou uma oficina onde recebeas pedras de 6 m x 8 m – que pesam 15 toneladas – e lá começou a fazer asconhecidas panelas e cumbucas de pedra-sabão da cozinha mineira. As grandes pedras são divididas em blocos menores que, presos ao torno, são quebrados à mão e lixados até chegarem à forma final.

No Micaela, o prato de mariscos é um dos muitos servidos na pedra. Foto: Wellington Nemeth|Estadão

Há 13 anos, Oscar arranjou seu primeiro cliente, o Consulado Mineiro. Adaptou formatos para conquistar nova clientela e, hoje, diz colecionar 180 clientes. Continua morando em São Paulo e viaja para sua oficina duas vezes por mês, de carro e sozinho, ida e volta de 1.460 km.

De lá traz as peças que são finalizadas num pequeno depósito na divisa com Osasco. Finalizar significa passar óleo vegetal nas peças para a “curagem” – e assim elas perdem a cor cinza e ficam pretas. Após um dia, é só lavar com água e sabão e a peça – que não tem amianto na composição – está pronta para uso. “Isso aqui dura uma vida, viu? Tem restaurante que usa há 15 anos. Vai até em cuba de banheiro, no que a senhora quiser. Viu?”

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SERVIÇO

Mais informações pelo tel.: 99857-4267

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