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Paisagem de resistência

Publicado no Paladar de 12/7/2012 O Terraço Itália, antes de tudo, é uma vista. Quando se trata de um restaurante no topo de um edifício de 170 m de altura, é mesmo improvável que a paisagem não assuma status de prato principal. Certo, pode ser um passeio clichê. Pode ser um programa à antiga. Mas continua divertido ter de pegar um elevador no térreo e subir até o 37º andar, fazer a baldeação, tomar outro até o 41º e, ao entrar no salão, impressionar-se com aquele mar de prédios. Um cenário que me parece mais interessante à noite do que de dia. Embora os turistas continuem lá, falando em várias línguas e sotaques, assim como muitos casais, além de executivos, sempre faltou ao Terraço algo que, servido sobre o prato, pudesse rivalizar em atenção com o cenário externo. E o restaurante, ainda que sem mexer muito na proposta de inspiração italiana, bem que vem tentando algumas mudanças ao longo dos anos. Chefs, por exemplo, foram vários. No momento, quem comanda a cozinha é Pasquale Mancini, nascido na Toscana - em São Paulo, ele passou pelo Nico Pasta & Basta. Segundo a casa, ele vem refazendo os itens que já compunham o cardápio e, gradualmente, está propondo outros novos. O Terraço Itália continua caro, com preços que embutem sua condição, digamos, de atração turística. O menu do meio-dia custa R$ 70. No jantar, há uma degustação por R$ 162. À la carte, também à noite, massas e carnes custam de R$ 80 e R$ 100 (frutos do mar, até acima). Porém, na média, melhorou, em comparação ao que se fazia nos últimos tempos - inclusive nos pães e nos grissini do couvert (salgados R$ 24, no jantar) -, embora com muitas ressalvas. Há, para o almoço, boas pedidas como o vitelo tonnato e um razoável espaguete à carbonara. E também coisas não tão bem executadas, como os peixes (o bacalhau confitado, por exemplo, chegou à mesa muito fibroso). À noite, o menu destaca opções como berinjela à parmigiana; tortino de batata; rigatoni cacio e pepe (uma variante do clássico romano à base de pecorino e pimenta-do-reino, cuja versão mais tradicional é feita com espaguete); e brasato de javali com polenta - uma receita que, pelo longo cozimento, deveria resultar numa carne mais tenra e não tão seca. O serviço, por fim, merece um parágrafo à parte. Oscila entre a formalidade estudada dos funcionários com mais tempo de casa e uma certa confusão dos mais novos. Numa das visitas, questionado sobre o que seria o pappardelle do chef, o garçom definiu como "uma massa larga como esta faca aqui, ó". Certo, mas o que seria o pappardelle "do chef"? "É uma massa que ele faz do jeito dele." Ok, e como seria o jeito dele? Aí ele precisou se informar. E é com molho de tomate. Mas uma coisa é padronizada: o empenho na venda de água, já que todos querem encher, a toda hora. Durante um jantar, tive de avisar três vezes que eu mesmo me serviria. Não foi suficiente. Dei uma bobeada, um outro garçom apareceu quase do nada e pumba!, esvaziou a garrafa. "Mais uma senhor?". Eu recusei. E, só de birra, aquele copo durou até o fim da noite. Por que este restaurante? Porque está com chef novo. Vale? Os pratos continuam a ser coadjuvantes da vista. No almoço, a conta fica por volta de R$ 100. À noite, é fácil gastar R$ 200 por cabeça. Não vale. Terraço Itália Av. Ipiranga, 344, 41º andar, Centro, 2189-2929.

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