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Não é só um restaurante de bairro

Ao final de três visitas ao Ton Ton, aberto em novembro no Jardim Paulista, achei que seria fácil escrever a resenha, já que havia bastante coisa para ser relatada. Por outro lado, as possibilidades de abordagem eram tão variadas que foi difícil eleger o que contar. Eu poderia, por exemplo, iniciar comentando sobre o posicionamento bem definido ? ambientação despojada, mas charmosa, preços condizentes, serviço sem salamaleques. Ou falar sobre o cardápio sucinto, sutilmente autoral, mezzo contemporâneo, mezzo brasileiro, sem desprezar os standards. Mas vou abrir expressando a satisfação de constatar que a casa trata bem as coisas do mar, algo ainda raro por aqui. Pescada-cambucu, badejo, camarão... Tudo que provei foi bem executado pelo chef e proprietário, Gustavo Rozzino. Já retorno aos pescados.

Ton Ton. Uma casa que trata bem coisas do mar, a preços condizentes. Foto: Felipe Rau/Estadão

Cozinheiro de formação eclética, Rozzino seguiu um percurso dos mais peculiares. Trabalhou em lugares como o Manacá, em Camburi; o Sadler, de Milão; foi mestre-cuca de magnata russo em Londres, onde também integrou o Mocotó, que servia comida brasileira na capital inglesa. De volta a São Paulo, abriu o Bola Preta, na Rua José Maria Lisboa ? um projeto que teve altos e baixos, mas já continha o cerne que, de forma mais bem acabada, desembocou no Ton Ton. Até com certa despretensão, a nova casa se apresenta com um restaurante de bairro, com influências da bistronomia. Eu acho que vai além.

Sempre presente na cozinha, o chef libera com desenvoltura entradas bem servidas como a terrine de porco e pistache (R$ 29), macia como um patê; os tijolinhos de queijo coalho (R$ 19), modelados como se fossem samosas; o folhado de cordeiro desfiado (R$ 29) e a salada de quinoa, avocado, ervilha e rúcula (R$ 18). Capricha na profundidade de sabor do ragu de rabada que envolve o radiattore (R$ 34), estritamente al dente. Extrai a melhor textura de pescados como a pescada-cambucu (R$ 51), com arroz negro, quiabo e beurre blanc, e o badejo (sugestão do dia, fora do cardápio, R$ 51) com arroz de grãos. E brilha particularmente na moqueca (R$ 52), servida empratada, que é leve, aromática, com tamboril, lula e camarões de cocção meticulosa. Em resumo, Rozzino demonstra estar seguro de suas propostas. E parece estar contando uma história que é sua, sem se apoderar de narrativas alheias nem levantar bandeiras. Está só preparando os pratos que, imagino, goste de comer. Não é alta gastronomia, não há concepções revolucionárias. Mas esse é o tipo de restaurante que pode ajudar a dar mais musculatura ao cenário paulistano: com mais atenção à cozinha, menos ao supérfluo.

Por que este restaurante?

É uma boa novidade. Pela relação preço/qualidade. Pela cozinha equilibrada, de bons ingredientes.

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Vale?

É possível fazer uma refeição completa abaixo de R$ 100. A água em jarra é parte do couvert (R$ 5 ao meio-dia, R$ 8 à noite). O menu executivo varia entre R$ 29 e R$32, destacando sempre o arroz com feijão. A carta de vinhos têm rótulos simples, mas bem escolhidos, a preços amigáveis, e a rolha custa R$ 30. Vale.

Serviço - TonTon

R. Caconde, 132, J. Paulista Tel.: 2597-6168 Horário: 12h/15h e 19h30/23h (sáb., 13h/16h e 20h/23h30; dom., 13h/18h; fecha 2ª). Cc.: todos

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