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Açúcar ou adoçante?

A gente sabe que o café especial tem uma doçura natural, irresistível e que, para muitos, colocar uma pitadinha de açúcar é um crime. Mas estamos aqui para absolver você dessa culpa. A patrulha que nos perdoe, mas uma colherzinha não faz mal a ninguém. ?Não é errado adoçar o café?, sentencia Ensei Neto, consultor de cafés e coffee hunter. ?É uma questão cultural. A bebida era ruim, de baixa qualidade, se torravam muito os grãos. E se amargor é contraponto de doçura, açúcar nele.?     Faz sentido ainda ter virado hábito em um país produtor de cana-de-açúcar desde a época da colônia. A matéria-prima abundante foi mais um fator que colaborou para que essa cultura do café adoçado se perpetuasse. Note-se, com características regionais: ao Norte, que manteve processos mais rústicos no manejo da cana, se tornou comum o uso da rapadura para complementar a bebida.   Em todo o país, buscamos instintivamente esse ?docinho?, uma memória sensorial remota, que esbarra nos cafés especiais à disposição no mercado de hoje. Verdade seja dita, às vezes, ainda nesse contexto, é útil para corrigir problemas de torra, um tanto comuns.   Como adoçar? Especialista em avaliação sensorial e engenheiro químico por formação, Ensei Neto ajudou o De Grão em Grão a provar vários tipos de açúcar e de adoçantes para descobrir qual deles interfere menos no sabor da bebida. Ao todo, foram onze métodos para adoçar, testados no Centro de Preparação de Café, do Sindicafé - SP.   Usamos um grão arábica da variedade Iapar 59, desenvolvida pelo Instituto Agronômico do Paraná, e cultivado em Pedra Azul, distrito do município de Domingos Martins, no Espírito Santo, de forma sombreada. Trata-se de um natural, graúdo (peneira acima de 19), que se mostrou neutro, não muito frutado ? o que poderia dificultar a percepção dos açúcares.   Adotamos uma concentração de 8% de pó e o líquido foi coado em filtro de papel, numa máquina profissional da Bunn, por meio de extração rápida. Depois, provamos os cafés em doses de 100 ml, que receberam 5 g de açúcar cada um (e o equivalente para adoçantes), pouco menos do conteúdo de um sachê de açúcar refinado, que contém 6 g. Todos os itens foram pesados em balança eletrônica de precisão.   Ensei, que na década de 80 trabalhou no desenvolvimento de compostos para adoçantes, avisa: o ideal é interferir o mínimo na bebida. Ou seja, se diante de um excelente café você conseguir reduzir a quantidade de açúcar, tanto melhor. ?O limiar de percepção de sabor doce para a maioria das pessoas corresponde a 0,5% de concentração. Quanto maior a sensação de açúcar, mais se altera a avaliação de corpo?, explica. Ao chegar em 2% (2 g de açúcar para 100 ml de café) já se tem uma bebida bastante doce. Ou seja, os 5% que usamos é o limite. A partir desse ponto, deixa-se de perceber os sabores do café. Mas não se culpe: veja a seguir quais são as melhores formas de adoçar seu cafezinho.       O teste Dividimos a avaliação em duas fases: açúcar e adoçantes. Adicionamos o ingrediente e mexemos até dissolver bem.   Açúcares   Açúcar refinado   Doce na medida. Notas frutadas ficaram mais evidentes. O refinado retardou a percepção da acidez, porque houve um impacto de doçura. É um método para pessoas que não gostam de sabores intensamente ácidos. Por fim, a persistência do gosto do café é maior. Traz uma nota ?quente? pelas características de sacarose, que não é refrescante.   Resultado: interfere muito pouco no sabor do café. No nariz, não altera seu aroma.   Açúcar refinado granulado, em cubos É um grãozinho um pouco maior que o refinado e mais fino que o cristal. Deixamos hidratar um pouco para depois dissolver. A acidez vem mais rápido e a percepção de corpo é menor. O modo como o açúcar se dissolve é diferente: ele se distribui melhor na bebida.  É menos agressivo.   Resultado: interfere mais no sabor original do café, mas não prejudica. No nariz, não altera seu aroma.   Açúcar cristal Demora a se dissolver, portanto foi preciso mexer muitas vezes. Adoça bem, mas dá a impressão de que se está chupando cana. É um sabor da roça que se começa a sentir. ?Uma roça chique?, diz Ensei.   Resultado: aqui já ocorre interferência no sabor original da bebida.   Açúcar demerara orgânico em cristais A dificuldade para dissolver o açúcar é ainda maior. Este é um produto mais rústico, com substâncias ainda decorrentes da cana. A interferência do gosto de cana de açúcar é evidente, embora a intensidade de doçura seja similar à do açúcar cristal.   Resultado: dos açúcares, é um dos que mais interfere no sabor do café.   Açúcar demerara Naturale União É um cristal mais moído e mais escuro, diferente do demerara clássico. Aqui, parece se ter retrocedido para o açúcar cristal. Se tem o gosto de cana, mas menos evidente que o anterior.   Resultado: interfere no sabor   Açúcar mascavo Dissolve rápido e a princípio parece mais suave, já que não há potência em doçura. Mas as impurezas do café revelam um gosto vegetal acentuado. Atua como rapadura.   Resultado: interfere muito, tanto no paladar como no nariz   Melado de cana Usamos 4 g a cada 100 ml de café. Se sente só o gosto da casca da cana. ?Se fosse uma cachaça, seria uma Claudionor.? É um xarope de cana, puro caldo que matou a bebida.   Resultado: praticamente não se sente mais gosto de café   Adoçantes Por definição, os adoçantes sempre interferem mais no sabor da bebida do que o açúcar. Veja como os principais atuam.  

