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Como se diz trattoria em iídiche?

Publicado no Paladar de 19/03/2009 Não me lembro de uma outra trattoria que tivesse uma mezuzá na entrada. Mas isso não é problema, porque os proprietários também não têm nada de italiano. E a mezuzá (esclarecendo: é aquela caixinha retangular que as casas judaicas mantêm no batente da porta, com um versículo da torá), no fim das contas, é só mais um elemento dentro do espírito cosmoplita da Tappo, o ristorante do chef Beny Novak. A trattoria completou um ano no final de 2008. Os primeiros meses, do ponto de vista da cozinha, não foram tão harmônicos, e a casa teve que passar por acertos. Agora, à maneira do que o cozinheiro conseguiu em seu restaurante mais famoso, o Ici Bistrô, a Tappo atinge uma certa velocidade de cruzeiro, sem grandes surpresas e sem turbulências. É um lugar para se fazer uma refeição correta, do início ao fim - o que não é pouca coisa. O italianismo da Tappo não se apega às linhas divisórias do mapa da "bota". Seu cardápio é quase uma coletânia de pratos de várias regiões, de diversas tradições, uma espécie de unificação nacional sem tensões nem rivalidades resmungadas em dialetos estranhos. Pode tanto entrar pelo Piemonte, com sua carne all'albese, e sair pela Sicília, com os Canoli. Mas a ausência dos laços de sangue não tornam ilegítima, pelo contrário. A Tappo é italiana por escolha gastronômica, e poderia estar em qualquer grande cidade, com seu salão minúsculo e elegante (que no passado, pertenceu ao Namesa, de Alex Atala), com sua identidade que é mais urbana do que étnica. Eis o resumo da história: um mestre-cuca de origem judaica que estudou na inglaterra, aprecia cozinha clássica francesa, mas vem se encontrando entre massas e molhos. Algo, enfim, bem paulistano. Na concepção de cozinha deste pequeno restaurante não há espaço para o rebuscamento, mas também não há concessão ao simplismo. E, se o cardápio desperta o interesse por várias entradas e pratos, eu diria o seguinte. Que você precisa provar os cozze alla marinara (R$ 22), mostrando que Novak, como faz no Ici, trabalha bem com mexilhões, servindo-os aqui com um ótimo molho com tomate e vinho branco. Que não se arrependerá ao escolher a lasanha à bolonhesa (R$ 33), montada na hora, com massa firme e molho equilibrado. Ou ainda poderá optar sem susto pela pasta con le sarde, o bucatini com sardinha à moda siciliana (R$ 34). E se sairá bem ao pedir o carré de porco com maçã (R$ 41), repolho e couve-flor gratinada. Na disputa das sobremesas, talvez o semifredo de chocolate (R$ 14) tenha levado ligeira vantagem sobre o tiramisù (R$ 15), mas isso é apenas um detalhe, não um ponto de acalorada competição. Afinal, esta é uma trattoria que não precisa se fingir de italiana. Tappo Trattoria Rua da Consolação, 2.967, Jardim Paulista, 3063-4864 12h/15h e 19h/0h (6ª e sábado, até 0h30; domingo 12h30/17h; fecha 2ª) Cartões: todos Cardápio: italiano, de várias regiões, simples, mas feito com técnica. Avaliação: você pode comer bem sem ter de fingir que está na Itália

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