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Ristorante, trattoria, cantina?

Publicado no Paladar de 28/7/2011

A Itália que a cozinha paulistana inventou é algo que me intriga. Em alguns poucos casos, ela se inspira no país real, onde comida é mais fresca e sutil do que se supõe - dependendo, claro, da região. Em outros, se comporta como algo bem particular de São Paulo, fruto do cotejo da memória dos imigrantes com o que havia de ingredientes locais. Mas me chama mais a atenção o tipo de restauração que se criou aqui. Ele mistura preço de ristorante, menu de trattoria e, muitas vezes, comida cantineira. Uma salada estilística que põe na mesma panela formalidade e informalidade, pretensão e despretensão. A bem da verdade, parece que muitas casas novas já nem buscam mais suas referências na cucina original. De anos para cá, elas se propuseram a emular o estilo de restaurantes como o Gero. E, mais recentemente, o Due Cuochi. A inspiração, portanto, vem mais da busca por um modelo de sucesso - o que é legítimo - do que da gastronomia. É nesse contexto que estou tentando inserir o Santovino, que abriu há um mês na Al. Lorena, no ponto da Tabacaria Davidoff. Lamento entrar no tema principal só no meio do texto. Mas digamos que foi uma conversa de fila de espera. Agora sim, vamos para a mesa. O cardápio da chef Soraia Barros (que trabalhou no Due Cuochi e no Pomodori) parece descomplicado, sem iguarias nem pratos rebuscados. Vários petiscos e entradas, massas secas e frescas, alguns peixes e carnes. Só que os preços lembram os da alta gastronomia, já que estamos falando de pratos simples. Já o ambiente parece, digamos, à vontade, com uma bonita varanda na frente e um salão arejado. Mas não é bem isso. Pedi água, uma entrada e escolhi um vinho. O garçom anotou só os dois primeiros itens e disse: "O vinho, precisa pedir para a sommelière". "Eu já decidi, é só anotar", respondi. "Mas é só com ela." E eu segui a cartilha, esperei a sommelière. Assim sendo: é formal ou informal? Por que a convenção? Contudo, fiquei mais incomodado é com o peso da comida. Começando pelo couvert (R$ 15 no jantar, R$ 9 no almoço), com pão de linguiça e antepastos. E seguindo por entradas como o riso al salto (R$ 23, na verdade, quase um arancini com ragu de cogumelos), ou a berinjela all?inferno (R$ 19, com alicella). E se confirmando em pratos como o nhoque ao molho de tomate (R$ 42) e paleta de leitão com mandioca rústica (R$ 52). No geral, condimentos fortes, desbalanceados, excessivos. Uma confusão entre o saboroso e o apenas potente que, reforçado pela animação ruidosa das mesas ao redor, me fez lembrar dos restaurantes italianos populares de outras épocas. E parafrasear um certo ditado: você tira o paulistano da cantina, mas não tira a cantina do paulistano. Será que é isso, agora num panorama de economia mais pujante, num bairro muito mais afluente? Mas o que me deu esperança foi o robalo com legumes grelhados (R$ 58) provado em outra visita. Um peixe bem feito, úmido, um prato gostoso, enfim. E uma surpresa, a bomba tiramisù (R$ 15), um éclair recheado com mascarpone e um toque de café e chocolate. Prova de que a questão não é a mistura, a invenção. É só tentar cozinhar bem.  Por que este restaurante? Porque é uma novidade. Vale? Enquanto não vigora o menu executivo (R$ 45, prometido para agosto), a refeição completa sai, por baixo, R$ 120 / cabeça, sem vinho. Não entrega o que cobra. Santovino - Al. Lorena, 1.821, Jardim Paulista tel. 3061-9787

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