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Comida

Só pro (nosso) gasto

“A banana é só pro gasto”, diz Benedito Guinguer Helfstein naquele sotaque caipira que põe fim às palavras antes de elas terminarem. “Gasto”, para este pequeno produtor da região de Parelheiros, é consumo próprio – dele, da mulher e do filho, Edinho. O que não é para o gasto – alface, repolho, couve, brócolis, coentro e escarola– vai para mercadinhos e feiras da região.

Benedito e seu filho Edinho, agricultura com menos insumos químicos a caminho da certificação orgânica (. Foto: Felipe Rau/AE)Foto: Felipe Rau/AE)
Benedito e seu filho Edinho, agricultura com menos insumos químicos a caminho da certificação orgânica ( Foto: Felipe Rau/AE)

Boa parte do cultivo na capital está concentrado em Parelheiros, zona sul de São Paulo, em sítios com média de 10 hectares, com esquema de agricultura familiar como o de seu Benedito, com grandes hortas com canteiros de alface e outras folhas vistosas. A região sul, que faz parte do cinturão verde de São Paulo, tem por perto água da represa de Guarapiranga e de nascentes, o que possibilita a irrigação e aumenta a produtividade dos cultivos dali. Mas não há monopólio geográfico. Existem pequenas plantações também na zona leste, concentradas em São Mateus e alguns poucos produtores na região norte.

Oleríferas dominam as terras não porque a turma da salada seja querida dos produtores. Ao contrário, alface, rúcula, almeirão e companhia estragam facilmente quando expostos a longos períodos de calor, por isso a proximidade do centro de consumo é favorável.

Entre os agricultores da cidade está Flávio Vieira Campos (foto à direita), que aproveitou um terreno ocioso de 3,5 mil m² em São Mateus, cedido pela Prefeitura, para plantar alface (crespa e roxa), rúcula, cenoura, beterraba e escarola. Tudo orgânico. Mas Flávio é exceção, já que comida local não é necessariamente orgânica. Benedito, por exemplo, faz parte de um programa de agricultura limpa, que utiliza menos insumos químicos, segue parâmetros ecológicos e está a caminho da certificação orgânica.

Na horta de Flávio, o que sai da terra vai direto para o consumidor ( Foto: Hélvio Romeu/AE)

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Flávio é um desses produtores exemplares, faz sua própria compostagem, capina ele mesmo as ervas daninhas dos canteiros e até planeja fazer as mudas da lavoura para ter real controle sobre a ausência de qualquer produto químico das plantas que cultiva. “Aqui eu conheço cada pé de alface, cada escarola e cenoura.. Quando chego, consigo notar se alguém tirou um pé e se saiu algum, eu sei de onde foi”, explica.

Por causa do produtor é que muita gente de São Mateus pode comer alimentos frescos. Sua produção não tem atravessadores e tudo o que é cultivado ali sai direto da terra para o consumidor. “É isso aqui que o povo gosta de ver, o alface ‘chorando’”, diz Flávio. O ‘chorar’ das folhas é um visco branco que escorre logo que o pé é cortado da terra, motivo de orgulho do agricultor.

Produtores como Flávio costumam ser raros. Não por causa do certificado orgânico, mas pelas características de comercialização dos seus produtos. Na cidade, há cerca de 430 agricultores, cadastrados pela Prefeitura, produzindo alimentos em sítios ou terrenos urbanos. Deles, mais de 300 estão na zona sul, 40 na zona norte e 79 na leste. Pela cidade, tem até gente aproveitando terreno vazio embaixo de linhas elétricas para fazer uma hortinha e vender em feiras. Ao todo, espalhados pela capital, estima-se que o número total de agricultores chegue a mil.

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