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A peixada do João

Já escrevi aqui sobre meu pai, na ocasião de sua morte, em 2009. Um post que, por razões óbvias, não tinha tanto a ver com gastronomia ? embora o tema também fizesse parte daquele texto. Agora, puxo de novo a tainha, ou melhor, a sardinha, para os domínios do blog, e repito a dose. No dia em que ele faria 80 anos (é hoje!), relembro uma de suas receitas preferidas. Na verdade, uma das pouquíssimas que ele se arriscava a executar, já que minha mãe sempre cozinhou muito bem. Não era bem uma receita, pensando melhor. Era um preparo genérico, onde ele misturava memórias, gostos específicos, intuições (e uma certa falta de paciência com procedimentos mais intrincados). Acontecia de vez em quando, normalmente aos sábados. Ele ia (a pé) ao Centro, comprar algo, fazer coisas. Passava na peixaria e trazia algum exemplar de preferência bom e barato. Gostava especialmente de tainha, peixe apreciado por suas ovas, entre outras coisas, e muito consumido onde ele nasceu, em Cananéia, no litoral, extremo sul do Estado ­? e que, como se sabe, inspira uma celebração tradicional em vários pontos do Sudeste/Sul (vocês já devem ter visto imagens da festa da tainha na costa do RS, por exemplo, com aquelas centenas de peixes espetados na taquara, preparados ao ar livre). Quando ele estava disposto, fazia tudo, de cabo a rabo. Caso contrário, começava e passava a tarefa para minha mãe, para que ela desse ?uma ajeitada? no prato. Eu lembro vagamente dos passos, da ordem das coisas. Minha mãe me ajudou na reconstituição. Era assim. Ele cortava a tainha, já limpa, em postas. Numa panela, esquentava um pouco de azeite e dava uma ?dourada? no peixe. Punha sal e pimenta, acrescentava água e adicionava cebola em rodelas, pedaços de tomate, louro, cheiro verde. Deixava lá, fervendo, meio a olho. Para acompanhar, arroz branco, do qual ele não abria mão (inclusive aos domingos). E, vejam só, parece até combinado: estamos justamente em tempo de tainha. Se alguém quiser arriscar...

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