O mundo do vinho passou esta quinta-feira (8) em polvorosa, em apoio a um garagista. O produtor de vinhos naturais gaúcho Eduardo Zenker, da Arte da Vinha, teve toda a sua produção do ano e sua reserva técnica (safras antigas que ficam para análise e degustação) apreendidas pela Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul na quarta-feira (7), em Garibaldi (RS). De acordo com o termo de inspeção da secretaria, os vinhos e outros materiais como garrafas, etiquetas e maquinários foram apreendidos por terem sido encontradas irregularidades sanitárias.
A Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul afirmou que a clandestinidade foi o maior problema do produtor gaúcho. Dentro das condições em que operava, fazer vinho na garagem de casa com uvas compradas de amigos, Zenker poderia apenas produzir para consumo próprio. Para comercializá-los, precisaria de um registro no Ministério da Agricultura.
Zenker é o que o mundo do vinho categoriza como "garagista", um pequeno produtor que elabora vinhos com mínima intervenção enológica na garagem de casa. Desta forma, não usa muito dos produtos enológicos (leveduras adicionadas, químicos, etc.), tampouco tem grandes estruturas como as vinícolas grandes. Em vez de tanques de aço inoxidável, usa pipas de polipropileno.
Embora pareça algo muito brasileiro, a prática é comum em países célebres pelo vinho, como a França, que tem em Jean-Luc Thunevin um de seus principais nomes.
Em entrevista ao blog, Eduardo Zenker se disse "chocado" por ter os vinhos "bloqueados". Ele é o fiel depositário da sua produção, o que significa que ele está de posse de todas as garrafas, mas não pode fazer nada com elas, apenas guardá-las. E tem 20 dias para apresentar sua defesa. "Como levaram vinhos para análise, eu corro risco de ser penalizado criminalmente. Muito complicada a situação", afirma. O garagista não tem ideia de quantas garrafas foram apreendidas. "Era tudo o que eu tinha, tem estoque técnico, vinhos de 2008", diz.
Zenker diz que já tinha informações que havia denúncias sobre ele. "Depois que apareci em um programa de rede nacional, muita gente disse que brios ficaram feridos", afirma. Ele se referia a um Globo Repórter.
Por meio de nota, o Ibravin se manifestou sobre o assunto para afirmar que tem uma série de ações para auxiliar a formalização dos micro e pequenos produtores. Segundo o instituto, o Simples nacional para as vinícolas e para a regulamentação do vinho colonial podem ser um caminho para produtores de pequenos volumes. "O Ibravin está de portas abertas e à disposição para auxiliar todos que tenham interesse em se formalizar e atuar de forma colaborativa", afirma a nota.
Transição para o natural. Produtor desde 1999, Eduardo Zenker começou a fazer vinhos da maneira tradicional, até que uma "crise de identidade" o abateu. "Eu não estava feliz ao inocular leveduras importadas da França, da Itália, que não refletiam o meu terreno, o meu quintal. Abri mão de todos os produtos enológicos para realmente expressar a serra gaúcha, o que representa o solo", afirma.