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Restaurantes e Bares

515 anos em 25: o Brasil do Tordesilhas

Veja como é jantar no restaurante da prestigiada chef Mara Salles

Onde: Al. Tietê, 489. Cerqueira César. 3107-7444. 18h/1h (sáb., 12h/17h e 19h/1h; dom., 12h/17h). Estac.: R$ 20 (valet). Ciclovia: Av. Paulista (a 5 quadras).Foto:

Dois japoneses de terno na mesa ao lado drenavam uma garrafa de Therezópolis e, logo em seguida, caipirinhas. Era uma terça à noite. Seus rostos já estavam enrubescidos quando a moqueca capixaba chegou vaporosa num pote de barro. Avançaram sobre ela. Não me atrevi a perguntar o que acharam nem se sabiam que no Espírito Santo moqueca não tem leite de coco ou dendê. Mas eles pareciam animados e limparam os pratos, zeraram os copos.

Adoramos saber o que estrangeiros acham do Brasil, explicar nossas melhores coisas, jeitos, comidas, na espera da aprovação de quem vem e vê de fora. Acho que o restaurante Tordesilhas não precisa desse afago gringo. A casa da chef Mara Salles completa 25 anos e, madura, superou há muito o complexo de vira-latas.

Se olhar bem, é verdade, tem lá no espírito do restaurante uma vontade didática, de explicar o Brasil. O cardápio é todo traduzido para o inglês, com glossário ao fim definindo o que é caruru, farofa, tapioca, jambu… O Tordesilhas vai bem nessa tarefa. Dá uma gingada na cara do folclore tipo exportação e entrega explicação ao mesmo tempo simples e sofisticada da nossa culinária. Que serve ao gringo, sim.

FOTOS: Fernando Sciarra

Mas mais ainda a nós, escolados nos mil tipos de massas italianas, ignorantes, no entanto, das nossas raízes. Tá, o devaneio sociologizante foi longe, desculpa. Veio entre um trago e outro de Germana, das boas canas vendidas na casa. O bobó de camarão apareceu em socorro, me devolveu à terra. E que bobó! Tinha pedido o filhote com purê de banana-da-terra, contraste interessante entre o salgado suave do peixe amazônico e o doce acompanhamento. Mas minha companheira de mesa foi quem acertou.

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Aquela hora feliz da troca de pratos entre um casal – “quer provar o meu?”– quase deu briga – “devolve já!”. Os camarões estavam no ponto, carnudos, e, muitos, era fácil pescá-los no creme delicado.

Vinham com arroz de acaçá, fina papa do Recôncavo Baiano, e farofa de dendê. Um pouco mais de cachaça e, num ato de gastrodiplomacia, levaria o prato à vizinhança nipônica. Fui contido. Chegou por fim o excelente pudim de tapioca com baba-de-moça, para adoçamento geral da mesa.

Ao ponto, que a vida é uma só – melhor não comer mal: o Tordesilhas brilha é nos clássicos, que no cardápio levam o nome “Da Tradição”. Difícil errar com a moqueca capixaba, boa para dividir, o pato no tucupi paraense, o barreado paranaense, o bobó baiano. Mas também destaco na seção “Da Chef” a incursão ao sertão com a carne de sol e maxixe e a visita às Geraes com a ripa de costelinha de porco, risoto mulato e couve. Que venham os próximos 25 anos.

A chef Desde 2013, o Tordesilhas ocupa o atual endereço, uma casa mais arejada e simpática, que deu nova vida ao restaurante. Tem azeitada dupla no comando: Mara Salles, nas panelas, e seu parceiro Ivo Ribeiro de Araújo, no salão e nos bastidores. A chef é referência para novas gerações que se debruçam sobre a gastronomia nacional.

Tordesilhas Estilo de cozinha: brasileira, com pratos de várias regiões do País.

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Bom para: jantar durante a semana – e impressionar o amigo gringo. Nos fins de semana, um almoço especial com a família (os preços não permitem visitas frequentes a nós, assalariados do Brasil).

Vinho: A seleção nacional vai bem onde já provou valor: há nove espumantes e brancos. A oferta de tintos é variada, com ênfase em nuestra América, Chile e Argentina, para todos os bolsos: de R$ 55 a R$ 300. Há bem-vindas meias-garrafas; taças de R$ 14 a R$ 22.

Cerveja: O Tordesilhas parou no primeiro estágio da Revolução Cervejeira – o menos óbvio são Bamberg e Eisenbahn… A carta é curta. O enorme Brasil lupulado fica de fora e poderia entrar. Basta mirar-se na farta carta de cachaças.

Água e café: Aqui não há a gentileza da água filtrada da casa… Matar a sede custa R$ 5,50. O café custa R$ 4,50.

Preços: Entradas de R$ 14 a R$ 38. Pratos de R$ 59 a R$ 150 (para dois). Sobremesas: R$ 15 a R$ 24. Menu-degustação, R$ 170 (por pessoa; 7 tempos)

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Prove - A cocada de tabuleiro com sorvete de tapioca e calda de tamarindo. Doce e azedinha, rebate bem pratos de peso do cardápio. - Os molhos de pimenta feitos pelo garçom Zé Lima, que sabe indicar o que vai melhor com cada prato. - O serviço (que não se prova, mas se testa): eficiente e cortês.

Evite - A caipirinha… A clássica, de limão e cachaça, é desequilibrada – o álcool fala alto demais. Destoa do nível do cardápio. Melhor ir na pura: doses de algumas das melhores saem de R$ 11 a R$ 13.

Onde: Al. Tietê, 489. Cerqueira César. 3107-7444. 18h/1h (sáb., 12h/17h e 19h/1h; dom., 12h/17h). Estac.: R$ 20 (valet). Ciclovia: Av. Paulista (a 5 quadras). 

 >>Veja a íntegra da edição do Paladar de 20/8/2015

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