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Restaurantes e Bares

Estrelado – e por menos de R$ 10

Um restaurante com uma estrela Michelin, situado numa rua popular como a 25 de Março e onde se come por um dígito, não existe, pelas leis do mercado. Mas o Tim Ho Wan, de Hong Kong, esnoba o mercado e está sempre cheio

Agito. ‘Salão’ do Tim Ho Wan tem 15 mesas e caberia na sala de um apartamento médio. FOTOS: Fernando Nakagawa/EstadãoFoto:

Por Fernando Nakagawa De Londres

O letreiro em cantonês despista os estrangeiros. A fila chama a atenção, mas não é possível ver o que acontece lá dentro já que a porta, apesar de ser de vidro, está coberta de adesivos. Dois deles, redondos e vermelhos, destacam-se: “Recomendado pelo Guia Michelin”. Espremido entre uma loja de bicicletas e uma imobiliária, este é o Tim Ho Wan em Hong Kong, o restaurante estrelado mais barato do mundo.

O Tim Ho Wan fica no centro do bairro de comércio popular mais famoso da cidade, o Mong Kok. Em São Paulo, seria o equivalente à Rua 25 de Março. Inaugurado em 2009, o restaurante ganhou uma estrela Michelin nas edições dos últimos três anos: 2011, 2012 e 2013.

Agito. ‘Salão’ do Tim Ho Wan tem 15 mesas e caberia na sala de um apartamento médio. FOTOS: Fernando Nakagawa/Estadão 

Tanto reconhecimento veio pelo simples, mas ótimo, dim sum – instituição gastronômica chinesa descrita no quadro abaixo. Popular em todo o país, o estilo é uma das opções prediletas dos chineses para refeições leves, como café da manhã ou um lanchinho no meio da tarde.

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Espera na calçada. Era uma quinta-feira e passava das 21h quando mais de 30 pessoas esperavam em frente ao Tim Ho Wan. A espera é na calçada e não adianta ligar porque a casa não faz reserva. Na entrada, a recepcionista entrega uma ficha com a lista de pratos e o cliente marca no papel o que ele vai querer.

VEJA TAMBÉM: Dim sum, pertinho do coração

Porco cozido com ovos, porco com camarão cozido no vapor, bolinho de ovo, arroz congee com porco, berinjela frita recheada com carne e pão assado com porco à moda cantonesa são algumas das opções.

Pão quente. Os pãezinhos cha siu baau, recheados de porco e com molho agridoce, são a atração da casa: saem 2 mil por dia. 

O bairro de Mong Kok tem um título curioso: é o mais densamente habitado do planeta. São 130 mil pessoas por quilômetro quadrado. Durante um jantar no Tim Ho Wan, sente-se isso na pele. Em uma área comparável à de uma sala de estar de um apartamento médio, há 15 mesas para duas pessoas – cobertas por toalhas de papel iguais àquelas que cobrem as mesas de lanchonetes fast food. As mesas formam grandes mesões – já que acabam grudadas umas às outras.

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Chá e cha. A ficha com o pedido é entregue ao garçom, que além de passar a lista dos pratos para a cozinha também dá uma mãozinha com as panelas.

Minutos depois, chega à mesa o chá, essencial para o dim sum, segundo a tradição chinesa. Em copos de plástico que imitam porcelana, o chá-verde vem quente e sem açúcar.

Em seguida é servido o astro do restaurante: o cha siu baau, pequeno pão assado com recheio de porco com o tradicional molho agridoce cantonês. De massa leve e delicada, são assados na hora e trazidos à mesa dourados, com a casca crocante, em porções generosas com três pães. Por dia, saem mais de 2 mil pãezinhos do forno.

Visualmente, o cha siu baau pode lembrar um pão de queijo. Mas a massa é diferente, ele é muito mais leve. O preço de cada porção é 17 dólares de Hong Kong ou exatos R$ 4,46.

Faz-tudo. Mak Pui Gor, dono e chef, trabalhou no Four Seasons de HK 

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Mak Pui Gor, dono do restaurante e chef, não fala inglês. Quando ganhou a primeira estrela Michelin disse apenas que trabalha arduamente para atender às elevadas exigências dos clientes de Hong Kong. Nada além disso. Antes de abrir o restaurante, Mak Pui Gor foi chef de cozinha do hotel Four Seasons da cidade.

De volta à mesa, chega a porção de rolinhos primavera. Feitos com massa mais fina do que costuma ser servido no Brasil, eles são mais crocantes e têm menos recheio. Também generosa, a porção com três rolinhos sai por 22 dólares de Hong Kong. Em reais, é menos que uma coxinha no aeroporto: R$ 5,78.

Para terminar o jantar de pequenas porções, a sobremesa: creme de abóbora doce. Brilhante, morno e sem açúcar, apenas o doce da abóboras. Nem bem terminávamos a sobremesa e o garçom nos apressou para que deixássemos a mesa. O motivo da pressa estava na porta: a fila só fazia crescer.

Vapt-vupt. Finda a sobremesa, o garçom já vai trazendo a conta. Na foto, o creme de abóbora que não vai açúcar 

Na hora da conta, o jantar para duas pessoas somou 75 dólares de Hong Kong. Exatos R$ 19,70, ou menos de R$ 10 por pessoa. E pensar que isso não dá nem para pagar a comida chinesa do delivery perto de casa.

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ONDE FICA - Tim Ho WanO endereço original do restaurante, cujo nome quer dizer “adicione boa sorte”, é loja 8, 2-20 Kwong Wa Street. Fica no bairro de Mong Kok, em Kowloon, Hong Kong. Há mais dois endereços, menos populares. Tel. 00 852 2332 2896

>>Veja todas as notícias da edição do Paladar de 14/2/2013

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