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Comida

The book is at the table

Por Rafael TononEspecial para o Estado, de Frankfurt

The book is at the tableFoto:

Os livros de culinária são fetiche no mercado literário atual e deixaram de ser consumidos só por profissionais e fãs da área. Até grandes editoras, antes voltadas apenas à literatura, incluíram títulos sobre comida nos catálogos, de olho em um público que não para de crescer.

Na Feira do Livro de Frankfurt, na semana passada, viam-se livros de gastronomia para todos os gostos: chefs-celebridade revelando segredos e técnicas; obras de arte classudas sobre grandes restaurantes; ensaios densos sobre o caráter sociológico do ato de comer e, principalmente, dicas fáceis para quem quer ir para a cozinha. “A gastronomia deixou de ser um nicho e virou um mercado próprio”, afirma Karina Pansa, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).

Só no primeiro semestre de 2013, os livros de gastronomia tiveram um aumento de 17% nas vendas em todo o mundo. O entusiasmo era evidente entre editores e publishers ouvidos pelo Paladar na feira, que reúne editoras de 111 países.

FOTO: AFP

O escritor e jornalista americano Michael Pollan diz que vivemos atualmente o cooking paradox – o paradoxo do ato de cozinhar. Nunca pensamos tanto em comida, lemos tanto sobre gastronomia, assistimos a tantos programas de culinária. E o paradoxo, segundo ele, é que, quanto menos nos dedicamos ao ato de cozinhar em casa, mais temos a necessidade de falar e ler sobre o assunto. “Isso explica a urgência da gastronomia nas nossas vidas hoje”, escreve em Cooked, a Natural History of Transformation, livro lançado em maio nos EUA (sem previsão de edição no Brasil).

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É um pensamento que a editora americana especializada em títulos da área, Dianne Jacob, compartilha. “Os livros de gastronomia substituíram os cadernos de receita e a tradição culinária familiar. São febre porque não queremos deixar a relação com a comida amornar.”

FOTO: AP

As editoras têm se beneficiado da onda. Só nos Estados Unidos, país que mais produz e consome livros do gênero e que representa cerca de 25% do mercado mundial, o setor deve movimentar US$ 4 milhões até o fim do ano. “A Alemanha e o Reino Unido, respectivamente o segundo e o terceiro maiores mercados, devem ter um aumento de pelo menos 20% nas vendas desses livros neste ano”, afirma Edouard Cointreau, fundador e presidente do World Cookbook Awards, que também organiza a Feira dos Livros de Gastronomia (realizada em fevereiro deste ano em Paris).

Na Itália, apesar da crise, o setor foi o responsável por manter o mercado editorial no mesmo nível este ano. “A gastronomia italiana tem grande repercussão e as vendas foram expressivas, cresceram de 5% a 9% nos últimos dois anos”, diz Alfieri Lorenzon, diretor da Associação Italiana de Editores. Só a chef e apresentadora Benedetta Parodi vendeu mais de 2 milhões de exemplares; o livro do chef Carlo Cracco, do três-estrelas Michelin Cracco Peck, vendeu 800 mil cópias. “É impressionante para um mercado que há cinco anos não vendia nem um quarto disso.”

Desde que lançou o livro pela Phaidon, em Londres há duas semanas, Alex Atala está em turnê. No Brasil, a obra sai pela editora Melhoramentos (320 pág, R$149). Lançamento será em novembro. FOTO: Divulgação

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No Brasil, a CBL ainda não tem dados consolidados do segmento. Mas já há uma reivindicação na Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que coordena o levantamento Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro. A editora Senac São Paulo, que fez clara aposta no setor, já colhe os louros: cresceu 62% nesse segmento em 2012 em relação ao ano anterior. “Vendemos mais de 900 mil exemplares no ano passado, 28% deles de gastronomia”, diz Jeane Passos Santana, gerente da editora. “Temos muitos livros voltados à formação profissional”, diz.

A editora Melhoramentos – que está lançando no Brasil o livro do D.O.M., de Alex Atala – tem cerca de 60 livros de gastronomia em seu catálogo, o que corresponde a 9% do faturamento. Mas a expectativa é de aumentar o porcentual com novos títulos, principalmente voltados à gastronomia brasileira, como o Expedição Brasil Gastronômico, que trata da culinária de Estados como Minas Gerais e Rio Grande do Norte, apresentado em Frankfurt. “Gastronomia é uma área crescente de interesse. Queremos ajudar a fomentar a boa fase da culinária do Brasil com nossos títulos”, diz Breno Lerner, superintendente da Melhoramentos.

Nos dois primeiros livros, Snapshots e René Redzepi Journal, há fotos e registros do dia a dia do chef dinamarquês, com anotações sobre seu processo criativo; no último, as novas receitas do Noma. FOTO: Divulgação

Já a editora Bei, que tem 17 títulos dedicados à gastronomia em seu catálogo – que representam de 15% a 20% de seu faturamento –, aposta num tratamento caprichado, de livro de arte, aos volumes sobre comida. “Tratamos a gastronomia como assunto especial, e nossas edições transmitem esse cuidado”, diz a publisher Josephine Bourgois. A Bei tem planos de crescer na área: lança até o fim do mês Dona Brazi: Cozinha Tradicional Amazônica, e, no fim do ano, e-book de Mari Hirata sobre onde comer em Tóquio. Ainda sem data de lançamento, há um livro para crianças com os chefs Jefferson e Janaina Rueda, o de André Mifano sobre charcutaria e ainda um livro do pâtissier Fabrice Le Nud.

Esse comportamento fez com que editoras tradicionalmente mais voltadas à literatura decidissem abrir seus títulos para as panelas. A Companhia das Letras anunciou, há pouco, o novo selo Panelinha, em parceria com a chef Rita Lobo, para publicar livros de receita. Só para este ano, estão programados dois novos livros e outros dois para o próximo ano.

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* Viagem feita a convite do Governo do Estado de Minas Gerais.

/ COLABOROU JOSÉ ORENSTEIN

>> Veja a íntegra da edição do Paladar de 17/10/2013

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