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Risco ocupacional

Eu tenho um problema com balas.

Toda vez que viajo a trabalho, eu pareço um desesperado. Eu levo uma mala extra só para trazer um pequeno estoque. Já cheguei a gastar US$ 300 só em balas, o que me rendeu quase uma semana no sofá da sala, tamanha a fúria que isso desencadeou na minha esposa.

Eu entro nas lojas e pareço um doido, com o carrinho lotado de balas. Em uma ocasião, a operadora do caixa ficou seriamente preocupada com a quantidade que eu levava...

- Senhor, o senhor realmente quer levar tudo isso? - Sim, eu quero. - Sabe, aqui não é uma loja que vende no atacado. - É para meu consumo mesmo. - Ai meu deus...

E com uma balançada de cabeça emblemática, ela passou a quantidade pantagruélica de balinhas. Aquele estoque de Altoids deu para um ano inteiro, bons tempos.

Além do dano monetário, as balinhas também já me causaram constrangimentos enormes. Em uma viagem, eu abri meu passaporte na imigração americana e um chiclete, que devia ter ido parar, sei lá eu como, dentro do documento, pulou na mesa do oficial.

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- O senhor está tentando me subornar? - perguntou ele, seríssimo. - De modo algum! Me desculpe - respondi, amedrontado. - Se for suborno, eu devo prendê-lo. Duas vezes, pois além de corruptor, o senhor terá oferecido o suborno mais vagabundo da história. - Disse ele, sorrindo, depois de perceber o mal entendido.

Eu sempre sofro nos aeroportos por causa das minhas guloseimas. Uma vez um segurança me viu pegando o que parecia um comprimido em uma latinha e fazer uma cara estranha.

Ele me deteve e levou para uma salinha. Lá, ele perguntou que tipo de droga eu estava usando. Assustadíssimo, disse para ele que nem Aspirina tomava. Achando que eu estava brincando com ele, deu um tapa na mesa e foi falando duro:

- Você acha que sou idiota? Eu vi, você colocou um comprimido na boca, ficou com o olho vermelho e começou a respirar ofegante! - Eu não tenho drogas, nunca usei e, de verdade, você acha que eu usaria aqui, desse jeito? - Drogado não tem noção. - Disse ele, me revistando e interceptando uma latinha com umas mentas italianas absurdamente fortes, chamadas Mental, que eu tinha trazido.

Ele me olhou, olhou a latinha... me olhou de novo e me disse que ia chamar alguém que entendesse italiano. E disse, convicto, que "Mental" parecia gíria para droga.

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Imediatamente, eu falei para ele que a bala era forte mesmo, por isso a reação do meu corpo ao prová-la. Ele, incrédulo, chamou uma pessoa pelo rádio e ficou me olhando.

Como tinha ido viajar a trabalho, ficar lá era a última coisa que poderia fazer. Se não corresse, ia perder vários compromissos.

Então, tomado pelo senso de dever, pequei a latinha, tirei 4 balas e coloquei na palma da mão. O Policial, preocupado, me perguntou o que eu faria.

- Ora, vou provar que isso não é droga. - respondi, decidido. Então, enfiei todas as balas na boca. Meu olho começou a lacrimejar na hora. Minhas narinas se expandiram tamanha a pedrada. Alcaçuz e menta fazem uma combinação explosiva.

O policial arregalou o olho e começou a falar que eu ia morrer de overdose no turno dele.

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Eu, lutando com a agressão mentolada, respondi que aquilo era só bala mesmo, para ele me liberar.

Ai, chega a pessoa que fala italiano. Era um policial, mais velho. Ele viu a balinha, viu a latinha, viu meu sobrenome no passaporte. O outro policial contou o que aconteceu para o mais velho, que só ouvia.

Então, ele olha para mim e pergunta: - Fala italiano? - ele perguntou, no idioma dos meus antepassados de Napoles. - Só entendo - respondi, em um italiano vergonhoso. - Desculpa o que aconteceu. Esse ai é um imbecil, não sabe nem reconhecer uma bala.

Então, ele explicou que só era bala, o outro policial ficou perplexo e eu fui liberado. Quando eu sai, ainda deu para ouvir o sermão que o italianão passou no policial.

Tempo perdido: 1 hora. Ao menos meu hálito ficou sensacional por umas 3 horas. Mas nunca mais consegui ver uma Mental sem sentir raiva.

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E essa foi apenas um dos muitos apuros em que minha paixão por balas me colocou.

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