PUBLICIDADE

Restaurantes e Bares

Valero: boa comida com vista

O restaurante do Jockey Club sob novo comando do chef francês Pascal Valero

A bela vista do tradicional Jockey Club de São Paulo, vista da cidade mas aos sons de pássaros. Foto: Nilton Fukuda|EstadãoFoto: Nilton Fukuda|Estadão

Restaurantes com vista formam uma categoria no mundo. Neles, geralmente a parte do “com vista” sobressai à do “restaurante”. Ir a esses lugares vale mais pelo programa – almoçar olhando para o mar, jantar no topo de um arranha-céu – que pela comida mesmo. Entendo quem curta a ideia, comer fora é experiência. Mas nunca me agradou pagar mais pelo entorno do que o que vai no prato. Fui ao Valero, dentro do Jockey Club, pensando nisso. Tive boa surpresa.

A bela vista do tradicional Jockey Club de São Paulo, vista da cidade mas aos sons de pássaros Foto: Nilton Fukuda|Estadão

A vista do terraço é mesmo incrível. Dá para o hipódromo, amplo e plano, palco dos páreos. Ao fundo, prédios desenham o horizonte, do lado de lá da Marginal Pinheiros. No centro nervoso e rico de São Paulo, paira no ar, ali no avarandado do Jockey, estranha calma. A revolução pode estar pegando fogo em volta; no Valero, num dia de semana, só se ouvirá quero-queros dando rasante no gramado verde e tratores alisando a terra para as corridas aos sábados, domingos e segundas à noite.

Os vastos salões do clube evocam um passado palaciano, antes talvez mais restrito, mas hoje com um quê decadente – que dá certo charme ao lugar e permite a nós, plebeus, frequentar o espaço. O hipódromo, como atesta placa de bronze à entrada, foi inaugurado em 1941, sob as bênçãos do arcebispo de São Paulo, do interventor federal Adhemar de Barros e do prefeito Prestes Maia. Bem, os tempos são outros, e o Jockey Club tenta se reestruturar financeiramente (vendeu a sede no centro para pagar dívidas).

Ambiente do tradicional salão dentro do Jockey. Classe dos tempos de prestígio do Club Foto: Nilton Fukuda|Estadão

PUBLICIDADE

O Valero surge nesse momento de reforma de um lugar ligado à antiga elite paulista. Assim, mesmo que você não pertença a ela, não vai se sentir intruso – ao contrário, pelo menos foi assim comigo, será bem acolhido por serviço profissional e cortês. Mas vamos ao ponto. A comida do chef Pascal Valero é boa. Basta seguir um mandamento: atenha-se aos pratos da cozinha francesa clássica. É que, talvez por ser afinal “um restaurante com vista”, pipocam concessões no cardápio: tem um pouco ácido e equivocado ceviche de entrada, além de uma coleção de risotos e massas pouco expressivas, como o ravióli de muçarela de búfala e o tortellini de brie. Numa visita, o espaguete à carbonara, todo errado, foi, com razão, devolvido à cozinha por minha parceira de mesa (e, numa demonstração exemplar de bom serviço, prontamente substituído, sem protestos, pela excelente pescada-amarela com molho de vermute e lagostim; ela era mais cara, mas, na conta, cobrou-se o carbonara).

Melhor mirar a França. De saída, prove os ótimos pães do couvert, feitos ali mesmo, cortesia da casa. O tartare é boa pedida (embora pudesse ser mais pedaçudo, menos moído), bem temperado. As batatas que vão com ele são fritas à perfeição. Os franceses e as batatas: Valero honra esse feliz casamento nas diferentes formas que as serve em vários pratos. A coxa de pato confitada é um acerto, vem no bom ponto, com potente molho rôti. De novo, Valero honra a tradição: faz molhos concentrados, intensos, que cumprem sua função – não a de enfeitar louças, mas a de acentuar e revelar sabores do prato.

O chef francês Pascal Valero que já passou por diferentes casas antes de comandar sua própria cozinha Foto: Nilton Fukuda|Estadão

Por fim, as sobremesas. Aqui não tem erro, é só França. Bem-feitas, doces na medida, clássicas, são ponto alto do cardápio.  No Valero, paga-se pela vista, sim, o programa não é barato. Mas vale, no esquema à la carte durante a semana. No fim de semana, é só brunch, um bufê self-service de preço fixo bem fornido. 

Formação francesa

PUBLICIDADE

Pascal Valero chegou ao Brasil em 2002, depois de passar por estreladas casas francesas, como Le Louis XV de Alain Ducasse. Por aqui, comandou Eau, Le Coq Hardy, Kaá e mais recentemente montou o cardápio das churrascarias NB Steak e do italiano Maremonti. Desde novembro de 2015, tem o próprio restaurante.

O MELHOR E O PIOR

PROVE

O shoulder. O corte de dianteiro servido só no menu-executivo é prova do talento do chef. O mil-folhas. Fresco, com massa folheada, mas não farelenta, e creme encorpado. Paris Brest. A massa tipo pâte à choux é leve, assim como o creme aveludado e rico, de ovo e avelã, do recheio.

As sobremesas francesas como o Paris Brest, são pedidas certeiras Foto: Nilton Fukuda|Estadão

PUBLICIDADE

EVITE

O carbonara, bem descaracterizado. Massa fora do ponto descansa num ofurô de creme doce. O camembert crocante. Sabor quase não tem. Lembra bolinha de queijo de festa infantil gigante.

Estilo de cozinha: variado, com pratos clássicos franceses e italianos. 

Bom para: almoço ou jantar com vista, calma e glamour decadente na semana; brunch com a família no fim de semana.   Acústica: No terraço, pouco barulho, afora o leve zumbido de carros na marginal (e o rufar da cavalgada quando é dia de páreo). Amplos salões reduzem ruído.  Vinho: A carta é um iPad, com boa oferta, especialmente porque é possível filtrá-la de várias formas – por preço, por exemplo. E aí há achados abaixo de R$ 100. A oferta em taça é pouca, mas não passa dos R$ 25. Taxa de rolha: R$ 50.  Cerveja: Cinco especiais importadas entre R$ 19 e R$ 25. Fora isso, Stella e Bohemia, a R$ 9 e R$ 8.  Água e café: Garrafita de 300 ml a R$ 5,50 – o Valero poderia fazer como na França e servir água como cortesia. Café Nespresso (R$ 6,50).  Preços: Entradas de R$ 28 a R$ 48; pratos de R$ 45 a R$ 78; sobremesas (R$ 16 a R$ 20). Brunch, R$ 98 por pessoa. Executivo, R$ 65.  Vou voltar? Sim, numa segunda-feira de sorte e bolso cheio, para comer e apostar.   SERVIÇO - VALERO Av. Lineu de Paula Machado, 1.263, Cidade Jardim Tel.: 3031-7979.

Horário de funcionamento: 12h/16h (sáb., dom. e fer., até 17h; 2ª, 12h/16h e 19h/23h).

PUBLICIDADE

Não tem bicicletário.

Ciclovia na própria avenida do Jockey.

Valet (R$ 20).

>> Veja a íntegra da edição de 28/1/2016

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE