Sempre me causa espanto quando ouço de produtores ou importadores de vinho que a cerveja é um concorrente, um rival que impede o crescimento do vinho no Brasil. Na Califórnia, um estado produtor de vinhos que conta com muitas pequenas (e grandes) cervejarias artesanais, um terceiro elemento foi levado para a análise: a maconha. Em agosto deste ano, o estado realizará o simpósio Wine & Weed, em que produtores de vinho e de cannabis (termo que eles preferem) discutirão temas e oportunidades comuns trazidos pela legalização da maconha ao mundo do vinho.
O colunista de vinhos do New York Times, Eric Asimov, escreveu há duas semanas sobre o tema e sobre como, nos estados em que a maconha foi legalizada seja medicinalmente ou recreativamente (Califórnia, Washington e Colorado), o único mercado a perder consumidores foi o das grandes indústrias de cerveja. Segundo ele, o consumidor de vinhos finos, cervejas artesanais e cannabis "premium" -- assim como o vinho, há diferentes cepas, modos de produção e o resultado é de maior ou menor qualidade a depender do cuidado do produtor -- compartilham importantes características: um certo sentimento de apreciação e vontade de conhecer mais sobre origem, geografia, história e paladar.
"Muitos começam a explorar o vinho, a cerveja e os destilados a partir de uma curiosidade pelo álcool e, para alguns, a razão de se beber é principalmente o efeito químico. Para outros, há outras considerações ao explorar cerveja, destilados e vinho. Como é o cheiro e o gosto? Como combina com comida? Qual é a uva? De onde vem? Quem fez este vinho e qual sua história? Como expressa uma cultura? (...) A maconha inspira uma conversa diferente", escreve Asimov.
O simpósio Wine & Weed pretende discutir similaridades entre os dois universos: "as duas indústrias são baseadas em áreas rurais com grande ênfase na agricultura e na qualidade. A origem é um importante diferencial nas duas categorias", diz o site do evento, que afirma ainda que tanto maconha quanto vinho "compartilham um consumidor comum e que (nos Estados Unidos) serão regulados pela mesma agência de governo".
Por fim, o site informa que a indústria da cannabis está estudando o modelo adotado pela do vinho no que diz respeito a marketing, hospitalidade e outros programas voltados ao consumidor.
A Espanha foi o primeiro país que criou um vinho a partir de maconha e o lançou comercialmente, o CannaWine. Asimov, do NYT, lembra em sua reportagem que muitos produtores de vinho da Califórnia e da França também produzem maconha e produzem vinhos com ela. Ele diz, que não experimentou o CannaWine, mas já provou outros feitos em caráter experimental. Sua conclusão é que eles dão um "barato suave" e que se destacam por seu caráter... herbal.