A kölsch, a ‘chaminé’ e o tempo passado
Bamberg Kölsch (Brasil, 600ml)
Produtor: Cervejaria Bamberg, de Votorantim (SP)
Estilo: Ale / Kölsch
Teor alc.: 4,8%
Cor: Dourado médio (em relação às demais), translucidez alta, límpida
Espuma: Branca, média a alta formação, consistente, formando “touca” no copo, média a alta duração
Aroma: Malte, leve frutado, notas de lúpulo floral e cítrico, biscoito
Sabor: Malte, biscoito, leve doçura inicial (sensação de mel), depois final seco e leve acidez. Corpo médio para o estilo, amargor médio, dentro do padrão, carbonatação média a alta. Conforme esquenta, sabor de lúpulo cítrico e floral se torna mais presente, chegando a se sobrepor aos demais elementos.
Nota 4,0 em 5 – Favorecida pela juventude (vence em agosto) e pelo transporte mais curto a São Paulo (é de Votorantim), tem nuances delicadas de malte, frutado e lúpulo mais presente. Lúpulo, porém, poderia ser um pouco mais contido para dar mais espaço às notas frutadas. Refrescante.
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Gäffel Kölsch (Alemanha, 350ml)
Produtor: Cervejaria Gäffel, de Colônia (Alemanha)
Importador: Stuttgart
Estilo: Ale / Kölsch
Teor alc.: 4,8%
Cor: Dourado médio (em relação à Früh, mas menos que a Bamberg e a Eisenbahn), translucidez alta, límpida
Espuma: Branca, média formação e média a baixa duração
Aroma: Leve oxidação (papelã0), malte, leve lúpulo (resiste melhor que a Früh), mel
Sabor: Malte, biscoito, leve adocicado inicial, leve oxidação de papelão, final seco (mais que a Bamberg). Amargor médio a alto para o estilo, corpo médio, carbonatação média a alta.
Nota 3,0 em 5 – Segunda do grupo com maior validade (29 de maio), já apresentava início de oxidação. Mas tem bom amargor e final seco. A importadora informa que, como não é uma cerveja pasteurizada, ela tem validade menor e fica mais sujeita à oxidação. Era do lote mais recente trazido ao Brasil.
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Eisenbahn Kölsch (Brasil, 355ml)
Produtor: Cervejaria Eisenbahn, de Blumenau (SC)
Estilo: Ale / Kölsch
Teor alc.: 4,8%
Cor: Dourado escuro (a mais escura do grupo), translucidez média a alta
Espuma: Branca, média a alta formação e duração
Aroma: Malte, nota adocicada/caramelada, leve frutado, sem sinal de lúpulo
Sabor: Malte, adocicado, nota caramelada, oxidação de papel. Final adocicado e com secura sutil, sem acidez nem lúpulo aparentes. Amargor médio a baixo para estilo, carbonatação média, corpo médio a alto para o estilo.
Nota 2,7 em 5 – Próxima de seu vencimento (5 de março), já mostrava sinais de oxidação. Mas parece fugir do estilo em termos de cor (muito escura) e presença de malte, que domina aroma e sabor. Poderia ser mais seca e menos densa, além de ter notas frutadas e de lúpulo. Tem como diferencial o uso de trigo, informado no rótulo pelo produtor. A Eisenbahn informa que já há lotes mais novos no mercado. Com o nome de Eisenbahn Dourada, a Kölsch é uma das referências comerciais do estilo no guia de diretrizes cervejeiras feito pela Beer Judge Certification Program, entidade dos EUA que forma juízes de concursos cervejeiros.
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Früh Kölsch (Alemanha, 500ml)
Produtor: Cervejaria Früh, de Colônia (Alemanha)
Importador: Uniland
Estilo: Ale / Kölsch
Teor alc.: 4,8%
Cor: Dourado claro (a mais clara do quarteto), translucidez média a alta, límpida
Espuma: Branca, média formação e média a baixa duração
Aroma: Oxidação (papelã0) destacada, malte, grão, nota cítrica quase imperceptível (?)
Sabor: Malte, oxidação de papelão, adocicado mais presente que o da Bamberg, final doce, com nota seca muito fraca. Leve acidez, amargor baixo, corpo médio, carbonatação média a alta
Nota 2,2 em 5 – A mais próxima do vencimento (4 de março), já apresentava sinais claros de oxidação e perda de qualidades. Viagem também não contribui. Importador diz que lotes mais jovens estarão no mercado em algumas semanas. Provei a cerveja no bar da marca em Colônia em 2010; à época, dei a ela nota 3,7 em 5 e a seguinte avaliação: “Boa cerveja, um pouco mais puxada para o malte que para o lúpulo, apesar do final seco. Podia ter um pouco mais de lúpulo no aroma e sabor.”
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(Texto publicado na edição de 9/2/2012 no caderno Paladar do Estadão)
Há um ditado cervejeiro, oriundo da Alemanha, que associa a qualidade da bebida à distância de onde ainda é possível ver a chaminé da fábrica em que ela é produzida – ou seja, quanto menos viajam, melhor. No caso do estilo kölsch, a regra pode ganhar a variável tempo: quanto mais fresca, melhor.
Originária da cidade alemã de Colônia, a kölsch é dourada, límpida, com espuma branca de boa formação. Até aí, parece com a pilsen. Mas, ao contrário do estilo nascido na República Checa, que é lager (de baixa fermentação), a kölsch é ale (de alta fermentação). O livro The Oxford Companion to Beer remete a criação do estilo alemão ao início do século 19, como resposta dos cervejeiros de Colônia à “invasão” de lagers da Boêmia. Hoje, há 20 produtores na Alemanha que têm o direito de usar o nome do estilo, servido em copos cilíndricos de 200 ml, os stangen.
Uma kölsch tem, no aroma e sabor, delicadas notas frutadas e de lúpulo e alguma acidez. No Brasil, há poucos representantes do estilo. Um deles, da Cervejaria Bamberg, foi lançado semana passada. Há ainda a Eisenbahn, de Blumenau (SC) – precursora das nacionais – e as alemãs Gäffel e Früh. Todas têm 4,8% de teor alcoólico. Degustei-as lado a lado.
Mais jovem do grupo (a validade expira em agosto) e menos “viajada” (porque é de Votorantim), a Bamberg mostrou boas notas de malte, leve frutado e lúpulo cítrico e floral, que podia, contudo, dar um pouco mais de espaço ao frutado.
As duas alemãs eram dos lotes mais recentes no País. A Früh, que vence em março, apresentava oxidação no aroma e sabor. O importador informa que um novo lote, mais jovem, chega em algumas semanas. A Gäffel, que vence em maio, tinha sinais sutis de oxidação, leve lúpulo, amargor e secura mais destacados que na Bamberg. O importador informa que, por não ser pasteurizada, é mais sensível que outras cervejas; e sua validade, mais curta.
Mais escura, a Eisenbahn usa trigo na receita. O malte se destaca no aroma e sabor. Faltam, porém, notas mais presentes frutadas e de lúpulo e final mais seco. Ela é, porém, uma das referências comerciais de kölsch no guia de estilos de entidade dos EUA que forma juízes cervejeiros.
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