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Restaurantes e Bares

Simples, mas não simplório, Solo merecia estar com as mesas mais cheias

Restaurante em Pinheiros tem preços justos, serviço atento e comidas gostosas, como a coxinha de pato e a barriga de porco

Barriga de porco com quirera de milho do Solo. Foto: Felipe Rau|EstadãoFoto: Felipe Rau|Estadão

A cada semana abre um restaurante novo em Pinheiros. Este já tem pouco mais de dois meses e, segundo me disse um garçom numa das visitas, “ainda engatinha”. Discordo dele: acho que o Solo já dá seus primeiros passos. Dá umas tropeçadas, sim, o que é normal. Mas está bem encaminhado.

Sem frouxas metáforas bípedes, vamos ao ponto: come-se bem à beça no Solo. O cardápio é do tipo que apetece facilmente, redondo, curto e bem sacado. Não tem malabarismos; tem comida executada com competência, com bons e frescos ingredientes. O receituário não tem uma nacionalidade identificável e, boa notícia, trabalha em níveis bastante controlados de gourmetização.

Aos comestíveis: algumas entradas brilham, como a porção de seis coxinhas de pato, gotas sequinhas de fritura, ou a língua bovina, cortada fina feito carpaccio, mas não tão fina assim que não se possa sentir sua maciez. A morcilla vem cremosa por dentro e o porco confitado vem desfiado e saboroso, com picles caseiro. Os não carnívoros que não se aperreiem: tem ainda bolinhos de polenta e gorgonzola ou a ajeitada salada de abóbora assada, rúcula, coalhada e castanhas.

Dos principais, eu recomendo provar a ótima barriga de porco e o arroz de cordeiro. Mas não se erra com a brandade de bacalhau, feita com mandioquinha, aveludada e adocicada, coisa que é equilibrada pelo sal da tapenade de azeitona preta. Tampouco faz feio o bife ancho. Não encanta, mas é correto: pede-se ao ponto, vem ao ponto, com a companhia de um purê de batata convenientemente empelotado (aqui só atrapalha mesmo o famigerado chimichurri, que já vem esparramado na carne, tomando de assalto o sabor).

Barriga de porco com quirera de milho do Solo Foto: Felipe Rau|Estadão

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As sobremesas são o ponto fora da curva virtuosa da casa. Elas caem na armadilha que todo o resto do restaurante, com sagacidade, evita: são banais, pobrinhas – falo do “pavê de mãe”, do bolo de figo e da torta de chocolate, do sorvete Kibon. Porque o mérito do Solo é ser simples sem ser simplório ou trivial.

O serviço é atento; um dos sócios, com boa experiência na cena gastronômica paulistana, assegura com olho vivo a fluência azeitada do salão. O ambiente é confortável (e preenche a cartela do bingo da decoração na cidade hoje: lâmpada de filamento incandescente, azulejo na horizontal, parede de tijolo aparente; aguardo ansiosamente a próxima moda). 

Tem ainda a gentil água cortesia servida na jarra – com o bônus de ser posta à mesa logo que se chega, coisa incomum ainda; em muitos lugares, ainda é preciso perguntar se tem água da casa. É boa a carta de vinhos e há uma razoável oferta de cervejas especiais. Os preços são justos. 

Por tudo isso, o Solo merecia estar com as mesas mais cheias. Ando vendo muito restaurante por aí que faz pior e está com fila de espera. 

Ambiente da casa nova de Pinheiros Foto: Felipe Rau|Estadão

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CONTEXTO

O Solo nasce com pedigree: os sócios Marcio Cardeal e Danilo Gozetto passaram pela Cia. Tradicional de Comércio, grupo responsável por diversos restaurantes e bares bem estabelecidos na cidade, como a Bráz Trattoria. Foi lá que Marcio, que cuida do salão, e Danilo, chef, se conheceram. Agora em parceria abriram casa própria, em maio deste ano, no lugar onde funcionou o restaurante Donostia. 

O MELHOR E O PIOR

PROVE

As coxinhas de pato. A equação massa + crosta + recheio é resolvida exemplarmente nesse petisco, que implora a escolta de uma cerveja.

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A barriga de porco. Gordíssima, sim, e muito bem equilibrada pela quirera de milho e a couve.

O arroz de cordeiro. Caldoso conforto, ganha brilho com folhas de poejo, que sabem a menta.

EVITE

A torta de chocolate com laranja. É bonitinha, mas ordinária, lembra mais um bolo seco, falta umidade.

O bolo de figo. Pouco gosto de figo e, de novo, uma secura que nem o sorvete de creme (Kibon...) aplaca.

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A sobremesa "pavê da mãe", do Solo Foto: Felipe Rau|Estadão

Estilo de cozinha: variado, com receitas descomplicadas. 

Bom para: almoço executivo rápido, bom e barato; jantar informal com vinho e amigos. 

Acústica: a música está mais para alta, à noite o clima é um pouco mais de bar, mais ruidoso. Mas não chega a ser barulhento.

Vinho: a carta é variada, esperta – curta, como o resto da cardápio, mas consegue fugir de medalhões; rótulos ficam entre R$ 74 e R$ 170; há três opções de taça, dois tintos, um branco, de R$ 20 a R$ 22. Taxa de rolha: R$ 25.

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Cerveja: habemus revolução cervejeira – oito opções de estilos variados entre R$ 14 a R$ 27, fora a Heineken, a R$ 8.

Água e café: aos poucos a coisa pega: aqui água na jarra é cortesia! O café é da Bravo, custa R$ 4.

Preços: entradas (R$ 18 a R$ 38), principais (R$ 28 a R$ 54), sobremesas (R$ 8 a R$ 16); o menu-executivo, no almoço durante a semana, custa R$ 35.

Vou voltar? Vou, sim. É uma casa de bom custo-benefício. 

SERVIÇO

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Solo Rua Simão Álvares, 484, Pinheiros Tel.: 2738-9146 Horário de funcionamento: 12h/15h e 19h/23h (sáb., 13h/17h e 19h/23h; dom., 13h/17h; fecha seg.) Não tem serviço de valet Não tem paraciclo

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