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É só um bar? Não importa

Publicado no Paladar em 29/11/2008 Muitas vezes estabelecemos separações e fronteiras sobre ideias, lugares e experiências que, não necessariamente, correspondem ao nosso melhor julgamento sobre uma certa questão. Para ser mais específico, frequentemente vamos a bares que cumprem melhor as funções de restauração do que muitos lugares tidos como gastronômicos, e vice-versa. Pense nas mais bem-feitas caipirinhas que você já tomou, nos dry martinis mais marcantes que já provou. Talvez muitos deles tenham sido sorvidos em lugares identificados como restaurantes. Agora lembre de bons pratos que tenha experimentado ultimamente. Quem sabe vários deles tenham sido servidos na mesa ou no balcão de um bar? Voltando então às tais delimitações, o que nos faz traçar linhas divisórias do tipo "isto é um bar, aquilo é um restaurante"? O ambiente, o serviço, uma autodeclarada pretensão? O fato é que, conforme identificamos - em geral, inconscientemente - de qual tipo de experiência estamos participando, nossa acuidade pode se voltar para aspectos diferentes. Neste momento, o que quero perguntar é: se você já foi à Adega Santiago, prestou atenção na comida, apesar do ambiente informal, por vezes barulhento e pouco confortável? Pois ela é boa. E tem ficado mais consistente, desde que a casa foi aberta, há dois anos. Esta, digamos, tasca moderna, de móveis rústicos e serviço ágil, não se aventura a ter cozinha de autor, nem investe em invenções. O ideólogo - também responsável pela bem montada carta de vinhos - é o proprietário, Luís Felipe Moraes, que propõe aqui uma culinária baseada em tradições de Portugal e da Espanha. Seu cardápio realiza uma espécie de utopia da Ibéria unida, onde galegos mantêm saudável camaradagem com alentejanos, minhotos se afinam com catalães. Uma cozinha de domínio público, mas executada com bons ingredientes e considerável técnica. Seus petiscos e tapas são gostosos - camarões no alho, bolinhos, porções de jamon com manchego, etc. Mas, para não fugir da proposta inicial, vamos falar dos pratos, que aterrissam na mesa escoltados por guardanapos de pano e talheres decentes. O menu, de forma geral, é repleto de coisas atraentes. A Adega está equipada não apenas com fogão convencional, mas com grelha a carvão e forno a lenha. Muitos restaurantes não dispõem de um aparato assim. E a partir desses recursos sua cozinha consegue extrair resultados muito interessantes - pratos de sabor pronunciado, mas sem perder a elegância, francos, bem servidos. Seu polvo à lagareiro (R$ 51), por exemplo, é tenro, grelhado na medida certa. O arroz de pato (R$ 44), úmido e equilibrado, de sabor profundo, vem com um belo confit. O bacalhau assado no forno a lenha (R$ 66, com batatas, cebolas, azeitonas, ovos), um Gadus morhua muito bem selecionado, vem dessalgado no ponto e pode ser incluído entre os bons do gênero na cidade. Mas a noção de limites e fronteiras se embaralha ainda mais na hora da sobremesa, já que os doces são feitos na casa. Prove, por exemplo, a torta Santiago (R$ 9,50) ou a crema catalana (R$ 9,50)e pergunte-se: isto é comida de bar? Já não importa. Em tempos de crise, em que tomamos mais consciência de quanto anda valendo nosso dinheiro, este é um lugar onde se pode apreciar, com decência, itens que seriam muito mais caros em outro tipo de estabelecimento. Até porque os pratos são fartos e, portanto, convidam a compartilhar. ADEGA SANTIAGO R. Sampaio Vidal, 1.072, J. Paulistano, 3081-5211 12h/15h e 18h/0h (sex. e sáb. até 0h30; sáb. 12h30/0h30 e dom. 12h30/23h) Cartões: Todos Cardápio: Com muitos itens da cozinha regional ibérica Avaliação: Vá, peça vários pratos e compartilhe

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