 

 

Sacarina sódica + ciclamato de sódio

Usamos a versão líquida em duas concentrações: 4 gotas, recomendação do fabricante e que equivale a uma colher de chá de açúcar, e 8 gotas, compatível com o método adotado por nós de 5 g de açúcar. É uma combinação dos dois compostos adoçantes mais antigos do mercado. Traz um amargor no final típico de remédio, característico do ciclamato. No fim, se saliva muito devido a esse gosto. A sacarina, em especial, lembra alcaçuz. Persiste muito tempo na boca e apaga o café. Nas duas concentrações só mudou a potência. Quatro gotas já adoçam bastante.  

Resultado: interfere muito no sabor da bebida

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Stevia

Tem amargor acentuado, que lembra erva. É uma finalização mais forte que a do ciclamato. Lembra jiló. Se saliva muito.  

Resultado: a interferência é grande, mas ainda menor que o ciclamato

 

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Aspartame

Dá sensação de boca seca que não se verifica nos demais. A finalização parece um ?estilingue?: vem de repente. Tem um gosto de ?capim?.  

Resultado: ainda assim, interfere menos que os demais

 

Sucralose

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Parece o açúcar refinado. Uma finalização similar, embora a nota seja menos ?quente?. É o adoçante mais recomendado, pois leva à memória gustativa da sacarose e da glicose.  

Resultado: interfere pouco

 

Dicas para adoçar em outros métodos de extração

    Usamos o café de coador, mais suave, para fazer o teste. Mas você também pode colocar a colher em outros cafezinhos. Anote a regra geral: quanto menor o tempo de extração, menos amargor. Extrações mais lentas tendem a trazer mais amargor.  

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Expresso:

na extração mais concentrada, se coloca a mesma quantidade de açúcar que usamos no coado. Os mesmos 5 g de açúcar refinado usados para incrementar 100 ml de coado são incluídos no expresso, que tem entre 30 a 50 ml. Em geral, o expresso apresenta amargor pela permanência dos óleos na crema. Assim, em uma bebida que tenha menos açúcares naturais, o amargo fica mais evidente. No fim, depende de sua escolha pessoal.  

Prensa francesa:

os óleos são dissolvidos no líquido e a percepção de doçura é menor. Em geral, acaba-se adoçando mais. Por isso, cuidado na dose.  

Aeropress:

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espessura da moagem, tempo de contato com a água e volume interferem no resultado. Costuma ser preciso adoçar menos do que um café feito na prensa.  

Chemex e Hario V60:

 a Chemex tem um tempo de extração mais longo, enquanto na Hario V60 se observa o processo de forma mais rápida. Na Hario predominam acidez e doçura, sem amargor. Já na Chemex, o contato prolongado do pó com a água pode resultar numa bebida que demanda mais açúcar.    

Eles também são amigos do cafezinho

   

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Leite

: o sabor do leite é adocicado. Um café especial também tem sua doçura. Por isso é preciso ter parcimônia. Coloque o mínimo de açúcar necessário.  

Com docinho para escoltar

: um café compatível com o quitute (especialmente em restaurantes) já promove a boa harmonização. Redobre os cuidados ao adoçar o café.      

* Agradecimentos: Sindicafé - SP e Senac Aclimação (produção de fotos)

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