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Comida

Uni, duni, tê

O segundo estágio da evolução gastronômica do amante de comida japonesa pode ser definido pelo momento em que ele chega no balcão e aceita tudo que o sushiman lhe apresentar de mais fresco. Sem frescura.

Uni, duni, têFoto:

Eis que, depois de um eventual niguiri de atum gordo, chega uma gosma dourada, reluzente, com leve aroma de maresia, como que coroando a alga escura que a envolve. Aquele amante da comida japonesa cerra a massa de aspecto alaranjado e amorfo entre os dedos ou hashis e leva-a à boca.

FOTO: Karoline Pettersen

Mais suave que ostra, mais intensa que vieira, espalha-se pela língua, desmanchando como um pudim liquefeito em água do mar bastante menos salgada. E em que pesem todos os adjetivos, parábolas, sinestesias, o sabor resta indescritível. São as gônadas de um equinodermo.

Sim, a parte comestível do ouriço-do-mar, ou uni, são suas gônadas – órgãos com função reprodutiva –, tanto do macho como da fêmea. São extremamente apreciadas no Japão, mas também na Europa, na região do Mediterrâneo, nos Estados Unidos e em algumas partes do Brasil.

“Não é um amor à primeira vista. Uma coisa que se olha e se gosta de cara. É feio. Mas com o tempo, vira amor”, filosofa Juraci Pereira, o Jura, sushiman do Aya Sushi. Ele conta que em seu restaurante um em cada dez clientes rejeita o uni.

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Os chefs e sushimen buscam formas diferentes de apresentar o ouriço, mas in natura é a melhor maneira. “Quem gosta mesmo, gosta cru”, diz Edson Yamashita, do Aze Sushi.

LEIA MAIS:Nos descaminhos de Santa CatarinaMuda o nome, não os espinhosEntrevista: “O que dá mesmo sabor é o terroir”Comentário: Quando o ouriço é muito, a santa tripa desconfia

O ideal é comer o mais fresco possível. Recém-colhido do mar, de preferência. O problema é que, para chegar aos restaurantes de São Paulo o uni precisa encarar a viagem desde Santa Catarina, onde se concentram os fornecedores.

Mas, se por acaso você topar com um ouriço fresco e resolver abri-lo, é preciso cuidado. Virando-o de “barriga” para cima, encontra-se um pequeno orifício bucal, conhecido como lanterna de aristóteles (o filósofo grego descreveu a anatomia do ouriço três séculos antes de Cristo em Historia Animalium – possivelmente depois de saborear suas gônadas). De preferência com luvas, apoie-se nesse orifício e corte a calota do topo do ouriço (que agora passou para baixo…). Visualizam-se então as cinco gônadas, também chamadas de coral (como na foto acima). Com umas gotas de limão, o uni já pode ir direto para a boca.

Malemolência

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Existem aproximadamente 900 espécies de ouriço-do-mar, mas por aqui, nos restaurantes, encontram-se duas espécies desse bicho que não tem a beleza entre seus atributos. E aliás, o melhor é que seja feio mesmo – molengo, disforme – quando não for aberto na hora. É que para deixá-lo bonito, com aparência de fresco e textura firme, é comum que se usem aditivos como o nigari (coagulante usado no tofu), que prejudicam o sabor, dando um toque amargo.A consistência mais pastosa nãoé necessariamente ruim – só não pode ser aguado.

OURIÇANDO EM SP

De gole.Shot de uni em um caldo de peixe com ovo semicru servido no Aze Sushi, no balcão de Edson Yamashita.

FOTO: Felipe Rau/Estadão

Frito. Tempurá de uni enrolado em uma folha de shissô com flor de sal, servido por Jura no Aya Sushi.

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FOTO: Divulgação

Entrada. Lula cortada em tiras batida com uni e ikurá (ovas de salmão), prato preparada por Ken Mizumoto no Shin Zushi.

FOTO: Luiz Horta/Estadão

SERVIÇO

Aizomê Al. Fernão Cardim, 39, Jd. Paulista, 3251-5157

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Aya Sushi R. Pedroso de Morais, 141, Pinheiros,2373-6431

Aze Sushi R. Renato Paes de Barros, Itaim, 3071-2047

Epice R. Haddock Lobo, 1002, Jd. Paulista, 3062-0866

Shin Zushi R. Afonso de Freitas, 169, Vila Mariana, 3889-8700

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