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Restaurantes e Bares

Um americano em Paris

Dá para imaginar a decepção dos francófilos mais ferrenhos ao ter de mencionar a nacionalidade do atual diretor-geral do Guia Michelin: Michael Ellis é americano. Nova-iorquino criado em Denver, ele gosta de dizer que é um francês que nasceu nos Estados Unidos por engano. E que assim que pôde se instalou na França – já passou mais tempo de vida em Paris, onde vive há 31 anos, do que nos EUA.

Um americano em ParisFoto:

Ellis está à frente do guia de restaurantes mais famoso do mundo substituindo o francês Jean-Luc Naret – aquele que cultivava a fama de bon vivant à base de muito sol e pouca gravata, mas trabalhou duro para levar o Guia para fora da Europa. Naret deixou o Guia, depois de sete anos – com a marca de 27 edições anuais em 23 países – por razões familiares: a filha abriu um restaurante, tornando-o incompatível com o cargo.

Michael Ellis entrou na Michelin há quatro anos, pelo lado dos pneus, não da gastronomia, e chegou a diretor internacional, antes de ser nomeado para os guias gastronômicos. Na entrevista ao Paladar por e-mail, ele diz que ser inspetor do Guia Michelin era sua fantasia secreta. Contou que, na juventude, fez um curso de artes culinárias, e ir a restaurantes tem sido uma paixão desde que visitou a França pela primeira vez, em 1974, numa excursão da escola. E calculou: somando as visitas a trabalho e por prazer, faz entre cinco e sete refeições por semana em restaurantes. Sua refeição inesquecível? “Tenho a sorte de ter tido muitas, sempre com os mesmos ingredientes: comida notável, pessoas notáveis e atmosfera especial”.

Sete anos atrás, os Estados Unidos nem sequer tinham edições locais do Guia Michelin. A escolha de um americano como diretor revela mudança de rumo? Sou na verdade franco-americano… Mas o Guia Michelin está, sim, se tornando cada vez mais internacional. Eles estavam em busca de um fanático por comida multicultural para comandar os guias. E eu estava no lugar certo na hora certa. Num mundo cada vez mais digital, as pessoas ainda precisam comprar um guia impresso? Não é surpresa que o mundo das publicações em papel não esteja crescendo. Apesar de o Michelin ser menos afetado que outros guias, não estamos imunes à tendência. Mas acho que produtos digitais e papel são complementares e ambas as versões do guia vão continuar a existir. O maior crescimento, porém, será digital e estamos desenvolvendo agressivamente nossos produtos. Temos enorme potencial nessa área.

Como será a versão digital do Michelin? O conteúdo digital do Guia na França está disponível há mais de uma década no website ViaMichelin, ou seja, não somos novatos na era digital. Mas precisamos continuar acelerando a presença digital, como fizemos no sistema de busca na França, (http://restaurant.michelin.fr) e também fazer aplicativos para telefones móveis, e-books, etc. Colocar o conteúdo na internet revolucionou as expectativas do consumidor e precisamos oferecer toda a informação que o leitor deseja acessar.

Qual o balanço de estar em 23 países? A influência do guia cresceu de fato com a expansão? Não há dúvida de que a expansão fora da Europa – para Ásia e Estados Unidos – elevou o perfil do guia. Uma maré de interesse pela comida está varrendo o globo e nossa presença nesses lugares faz sentido.

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Com a crise, as pessoas ainda vão a restaurantes caros? Claro que o ambiente econômico na Europa, e em todo lugar, deixou as pessoas mais sensíveis em relação ao valor do dinheiro. Essa tendência deve continuar – e o Michelin já há alguns anos vem dando destaque aos bib gourmands, restaurantes que oferecem ótima relação entre qualidade e preço. Mas os restaurantes top continuam prosperando, com longas (se não impossíveis) listas de espera. Muita gente ainda sai para celebrar datas especiais em restaurantes estrelados.

Os três-estrelas ficaram viáveis apenas nos grandes hotéis? Eu poria isso de outro modo: mais e mais hotéis top estão se dando conta de que precisam de restaurantes estrelados para satisfazer a clientes e afirmar seu status.

O Guia Michelin tem sido acusado de ter envelhecido e perdido prestígio… O Michelin existe desde 1900. Talvez sejamos um pouco ligados à tradição, mas num mundo em constante evolução, com novas tendências culinárias indo e vindo, focamos em qualidade de ingredientes, maestria culinária, harmonia de sabores, personalidade da comida, consistência e custo benefício. São valores permanentes.

Porque o ranking The World’s 50 Best da revista Restaurant ficou tão influente? Acho que eles fizeram um ótimo trabalho de autopromoção. Têm obviamente uma fantástica máquina de RP e recursos significativos. O Michelin não tem nada em comum com o modo como eles selecionam e testam (se é que de fato testam) restaurantes. Mas a maior parte dos restaurantes listados nesse ranking foi identificada por nós muito tempo antes. Porém, se eles conseguem estimular as pessoas a ir a restaurantes, isso é positivo.

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