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Sem João Rural não vale

Sem João Rural não valeFoto:

Por Nana Tucci

O fusca marrom ano 82 conduzido pelo senhor de camisa xadrez e chapéu de palha com nome de personagem de Guimarães Rosa não vai mais rodar o Vale do Paraíba. Na madrugada de terça-feira, 23, vítima de uma parada cardíaca, morreu, em São José dos Campos, o grande caipira de raiz, João Rural.

 
 
 

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Alguma vez na vida você deve ter tomado um drinque com cerveja. Se esqueceu é porque talvez ele tenha sido bebido naquele momento da empolgação, quando alguém sugeriu fazer um submarino, famoso “embriagador” preparado com a cerveja que está à mão e o Jägermeister da prateleira. Essa história mudou. Coquetéis com cerveja estão na moda e evoluíram da empolgação sem juízo para receitas criadas por barmen mundo afora. 
FOTOS: Tiago Queiroz/Estadão Foto:

Historiador, pesquisador, fotógrafo e jornalista, nasceu em 3 de junho de 1951 na zona rural de Paraibuna. Segundo dos dez filhos de Francisco e Malvina, João Evangelista de Faria gostava mesmo é de ser apresentado como João Rural, culinarista caipira.

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Dedicou a vida com entrega quase religiosa à pesquisa da tradicional comida caipira, com o claro propósito de valorizar o simples muito antes do estilo de viver com menos e comer alimentos da própria horta virar moda.

Também concentrou energia em valorizar o caipira como ele é, puxando o “erre”, servindo-se da própria panela no fogão e apreciando uma bela farofa com a formiga içá. Ele vivia na prática o que escrevia na teoria – difícil encontrar um caipira mais caipira que João Rural.

No fusca, se embrenhava pelo sertão do Vale do Paraíba atrás de histórias e receitas orais, passadas entre gerações, que pouco a pouco desaparecem desbotadas pelo tempo.“O João sempre defendia o caipira da roça que faz o seu queijo, que faz o seu doce, que faz a comidinha simples no fogão à lenha. Porque é isso que tem sabor e tem história, e é isso que realmente importa”, declarou Jessica Costa, que trabalhou junto ao pesquisador por dois anos.

 Foto:

Ele estava interessado na pessoa, nas Teresinhas dos doces de tacho e nos Manés dos panelões de fogado. Ao Paladar declarou certa vez: “Quando eu vou às casas das pessoas e observo apenas o jeito como se põe a banha de porco na panela, eu me sinto privilegiado.”

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Era fascinado por esse saber natural do caipira e por técnicas culinárias quase abandonadas. Tinha o mapa gastronômico do Vale do Paraíba na cabeça e, com “informantes” por toda a região, era ele também que ligava para avisar “vai ter paçocada nesse fim de semana em Paraibuna”. E agora, João?

Em 2012, falou sobre suas pesquisas, registradas em 20 livros, em uma aula no Paladar Cozinha do Brasil para uma plateia lotada e causou frisson com seu fusquinha no estacionamento do hotel Grand Hyatt.

Todo o rico acervo do pesquisador – dos livros raros de sua biblioteca particular ao célebre fusca – agora é patrimônio da ONG Instituto Chão Caipira, que João Rural criou em sociedade com seus irmãos.

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