Duas coisas salvaram minhas idas ao novo 150 Maksoud: uma sobremesa e a vista.
Sinto prazer em sentar no lobby de um hotel e olhar o vaivém das pessoas. As mesas do 150 são separadas do saguão do Maksoud Plaza por um laguinho antigo com chafarizes semidesativados e uma estátua. Sente perto da bailarina dourada no laguinho e você terá vista privilegiada para a entrada e saída das gentes. Foi o que fiz: numa vez, me diverti com uma família atabalhoada arrastando malas coloridas, hablando espanhol; noutra, imaginei o som produzido por uma trupe de músicos americanos que empurrava o que presumi ser um contrabaixo. Elucubrei ainda sobre as tramoias de um trio de homens acinzentados, com suas cabeças enterradas no corpo e ternos mal-cortados, que falavam baixo no celular – só podiam ser políticos (essa confirmei depois com o garçom e, bingo!, eram assessores do vetusto Campos Machado).
O fato é que nas visitas ao 150 quase me esqueci de que estava ali para provar a comida, a qual, afinal, provou-se menos interessante do que a rica fauna que circunda o restaurante.
Vamos ao ponto, portanto: se você não se diverte com o esporte da observação humana, sobram poucos motivos que façam a visita valer pena.
O cardápio é amplo, um apanhadão, pois, como todo cardápio de hotel, é preciso ter de tudo, agradar à variada gama de hóspedes. Estão lá salada, ceviche, kebab, hambúrguer, filé-mignon, risoto, cassoulet, rondelli e churros. Entre as comidas mais convencionais, não são maus o bife ancho, no ponto, com uma farofa bem fornida – embora acompanhado de um desnecessário chimichurri carregado no alho – ou o arroz de cogumelos, com o gosto depurado dos fungos. Mas o negócio é que os preços são altos para comidas convencionais, e os pratos mais ousados, que poderiam justificar valores elevados, não o fazem.
Uma salada de atum cozido no vácuo em baixa temperatura resulta num pastiche de cozinha contemporânea despropositado: o atum perde a fibra, parece passado, não conversa com o presunto cru, as folhas, a tangerina em vinagrete. Da mesma forma, o bacalhau é incongruente com o purê de grão-de-bico, coulis de pimentão, brócolis e tapenade de azeitonas – além de ter vindo cru.
Paira no cardápio um fetiche por técnicas, cocções a baixa temperatura, defumações. Isso talvez desvie a cozinha do básico: atenção à sutileza de temperos – sal e gordura pesam em alguns preparos – e pontos de cozimento. Até os pães, cortesia da casa, são descuidados: pão de queijo emborrachado, pão francês de casca esfareladiça e sem gosto.
O serviço, cortês, é à moda antiga, orna com o charme decadente do lugar, mas é totalmente desinformado das ousadias do novo cardápio. Há, no almoço, um caricato bufê de hotel – melhor passar longe.
Por fim: prove a excelente torta de chocolate branco (menos doce e artificial do que costuma ser), maçã e hibisco, com sorvete de limão-siciliano, feita pelo confeiteiro Gabriel Coelho. Esta, sim, vale a visita.
CONTEXTO
O Maksoud Plaza, hotel que já foi sinônimo de refinamento na cidade, está sendo recauchutado: abriu um bom bar que está na moda, o Frank, e uma balada no topo do prédio, PanAm. Agora reformula seu restaurante, com o novo 150 Maksoud. Ele ocupa o espaço onde antes funcionava o La Cuisine du Soleil, que havia sido inaugurado pelo ícone da Nouvelle Cuisine Roger Vergé. O chef Juca Duarte veio do Clos para refazer o menu.
O MELHOR E O PIOR
PROVE
O arroz de cogumelos. Está mais para um risoto – e é ótimo. A torta de chocolate branco. Sem exagero: é espetacular – um fino equilíbrio de texturas e de doces, amargos e ácidos.
EVITE
A abóbora assada com carne seca, sem graça e salgada. Botecos fazem melhor, por menos. A papillote de cogumelos com yuzu. Deste, não se sente o ácido. Cogumelos vêm passados, num mal-ajambrado papel-alumínio. O carré de cordeiro. A carne veio crua, e o acompanhamento de lentilha e cebola é pesado.
Estilo de cozinha: variado – com receitas tradicionais e autorais. Bom para: jantar a dois, quando o bolso está cheio. Acústica: o ruído é pouco – se dissipa no imenso vão central do hotel. Vinho: carta variada, com alguns bons rótulos naturebas. Os preços, porém, não são convidativos, de R$ 63 a R$ 3.680 (fica a dica: numa carta especial, tem Romanée-Conti 1982 por apenas R$ 64.400). Taxa de rolha: R$ 50. Cerveja: pobre oferta – nada além de long neck Bohemia ou Heineken, a pouco amigáveis R$ 12. Água e café: garrafinha plástica (310 ml) a R$ 6; o café é bom, Martins, mas mal tirado e caro, R$ 7. Água filtrada de cortesia nem pensar, infelizmente. Preços: entradas de R$ 29 a R$ 55; pratos de R$ 44 a R$ 99; sobremesas de R$ 19 a R$ 27. Vou voltar? sim, mas só com um amigo gringo, que ganhe em dólar e esteja à procura do charme decadente paulistano.
SERVIÇO - 150 MAKSOUD
Al. Campinas, 150, Bela Vista Telefone: 3145-8000. Horário de funcionamento: 12h/16h; 19h/0h (sex. e sáb. até 1h). Valet: R$ 26. Ciclovia da Paulista a uma quadra. Não tem bicicletário, mas dá para amarrar a bike na entrada do hotel.