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Comida

Slow food à moda do xilindró

Por Dias Lopes

Slow food à moda do xilindróFoto:

Espanhóis, americanos e britânicos descobriram um jeito eficaz de recuperar criminosos presos: ensinando-lhes o ofício de cozinheiro. Até já lançaram livros ou fizeram programas de TV com receitas de detentos – e festejaram os resultados alcançados. Além de proporcionar aos presos uma qualificação que lhes assegura um ganha-pão na liberdade, a formação culinária diminuiu a reincidência.

O livro mais apetitoso saiu em junho na Espanha. É Platos del Mundo Cocinados desde A Lama. Um esclarecimento. A Lama é uma conhecida penitenciária da província galega de Pontevedra, no norte do país. O livro traz receitas de 42 países, publicadas em ordem alfabética, da Albânia (musaka con patatas) ao Uruguai (rollitos de lomo). O Brasil está representado pela feijoada, chamada de “carne con fréjoles (feijões) y arroz”. É apresentada como nosso prato nacional, sem a bobagem de creditar a invenção do prato (na verdade, uma refeição completa) aos escravos negros.

Sucesso. Livros de detentos espanhóis e de presas texanas: cozinha sem instrumentos pontudos ou facas. FOTO: Reprodução

Já o livro dos americanos é From the Big House to your House (Da casa grande a sua casa) e foi editado há dois anos. Traz 200 receitas assinadas por seis detentas da pesada, encarceradas em uma prisão de Gatesville, Texas. Das seis autoras, cinco cumprem pena por homicídio. Seus pratos, simples de fazer, levam os ingredientes que as prisioneiras Barbara, Celeste, Ceyma, Louanne, Tina e Trenda podiam comprar sob supervisão da carceragem.

As simpáticas bandidas entretêm os leitores ensinando a cortar carne com uma carteira de identidade plastificada, já que faca é instrumento banido atrás das grades, e como cozinhar a baixa temperatura em um aquecedor de ambiente. Comentando essas espertezas, o jornalista gastronômico basco Mikel Iturraga, autor do blog culinário El Comidista, no site do jornal El País, de Madri, sugeriu aos cozinheiros de vanguarda da Espanha, brincando com eles, que contratem ex-presidiários “para ver se assim renovam seu catálogo de experimentos tecnoemocionais”.

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No Reino Unido, o chef Gordon Ramsay apresenta o programa de TV Gordon atrás das Grades, no qual ensina arte culinária a delinquentes de todos os calibres. Faz sucesso de audiência, apesar dos problemas enfrentados. “Algumas vezes, quando um aprendiz de cozinha precisa de uma faca ou descascador, espátula ou raspador, é preciso licença superior e que eu assine um termo de responsabilidade por ele”, queixa-se Gordon. “Se um instrumento cortante desaparece, interrompe-se tudo e todos são revistados.”

Alguns ex-presidiários já alcançaram reconhecimento público. Um grupo deles toca a cozinha do restaurante The Clink, aberto há três anos no sul de Londres. Sua ótima comida recebe elogios da clientela. O bando do bem aprendeu o ofício na prisão de Hight Down, perto de Londres.

Recentes estudos concluíram que 47% dos presos que ganham a liberdade no Reino Unido voltam a delinquir. Quando adestrados no forno e fogão, a porcentagem cai para 10%. Só na Inglaterra e Irlanda do Norte há 80 mil criminosos cumprindo pena.

Um jornalista gastronômico britânico tirou uma conclusão divertida: “Se a metade aprender a lidar com panelas e frigideiras, nossos restaurantes poderão ser tomados de assalto por bandidos reabilitados”.

>> Veja todos os textos publicados na edição de 13/12/12 do ‘Paladar’

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